Retrospectiva 2020: Irineu Franco Perpetuo

Irineu Franco Perpetuo, jornalista e tradutor

Naomi Munakata. Martinho Lutero. Iacov Hillel. Rosana Martins. Jamary Oliveira. Lúcia Camargo. Benito Juarez. Margarita Chtereva. Eladio Pérez-Gonzalez. Josette Feres. Jean-Noël Saghaard. Zuza Homem de Mello. Rafael Andrade. Luiz Senise. Pedro Kranz. Esta enumeração (longe de ser completa) das devastadoras perdas sofridas pelo meio musical não deixa margem a contestação: 2020 foi um annus horribilis. Em vez de arrefecer, a escalada contra a música, as artes, a cultura e o saber recrudesceu, e atingiu também a ciência. Na terra do negacionismo e da cloroquina, a classe artística descobriu sua fragilidade, e viu-se desamparada em meio ao “salve-se quem puder” generalizado. Preocupadas com a própria sobrevivência, as instituições reagiram à inesperada catástrofe da pandemia com graus bastante variados de rapidez e eficiência. No novo mundo do “streaming”, por exemplo, se a Osesp teve um desempenho indigno de seu renome, a Filarmônica de Minas Gerais e a Sala Cecília Meireles deram aulas de qualidade e profissionalismo. Em Santo André, o maestro Abel Rocha mostrou, pela enésima vez em sua carreira, uma criatividade capaz de superar gargalos orçamentários e de infraestrutura, com inteligentes projetos criados especialmente para a nova situação. Impossível não se comover, ainda, com a iniciativa do Instituto Baccarelli, de ajuda aos moradores da comunidade de Heliópolis no enfrentamento da pandemia; e a Lírica Solidária evidenciou uma louvável qualidade de mobilização de nossos cantores. Seria belo imaginar que o pior já passou para todos nós, mas o cenário atual desautoriza e desmente qualquer tipo de otimismo. Se 2021 for igual a 2020, quantos de nós aguentarão?