Sonia Rubinsky: Bach como você nunca ouviu

Em disco, poucos pianistas brasileiros demonstram versatilidade equiparável à campineira Sonia Rubinsky. Listando rapidamente, sem pretensões a esgotar o assunto: ela já registrou sonatas de Scarlatti, Mozart (para o Selo Clássicos), as Canções sem Palavras, de Mendelssohn. E, ao mesmo tempo, desfrutou de uma longa associação com o saudoso Almeida Prado (1943-2010), que lhe dedicou as Cartas Celestes XII, “Três Croquis de Israel”, 20 Flashes de Jerusalem e a alentada Sonata para violoncelo e piano. Não por acaso, Rubinsky lançará, na série Brasil em Concerto, do selo Naxos, uma gravação de três peças concertantes do compositor, ao lado da Filarmônica de Minas Gerais, regida por Fabio Mechetti.

Na mesma gravadora, ela fez um registro sólido e robusto da integral pianística de Villa-Lobos. E, agora, se debruça sobre o universo musical de um compositor que, nos últimos tempos, tem sido pouco visitado por pianistas brasileiros: Johann Sebastian Bach (1685-1750).

 

Bach faz parte da formação de praticamente todo mundo que se senta em um banquinho para tentar dominar o teclado, e historicamente houve gravações brasileiras memoráveis deste compositor – explorando o site do Instituto Piano Brasileiro, de Alexandre Dias, pude descobrir, por exemplo, o registro que Dulcemar Lafaille fez, em 1970, das Variações Goldberg.

Mais recentemente, contudo, nossos pianistas parecem algo intimidados em entregarem suas leituras bachianas ao microfone. Após a empreitada titânica de João Carlos Martins, e os apurados discos de Jean Louis Steuerman, só entrou em meu radar o álbum recente e isolado de Nelson Freire para a Decca. E, agora, felizmente, Sonia Rubinsky, depois do “bachiano brasileiro” Villa-Lobos, resolveu se dedicar ao mestre do Barroco germânico, com um álbum que nos provoca a ouvir Bach como nunca o fizemos.

Ouça o disco de Sonia Rubinsky no Spotify

Sonia Rubinsky [Divulgação / Isabela Senatore]
Sonia Rubinsky [Divulgação / Isabela Senatore]

Não que o pianismo de Rubinsky seja excêntrico ou intempestivo. Pelo contrário: em um disco dedicado ao cravista Nicolau de Figueiredo, e elaborado em colaboração com outra autoridade em música antiga, Edmundo Hora, ela demonstra sobriedade e bom gosto, trazendo todo refinamento que os ouvidos do século XXI exigem da interpretação da música do século XVIII.

O que é original e inaudito é o próprio projeto do álbum. Em Magna Sequentia I, em vez de tocar alguma suíte bachiana na íntegra, Rubinsky forma sua própria suíte, escolhendo movimentos de partitas, suítes francesas e das Variações Goldberg. Colcha de retalhos? A escuta contínua não soa assim, pois a pianista foi meticulosa na eleição da ordem das peças, construindo um arco que busca respeitar a relação tonal entre as partes e apresentar a variedade da escrita bachiana, em suas vertentes afrancesada, italianizante e germânica – uma colagem pós-moderna que renova o legado de Bach ao apresentá-lo de forma inovadora, porém respeitando escrupulosamente o texto musical.
A melhor notícia é que a série ainda terá mais dois volumes, a saírem em outubro: Magna Sequentia II, com vários movimentos de dança, e Magna Sequentia III, incluindo corais, trechos do Cravo Bem-Temperado e até uma transcrição da própria Rubinsky. Vou querer ouvi-los também!

Sonia Rubinsky apresenta-se no dia 17 no Festival Vermelhos na Ilhabela;
leia mais informações no Roteiro do Site CONCERTO.

Clique para ouvir o CD Magna Sequentiae I, que também está está disponível na Loja CLÁSSICOS.
 

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