RIO DE JANEIRO – Ouvir uma jovem e promissora voz é sempre uma experiência especial para o amante da ópera. Se são três, então, em uma mesma ida teatro, a experiência é realmente marcante. E foi o que aconteceu na tarde do último domingo, dia 21, na segunda récita da montagem de O elixir do amor, de Donizetti, que abriu a temporada lírica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
A soprano Carolina Morel (Adina), o tenor Guilherme Moreira (Nemorino) e o barítono Santiago Villalba (Belcore) realizaram uma récita impecável. Nos três há o senso de estilo particular do bel canto, com a voz, mesmo nos momentos de maior expansão, que exigem recursos de coloratura, sempre a serviço do teatro.
E cada um, individualmente, possui qualidades a serem destacadas. Carolina Morel tem um timbre muito bonito em todas as regiões, uma voz que corre fácil, enche o teatro, com uma delicadeza que ela preenche com cores escuras quando necessário. Guilherme Moreira é um achado: muito musical, construindo as frases com uma atenção sofisticada e expressiva ao legato. E Santiago Vilalba tem presença forte no palco, uma voz sólida, bem colocada, que ele sabe usar de maneira inteligente para construir o cômico às vezes involuntário de Belcore.
Cenicamente, os três estiveram muito bem. E, aqui, ponto para a direção cênica de Menelick de Carvalho, que aposta em recursos simples, e faz rir com poucos elementos, recusando o histrionismo – mesmo em um papel como Dulcamara, que se presta ao exagero, o baixo Murilo Neves soube encontrar um equilíbrio notável entre o absurdo e o rasteiro do velho enganador.
Mas a espinha dorsal do espetáculo está nos cenários e figurinos de Desirée Bastos. Os painéis pintados oferecem representação visual para a inocência com que é narrada a história, em diálogo com os figurinos (que ela também assina) e com a iluminação de Paulo Ornellas – o modo como eles exploram a paleta de cores dá dimensões especiais a diferentes momentos do espetáculo.
Não parece haver dúvida de que os contratos provisórios de dois anos que permitiram ao teatro preencher os quadros de sua orquestra sinfônica tornaram o grupo mais vivo e expressivo. É verdade que, em alguns momentos, em especial nas cenas de conjunto, a regência de Felipe Prazeres e uma interpretação pouco nuançada do coro tornaram inaudíveis os cantores solistas, o que nesse repertório é particularmente problemático. Mas, em geral, os músicos colaboram para uma leitura fluida, dinâmica, teatral.
Uma última observação. Na cena em que Adina e Nemorino, depois de tantas idas e vindas, enfim ficam juntos (interpretada como enorme delicadeza, diga-se), o teatro veio abaixo, com aplausos, sorrisos e gritos de satisfação em cena aberta. Críticos criticam, é para isso que servem. Mas não há elogio maior do que conseguir do público tal envolvimento com o destino das personagens.
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