Orquestra Jovem do Estado abre temporada com programa Floresta do Amazonas

por Nelson Rubens Kunze 23/02/2022

Dirigida pela maestra convidada Simone Menezes, apresentação contou com ótimos solos de Camila Titinger; projeção de fotos de Sebastião Salgado foi adiada

Como toca bem a Orquestra Jovem do Estado! Mas, claro, não é obra do acaso, assim como se fosse geração espontânea. São anos de construção de um projeto orquestral aliado ao estudo musical na Emesp, com critério pedagógico e ambição artística. E com grandes profissionais envolvidos, a começar pelo maestro Cláudio Cruz, o regente titular. Leitores da Revista CONCERTO vão se lembrar de dois CDs da série “Música de CONCERTO”, gravados pela Orquestra Jovem do Estado, ambos sob direção de Cláudio Cruz: um, de 2016, com o Concerto para violoncelo nº 1 de Shostakovich (interpretado por Antonio Meneses), a Suíte Pernambucana de Guerra-Peixe e o Choros 6 de Villa-Lobos, e outro, de 2019, com a Sinfonia nº 5 de Gustav Mahler. Repertório de gente grande. Não são muitos os conjuntos brasileiros que alcançam esse nível artístico.

Pois no último domingo, a Orquestra Jovem apresentou na Sala São Paulo o programa Floresta do Amazonas, sob direção da maestra convidada Simone Menezes. Trata-se de um espetáculo concebido por Simone, que ela já apresentou em algumas cidades da Europa. O repertório tem Villa-Lobos, com o Prelúdio da Bachiana nº 4 e uma seleção de trechos da suíte Floresta do Amazonas, e Phillip Glass, com a Metamorphosis I de sua obra Águas do Amazonas, no arranjo de Charles Coleman. 

“Há quatro ou cinco anos, propus ao diretor da Philharmonie de Paris um projeto em torno de Villa-Lobos”, contou Simone Menezes em entrevista publicada na edição de janeiro-fevereiro da Revista CONCERTO. “O tempo passou e ele então me ligou, pedindo para formatar o espetáculo, com música e imagens de Sebastião Salgado sobre a Amazônia. Foi um grande trabalho, pois queria que as fotos respirassem com a música, que a mudança de imagens acompanhasse a partitura.” Infelizmente, em razão da pandemia, a projeção das fotos de Sebastião Salgado acabou cancelada. Conforme a Santa Marcelina Cultura, o espetáculo completo, com as projeções, deverá ser remarcado ainda para este primeiro semestre.

Seja como for, a orquestra e a música estavam lá e foi um belo concerto. Simone Menezes tem gestos largos, uma direção clara e assertiva, e está em casa na música do século XX. E assim extraiu um inspirado som das cordas da orquestra em uma leitura quase romântica do Prelúdio da Bachiana 4, com bonitos solos de Vinicius Abad que, como vim a saber, estreava na posição de spalla.

Seguiu-se a peça de Glass. Escrita na década de 1990 como trilha de balé para o grupo Corpo de Minas Gerais, quando foi interpretada com os instrumentos do Grupo Uakti, Águas do Amazonas ganhou uma versão orquestral em 2017 feita pelo compositor Charles Coleman. Dela, a orquestra apresentou o movimento intitulado Metamorphosis I. Rica em ritmos e cores, em que se reconhece a assinatura minimalista de Glass, a obra recebeu uma interpretação muito convincente.

Floresta do Amazonas, de Villa-Lobos, normalmente fica um pouco perdida em meio à vasta obra do compositor. É uma de suas últimas criações, com a marca da exuberância do mestre (combinando talvez com a exuberância da própria Amazônia – ou do que resta dela...). Composta originalmente como trilha sonora para o filme Green Mansions, de Mel Ferrer, protagonizado por Audrey Hepburn (MGM, 1959), a partitura foi depois revista por Villa-Lobos, resultando em uma suíte, para orquestra sinfônica, coro masculino e soprano. Se é difícil classificá-la em termos formais – ela é uma grande fantasia vocal-sinfônica –, a seleção de movimentos feita para este concerto, sem trechos corais, apresentou um resultado bem coerente.

Também aqui a orquestra demonstrou vigor, sob a atenta direção de Simone, em uma emocionante leitura. O grande diferencial foi a ótima intervenção solo da soprano Camila Titinger. Não é surpresa, Camila vem desenvolvendo uma carreira singular. No concerto de domingo, a jovem artista exibiu rica paleta de timbres e apurada técnica, mescladas a sua natural musicalidade. Um show!

O concerto marcou a abertura da temporada 2022 da Orquestra Jovem do Estado e contou com um numeroso público na Sala São Paulo. 

Clique aqui para conhecer a temporada completa da Orquestra Jovem do Estado.

Clique aqui para ler o texto “A grande cartada de Simone Menezes”, por João Marcos Coelho

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Orquestra Jovem do Estado na Sala São Paulo (Revista CONCERTO)
Orquestra Jovem do Estado na Sala São Paulo (Revista CONCERTO)

 

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