Bem-acabada produção da Uniopera é sucesso em teatro de shopping em São Paulo
Originalidade, bom gosto, fluência, bonitas vozes e muita diversão marcaram a ópera O barbeiro de Sevilha, de Rossini, produção da Uniopera apresentada em oito récitas no Teatro Bradesco, no Shopping Bourbon, em São Paulo. Com direção musical e regência de Luciano Camargo e direção cênica de Rodolfo Garcia Vázquez, a ópera foi apresentada pela Orquestra Acadêmica e Coral Cidade de São Paulo.
Compositor inspirado e prolífico, consta que o italiano Gioachino Rossini (1792-1868) teria composto O barbeiro de Sevilha em três semanas. Baseada em uma obra do dramaturgo francês Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais, encenada em Paris pela primeira vez em 1775, o Barbeiro de Rossini estreou em Roma, em 1816.
Mais de duzentos anos depois, O barbeiro de Sevilha animou e divertiu o público paulistano que compareceu ao Teatro Bradesco. Vázquez, diretor da companhia de teatro “Os Satyros” que já dirigiu outras encenações da Uniopera, fez do Barbeiro de Sevilha uma brincadeira de meninas com uma casa de bonecas. Logo na abertura instrumental da ópera, ainda com as cortinas fechadas, oito crianças vestidas de branco sobem ao proscênio brincando com bonecos de pano, que são os personagens da ópera: Figaro, Rosina, Conde de Almaviva e Bartolo. Quando abrem as cortinas, vemos um colorido cenário, de objetos recortados e figuras geométricas, no qual se destaca uma casa de bonecas (cenários de Priscila Soares). Os bonecos de pano agora são os atores, que ainda estão imóveis. Mas as meninas vão até eles e com uma grande chave dão corda nas figuras, que então começam a se mover e cantar. Os criativos figurinos desenhados por Amanda Pilla B., que são também coloridos e evocam o espírito infantil, completam o quadro, iluminado com luzes claras que realçam as cores (iluminação de Guilherme Bonfanti).
Assisti à récita do domingo, dia 21 de abril, e foi ótimo o desempenho do elenco, que contou com Sebastião Teixeira (Figaro), Rafael Ribeiro (Conde de Almaviva), Marcela Vidra (Rosina), Marcio Marangon (Dr. Bartolo), Flavio Borges (Don Basilio), Gabriela Bueno (Berta) e Ronaldo Mariconi (Fiorello). No geral muito à vontade, o elenco se destacou pelo equilíbrio vocal e cênico. Era visível o prazer dos cantores ao atuarem, conferindo leveza e espontaneidade à engraçada história das trapalhadas amorosas em torno da graciosa Rosina.
E foi um prazer para o público também! O esperto Figaro foi interpretado com desenvoltura pelo consagrado e veterano barítono Sebastião Teixeira. O tenor Rafael Ribeiro, de voz leve e clara, fez ótimo par com a mezzo soprano Marcela Vidra, que, com a graça que a personagem exige, exibiu um lindo e afinado timbre vocal. E os dois baixos, Marcio Marangon e Flavio Borges, foram igualmente competentes e divertidos como tutor e professor de música.
Foi bem também a orquestra, conduzida com atenção pelo maestro Luciano Camargo, que soube trazer toda a verve jocosa da inspirada música de Rossini. A ópera como um todo teve uma ótima fluência, mantendo o bom público que compareceu ao Teatro Bradesco atento até o final da apresentação.
Com esta encenação, a Uniopera dá continuidade a seu inédito e bem-sucedido projeto de articular uma ação comunitária baseada no canto, a Associação Coral Cidade de São Paulo, com músicos e artistas profissionais, realizando eventos de qualidade para novos públicos. Em mais de 20 anos de atividades, mais de duas mil pessoas já participaram do coral e de seus cursos, oferecidos gratuitamente. Desde 2016, o projeto realiza, de forma independente, concertos sinfônicos e óperas.
Em setembro tem mais música clássica no Teatro Bradesco do Shopping Bourbon, quando a Orquestra Acadêmica, o Coral da Cidade de São Paulo e solistas, sob direção de Camargo, apresentarão a Nona sinfonia de Beethoven.
Parabéns à Uniopera e ao maestro Luciano Camargo, apostando na ópera e na música clássica e difundindo-as para novos públicos!
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