Escrito por André Cardoso, publicação conta dos primórdios do Conservatório que virou o Instituto Nacional de Música e depois a Escola de Música da UFRJ
Foi lançado no fim do ano passado o livro Orquestra Sinfônica da UFRJ 100 anos – 1924-2024. Escrito pelo maestro e musicólogo André Cardoso, professor na UFRJ e atual regente da orquestra, a edição é caprichada – capa dura, formato grande e mais de 300 páginas ricamente ilustradas. A publicação é um valioso e interessante registro histórico da música brasileira desde meados do século XIX.
“A história da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro tem como marco inicial de sua fundação a solenidade ocorrida no dia 13 de agosto de 1848 no então Museu Nacional, um prédio na atual Praça da República (Campo de Santana), na região central do Rio de Janeiro, que abrigou também o Arquivo Nacional”, escreve Cardoso no início do segundo capítulo. Sim, pois se a orquestra formalmente completou 100 anos em 2024, a sua gênese remonta aos primórdios da Escola de Música.
O livro fala da criação do Conservatório em 1848 e lembra dos espaços musicais do Rio de Janeiro e de artistas de então, como Francisco Manoel da Silva, Carlos Gomes, Henrique Alves de Mesquita, Joaquim da Silva Callado, Vincenzo Cernicchiaro e Paulo Augusto Duque-Estrada Meyer, entre outros. Cardoso descreve o processo de institucionalização do ensino musical até a criação do Instituto Nacional de Música (INM) em 1890, após a Proclamação da República.
Os músicos que orbitavam o INM nas primeiras décadas do século XX são compositores como Leopoldo Miguéz, Alberto Nepomuceno, Lorenzo Fernandes e Henrique Oswald e artistas como Francisco Braga, Francisco Chiaffitelli, Paulina D’Ambrosio, Yolanda Machado Peixoto, Mariuccia Iacovino, Ilara e Iberê Gomes Grosso.
Em 1913, o INM é transferido para o prédio da Rua do Passeio e em 1922 é inaugurada a sua sala de concerto, o atual Salão Leopoldo Miguéz. “A cerimônia de inauguração contou com a presença de autoridades do governo e com uma programação musical em que a orquestra do INM foi dirigida pelo maestro Francisco Braga,” relata Cardoso, que reproduz no livro a foto do evento (veja abaixo).
Finalmente, em 1924, foi criado o primeiro conjunto orquestral permanente do Instituto Nacional de Música, cuja estreia se deu no dia 25 de setembro, na sala de concertos (o atual Salão Leopoldo Miguéz), sob regência do professor Ernesto Ronchini, e na presença do presidente da República, Arthur Bernardes. Era assim oficializado o marco zero da atual Orquestra Sinfônica da UFRJ, que paralelamente a suas funções artísticas e a seu papel de veículo para a divulgação e promoção de obras de compositores brasileiros, sempre esteve também voltada à área acadêmica, para a formação de novos profissionais de orquestra.
A partir daí, Cardoso conta a história dos 100 anos do grupo, sempre apoiado em ampla pesquisa bibliográfica e na consulta a periódicos da época, em acervos como o da Biblioteca Alberto Nepomuceno da Escola da Música da UFRJ. O livro recupera diversos episódios vivenciados pela orquestra em sua trajetória, acompanhados de documentos e imagens.
Um dos períodos retratados, por exemplo, apresenta a atribulada gestão de Joanídia Sodré como diretora da Escola de Música, de 1946 a 1967, a mais longa de toda a história da instituição. “Joanídia foi figura polêmica e controversa. Nascida em Porto Alegre, veio com a família para o Rio de Janeiro aos 4 anos, onde se tornou aluna de piano de Alberto Nepomuceno. No INM foi aluna de Henrique Oswald e Francisco Braga, concluindo o curso em 1924”, escreve Cardoso. Após vencer um prêmio de composição com sua ópera Casa forte em um concurso cercado por polêmicas, Joanídia é contemplada com uma bolsa de estudos para a Escola de Música de Berlim, na Alemanha, onde estuda regência e tem a oportunidade de reger a Orquestra Filarmônica de Berlim. De volta ao Brasil, Joanídia desenvolveu intensa atividade artística e administrativa. Como o livro aponta, um dos momentos críticos de sua gestão foi o de sua reeleição em 1954, considerada fraudulenta. O embate opôs Joanídia a Villa-Lobos e rachou a comunidade musical do Rio de Janeiro.
O capítulo 12 do livro, o último, apresenta os professores de conjunto instrumental, prática de orquestra e regência que contribuíram com a orquestra: Ernesto Ronchini (1863-1931), Humberto Milano (1878-1933), Francisco Braga (1868-1945), Nicolino Milano (1876-1962), Walter Burle Marx (1902-1990), Francisco Mignone (1897-1986), Raphael Baptista (1909-1948), Else Baptista (1924-2017), Eleazar de Carvalho (1912-1996), Roberto Duarte (1941), Mário Matthiesen Monteiro (1933-2006), Ernani Aguiar (1950), André Cardoso (1964) e Marcelo Jardim (1973).
A publicação finaliza com a lista de 231 obras que tiveram a sua primeira audição feita pela Orquestra Sinfônica da UFRJ (são composições de autores como Henrique Oswald, Lorenzo Fernandez, Camargo Guarnieri, Guerra-Peixe, Claudio Santoro, Osvaldo Lacerda, Edino Krieger, Ernst Mahle, Marlos Nobre, Valéria Bonafé e Paulo Costa Lima, para citar alguns), a discografia da orquestra e a apresentação de seus instrumentistas atuais.
O livro Orquestra Sinfônica de UFRJ foi lançado pela Editora UFRJ e pode ser adquirido no site da universidade (clique aqui para acessar).
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