Artistas e conjuntos de renome mundial pedem à Cites que mantenha o pau-brasil na categoria atual de proteção, alertando para graves impactos na atividade da música clássica e na fabricação de arcos
Um grupo formado por centenas de músicos, regentes e grupos de câmara de todo mundo divulgou uma petição pedindo aos países-membros da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (Cites, na sigla em inglês) que rejeitem a proposta do governo brasileiro de reclassificar o pau-brasil para o Anexo I da entidade. A nova classificação levaria à restrição do comércio internacional do pau-brasil, inclusive de produtos acabados como arcos – a madeira é considerada essencial para a confecção dos arcos dos instrumentos de cordas. O assunto foi reportagem de capa da edição de setembro da Revista CONCERTO, “A batalha do pau-brasil” (clique aqui para acessar – exclusivo para assinantes).
Entre os mais de 350 signatários da petição (clique aqui para acessar a petição) estão nomes como Renaud e Gautier Capuçon, Janine Jansen, Gidon Kremer, Susanna Mälkki, Klaus Mäkelä, Augustin Hadelich, Emmanuel Pahud, Mischa Maisky, Sol Gabetta, Antoine Tamestit, Augustin Dumay, além de quartetos como o Belcea, Chiaroscuro, Debussy e Ébène (clique aqui para acessar a lista). O texto pede aos 184 países signatários da Cites que mantenham o pau-brasil no Anexo II, posição aprovada na conferência anterior, em 2022.
A reclassificação proposta pelo governo brasileiro por meio do Ibama será votada na 20ª Conferência das Partes da Cites (COP20), que ocorre entre 24 de novembro e 5 de dezembro, no Uzbequistão. Caso seja aprovada, a nova regra proibirá quase todo o comércio internacional da espécie – inclusive de arcos prontos – e exigirá licenças específicas para músicos que viajam com seus instrumentos, o que pode criar barreiras logísticas complicadas para turnês e apresentações no exterior.
Os artistas argumentam que a medida, caso aprovada, traria consequências graves para a vida musical mundial. “Centenas de milhares de arcos de pau-brasil estão em uso desde o século XVIII”, apontam os signatários, “e restringir sua circulação significaria comprometer a qualidade e a autenticidade das performances.”
A petição também alerta para o risco de extinção da profissão de archetiers, os artesãos especializados na confecção de arcos, que ficariam sem acesso à matéria-prima indispensável ao seu ofício. Segundo o texto, a proibição não contribuiria efetivamente para a conservação da espécie, já que o setor musical utiliza quantidades mínimas de madeira e participa de projetos de reflorestamento e manejo sustentável há mais de duas décadas no Brasil.
Os músicos defendem que o pau-brasil continue listado no Apêndice II, conforme decisão da COP 2022, que já exige certificados de exportação para a madeira e para arcos fabricados no país. Eles também pedem atenção à situação do African blackwood (grenadilha africana), usado na fabricação de instrumentos de sopro, propondo quotas específicas e controladas para seu comércio internacional, a fim de evitar a extinção da espécie.
O manifesto ressalta ainda que a proteção ambiental e preservação da vida musical são objetivos compatíveis.
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