Claudia Toni é especialista em políticas públicas para a cultura e assessora da Reitoria da Universidade de São Paulo.
“Há um ano, cogitei que pudéssemos ter saudade de 2019. E, de fato, este não foi um ano bom. Avassaladora, a pandemia viu a maioria de nossas instituições musicais darem as costas aos que pouco ou nada têm. Ainda que Guri Santa Marcelina e Instituto Baccarelli precisassem apoiar com cestas básicas seus alunos, não houve mobilização de assinantes, público e artistas para campanhas de doação nas organizações musicais de renome. Trancaram seus cofres cheios de dinheiro público e do arrecadado com ingressos e distribuíram música requentada no Youtube. No Hospital Emilio Ribas, tocavam para os profissionais da saúde, em forma de serenata, os músicos da PM, mas nunca os de nossos conjuntos, cujos salários não foram cortados. Foram meses sem empatia e engajamento.
Além das iniciativas dos artistas que saíram em busca de espaço para falar de racismo, ninguém mais se moveu, talvez porque solistas, compositores e regentes negros apareçam com frequência nas programações de nossas instituições...
A esperança veio da juventude, do Rio Grande do Norte e de Minas Gerais. O Festival Ilumina mandou dez jovens músicos com bolsa estudarem na Áustria, Alemanha, Finlândia e Bélgica. Como nossas orquestras não se mobilizaram, o Equal Music, criado por Jeniffer Stumm, arregimentou 204 professores (47 brasileiros) para darem aulas virtuais a 226 alunos (169 brasileiros). Flavio Gabriel e seus companheiros da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com a ajuda de centenas de músicos, puseram em pé o Fimuca, que só custou senso de oportunidade, solidariedade e empatia. Já a Filarmônica de Minas mostrou seu compromisso com a sociedade: sua sala agora transmite música para o mundo, pois ela sabe seu papel na crise e fora dela.
As micro-óperas da Orquestra de Santo André e a extraordinária L’enfant et les sortiléges, da London Philharmonic + VOpera, nos provaram que é possível fazer muito com bem pouco. Tomara 2021 nos traga boas surpresas!”
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