Luiz Fernando Malheiro: ‘Devo tudo ao maestro Colacioppo’

por Redação CONCERTO 14/02/2024

Por Luiz Fernando Malheiro*
 
Com profunda tristeza recebi a notícia da morte do Maestro Tullio Colacioppo.

Conheci o Maestro em 1981.
 
As temporadas líricas do Theatro Municipal de São Paulo eram executadas até 1980 por empresários privados. Em 1981, a Prefeitura de São Paulo criou o Projeto Pró Ópera, encabeçado pelo maestro Colacioppo, que reuniu uma equipe de pianistas e assistentes para realizar as óperas ao longo do ano e não mais concentradas em um ou dois meses, como até então.
 
Foi nesse ano que passei a integrar essa equipe. Apresentado a ele por Vicente Amato, durante ensaios finais de La Bohème, encontrei o maestro na sala de Francisco Giacchieri, diretor cenotécnico do teatro, com a minha redução de canto e piano da ópera nas mãos. O maestro me olhou desconfiado, pegou minha partitura e, folha por folha, foi anotando tudo que eu deveria fazer nos bastidores durante a execução da ópera. Fui para o palco e acho que fiz tudo direitinho, porque ele me confirmou no cargo.
 
Começava aí um período maravilhoso, que viria a mudar completamente a minha vida. O maestro me adotou como seu pupilo, me dava aulas de teoria musical (ele era preparadíssimo em teoria – sabia tudo) e me incentivava a estudar cada vez mais. Na regência propriamente dita, me transmitia tudo que havia aprendido com seus mestres, com destaque especial ao maestro Eleazar de Carvalho. Com ele aprendi a estudar e “marcar” partituras. Com ele aprendi a reger cantores e óperas.
 
Com o tempo, ele deixava a preparação dos elencos comigo enquanto viajava para reger óperas no exterior. Estados Unidos, Japão, Coréia e Itália foram alguns dos países onde ele trabalhou na época. Foram anos preciosos. La Bohème, Cavalleria Rusticana, Suor Angelica, Macbeth, ToscaTurandot foram alguns dos títulos trabalhados e apresentados naquele período.
 
Em 1983, uma das óperas programadas foi Werther. Durante uma das viagens dele, eu preparei os elencos e regi todos os ensaios de sala e de cena. Quando ele chegou e viu como estavam as coisas, virou para mim e disse que eu regeria uma das récitas.

Eu confesso que não acreditei, já que nunca havia estado à frente de uma orquestra na vida. Mas ele, com o apoio da Orquestra Sinfônica Municipal, me chamou para reger um ensaio e, no dia 8 de setembro, eu regi minha primeira ópera, selando definitivamente o meu futuro.
 
Devo tudo ao maestro Colacioppo. Eu me despeço do meu pai na música com tristeza, reconhecimento e muito agradecido.
 
*Luiz Fernando Malheiro é maestro, diretor artístico do Festival Amazonas de Ópera e regente titular da Amazonas Filarmônica

Leia também
Notícias 
Morre, aos 89 anos, o maestro Tullio Colacioppo
Notícias Em manutenção, Sala Cecília Meireles retorna com programação apenas em abril
Notícias Os aniversários do mundo musical em 2024 – e como as orquestras e teatros vão celebrá-los
Textos Em Dresden, com ‘Tristão e Isolda’, por Nelson Rubens Kunze

Maestro Tullio Colacioppo [Reprodução/YouTube]
Maestro Tullio Colacioppo [Reprodução/YouTube]

 

Curtir

Comentários

Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da Revista CONCERTO.

É preciso estar logado para comentar. Clique aqui para fazer seu login gratuito.