Quaternaglia 30 anos

por Nelson Rubens Kunze 31/05/2022

Em concerto com a GRU Sinfônica na Sala São Paulo, quarteto de violões lança novo álbum com obras de Sérgio Molina

Quem esteve na Sala São Paulo na manhã do último sábado, dia 28 de maio, saiu feliz. Pois foi muito bom o concerto da Sinfônica de Guarulhos (GRU Sinfônica) sob direção do maestro Emiliano Patarra, com o pianista Rogério Zaghi e o quarteto de violões Quaternaglia interpretando obras de André Mehmari e Sérgio Molina.

A apresentação, gratuita, e que fez parte da série dos Concertos Matinais da Sala São Paulo, teve o lançamento do novo álbum, Down the Black River, com composições de Sérgio Molina, e comemorou os 30 anos do Quaternaglia. Isso mesmo, 30 anos! São raros os conjuntos de câmara no Brasil que tenham alcançado essa longevidade, e mais, sem interrupção nas atividades. É verdade que houve alterações na composição de seus membros – apenas Sidney Molina pertence à formação original, de 1992. Fabio Ramazzina entrou para o grupo dois anos depois, em 1994. A formação atual, que tem ainda Chrystian Dozza e Thiago Abdala, já conta 12 anos. 

Em sua trajetória artística, o Quaternaglia também se notabilizou por projetos sempre novos e diferentes, o que demonstra a sua rica discografia, que vai de registros da música antiga arranjada para quarteto de violões, passa por gravações de peças de Leo Brouwer, Astor Piazzolla, Villa-Lobos, Almeida Prado, Egberto Gismonti ou Paulo Belinattti, para citar apenas alguns, até alcançar esse projeto atual, dedicado a obras do compositor Sérgio Molina. E nem falei ainda do senso de conjunto e do apuro técnico dos quatro instrumentistas...

No concerto da Sala São Paulo, o Quaternaglia apresentou justamente duas obras do paulista Sérgio Molina: Down the Black River – que dá nome ao novo álbum - e Song of the Universal, ambas com a participação de Rogério Zaghi como solista ao piano. As obras têm nomes em inglês e contemplam o piano pois foram compostas por encomenda para apresentações do Quaternaglia no Festival Hill em Round Top, no Texas, Estados Unidos, a pedido do pianista norte-americano James Dick (a quem as obras também são dedicadas), que é o criador do evento.

Em movimento único de cerca de 11 minutos, Down the Black River, composta em 2008, é escrita para quarteto de violões, piano e orquestra de cordas. Notas longas da orquestra criam uma atmosfera de mistério e suspense com passagens quase meditativas, e servem de pano de fundo para diálogos sensíveis entre o piano e os violões. A música progride até alcançar um clímax ritmado para então retornar para uma atmosfera onírica e de serenidade.

Song of the Universal, de 2018, com cerca de 20 minutos e baseada em poema de Walt Whitman, foi composta originalmente para quarteto de violões e piano (e é assim que está gravada no novo álbum). Para as apresentações com a Sinfônica de Guarulhos, contudo, Sérgio Molina escreveu uma nova versão com o acompanhamento de uma orquestra sinfônica completa (clique aqui para ler mais). Essa versão abre em espírito romântico com uma ampla melodia orquestral – a obra faz citações de Beethoven e Mahler. A peça alterna passagens líricas com trechos mais motívicos e ritmados – também aqui se ouve uma aproximação da escrita com o universo da música popular. [O álbum Down the Black River, disponível nas plataformas digitais (clique aqui para ouvir no Spotify), ainda contém The Journey of the Weary Souls a o Quintet for Another Time, em três movimentos, ambas também de Sérgio Molina.]

O concerto de sábado foi aberto com uma obra de outro compositor paulista, André Mehmari. Fantasia Zéfiro, para orquestra sinfônica, tem cerca de 10 minutos de duração, e é fruto de uma encomenda que a Sinfônica de Guarulhos fez ao compositor por ocasião dos 460 anos da cidade, em 2020. Mehmari se inspirou nos ventos de Guarulhos, com uma escrita bastante desenvolvida para os instrumentos de sopro da orquestra.

Para além da conhecida competência do Quaternaglia e das composições de Mehmari e Molina, o concerto também demonstrou a qualidade alcançada pela GRU Sinfônica, a orquestra de Guarulhos. Liderada pelo seu maestro titular Emiliano Patarra, a sinfônica faz parte de um programa educacional e cultural da cidade de Guarulhos, que compreende a música clássica dentro de uma proposta mais ampla, em que a missão da difusão da música clássica e da ópera se funde a um projeto de educação musical nas escolas. Além da GRU Sinfônica, a cidade mantém um conservatório e a Orquestra Sinfônica Jovem de Guarulhos e promove uma regular temporada de concertos e óperas. 

Leia também
Revista CONCERTO 
Trinta anos de quarteto – entrevista com o violonista Sidney Molina, por Luciana Medeiros
Notícias GRU Sinfônica e Quaternaglia estreiam peça de Sergio Molina baseada em Walt Whitmann
Notícias Orquestras de Guarulhos ganham nova sede em teatro histórico
Notícias ‘Aida’ estreia no Theatro Municipal de São Paulo e reflete sobre o absurdo da guerra 
Notícias Netflix divulga primeiras imagens de filme sobre Leonard Bernstein

Concerto do Quaternaglia com a GRU Sinfônica na Sala São Paulo (Revista CONCERTO)
Concerto do Quaternaglia com a GRU Sinfônica na Sala São Paulo (Revista CONCERTO)

 

Curtir

Comentários

Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da Revista CONCERTO.

É preciso estar logado para comentar. Clique aqui para fazer seu login gratuito.