A ópera de volta

por João Luiz Sampaio 01/04/2018

Espetáculos em Manaus, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte abrem neste mês a temporada lírica; diretores e maestros falam sobre os planos dos principais teatros do país

Não foi um ano fácil: temporadas fragmentadas, espetáculos cancelados, programações enxutas e problemas de gestão fizeram de 2017 um momento de hesitação. A crise econômica continua a cobrar seu preço, e alguns impasses institucionais se mantêm. Mas, com agendas anunciadas com antecedência e uma diversidade maior no repertório, a programação 2018 sugere um cenário um pouco diferente, em alguns casos com novos projetos se articulando – em um panorama diversificado no que diz respeito aos olhares sobre a importância do gênero.

No fim do mês, com uma nova produção de Fausto, de Gounod, tem início o XXI Festival Amazonas de Ópera. Depois de anos difíceis, com o cancelamento do evento em 2015 e a possibilidade de que ele se tornasse bienal, o festival dá sinais de recuperar sua velha forma. Serão cinco títulos: além de Fausto; Dessana, Dessana, do amazonense Adelson Santos (Otávio Simões/Matheus Sabbá); Florencia en el Amazonas, de Daniel Catán, coprodução com a Ópera de Bogotá (Luiz Fernando Malheiro/Pedro Salazar); KawahijenO vulcão azul, de João Guilherme Ripper, em parceria com o governo da Indonésia (Marcelo de Jesus/William Pereira); e Acis e Galatea, de Händel, do Laboratório de Ópera Barroca (Marcelo de Jesus/Julianna Santos).

“Não me parece lógico nem estimulante repetir os mesmos títulos considerados populares, ignorando um incontável número de obras desconhecidas no Brasil”, diz o diretor artístico do festival, Luiz Fernando Malheiro, defendendo a diversidade como uma das marcas da programação ao longo das últimas duas décadas. O maestro chama atenção também para a parceria com outras instituições, em especial latino-americanas, na esteira da defesa da Ópera Latino América, associação que reúne teatros do continente como caminho para uma maior presença do gênero. Ao mesmo tempo, a escolha de Fausto serve de homenagem aos 200 anos de Gounod e se alinha à busca de títulos que, mesmo conhecidos, não ganham montagem no país há décadas.

A direção cênica da montagem, que estreia no dia 28, é do diretor André Heller-Lopes, que pensou a ópera de Gounod baseada em Goethe à luz das transformações da segunda metade do século XIX. “Fausto fala de um homem em busca do momento ideal de beleza, de felicidade, de prazer. Essa busca do prazer como forma de imortalidade talvez seja o que muitos criticam na maneira como Gounod revisitou o herói de Goethe. No alemão, ele é mesmo mais filosófico e, talvez, profundo; no francês, tem algo de homem do século XIX, da loucura burguesa da Paris dos anos 1850, que me fascina. Há uma extravagância em Fausto, uma diversidade de cenas e meios que me faz viajar pela segunda metade do século XIX. Vejo o vitoriano quase neogótico, a Revolução Industrial, o ecletismo na arquitetura, a decadência dos cabarés”, explica. “Fausto se passa num ambiente marcado pela religião, pela arquitetura das igrejas góticas, pelos vitrais magníficos e suas cores mágicas. Assim como a Saint-Chapelle de Paris, encerrada em meio a uma fortaleza no coração da metrópole do século XIX, os personagens estão encarcerados em seus destinos, manipulados por Mefisto, que tem o dom de saber o que vai acontecer de ruim.”

Com Acis e Galatea, a agenda deste ano traz também a primeira incursão do festival na ópera barroca, repertório que Marcelo de Jesus vem trabalhando há alguns anos na temporada da Orquestra de Câmara do Amazonas. “Nós queríamos experimentar esse formato e nos pareceu o momento adequado”, explica o maestro, diretor artístico adjunto do festival. “Não é algo corriqueiro, exige cuidado, preparação musical. Estamos tratando esse trabalho como um laboratório, uma primeira experiência, com artistas importantes, como o cravista amazonense Átila de Paula, que se formou na Alemanha, participando do processo. Convidamos também o cineasta Sergio Andrade, que fez uma adaptação da história para a mitologia amazônica, e o resultado foi um trabalho muito sofisticado, que vai nos aproximar do público.”

COOPERAÇÃO
O repertório barroco, patinho feio das temporadas brasileiras, ganha presença inusitada – e auspiciosa – na programação. No Theatro São Pedro, será apresentada Alcina, de Händel. No Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Griselda, de Vivaldi, em parceria com a Orquestra Sinfônica Brasileira. Essa versão, em concerto, está programada para o segundo semestre, mas antes disso há um longo caminho a ser percorrido pelo teatro carioca. Após um ano marcado pelo atraso nos salários dos artistas da casa, o que teve impacto natural na programação, o Municipal anunciou dez espetáculos, incluindo Adriana Lecouvreur, de Cilea, West Side Story, de Bernstein, e A viúva alegre, de Franz Lehár (leia mais na página 35). Segundo o presidente da Fundação Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Fernando Bicudo, será preciso conseguir ainda verbas para que todo o programa seja realizado como planejado. “O problema do Municipal não era apenas os salários atrasados, o que, claro, foi resolvido, mas, sim, de resgate da dignidade. As pessoas precisam ser cuidadas. Se o teatro não tem esse capital humano, se não o valoriza, ele é só um prédio”, diz.

Os três primeiros espetáculos, no entanto, estão garantidos. E, no dia 27 de abril, estreia uma produção da ópera Um baile de máscaras, de Verdi, com o tenor Riccardo Massi encabeçando o elenco. A montagem vem da Ópera de Kiel, na Alemanha, e foi dirigida por Pier Francesco Maestrini, empossado no início do ano como diretor artístico de ópera no Municipal (ele, por sinal, havia ocupado posto parecido no Theatro Municipal de São Paulo no início da gestão do maestro John Neschling). “É muito interessante a concepção que ele desenvolveu”, diz Bicudo. “A ação dialoga com a linguagem cinematográfica. É como se o público fosse ver no palco um filme, mas um filme em 3-D, presencial, realmente fascinante. É um símbolo de como a tecnologia pode ajudar a contar uma história.” A regência é do maestro Tobias Volkmann e tem no elenco ainda Denise de Freitas e Rodolfo Giugliani, entre outros.

Um baile de máscaras, em nova produção com estreia em setembro, também será destaque do Festival do Theatro da Paz, em Belém. A ficha técnica do espetáculo ainda não foi anunciada, mas a programação, idealizada pelos diretores Mauro Wrona e Gilberto Chaves, vai incluir também uma versão encenada de A vida breve, do espanhol Manuel de Falla.

 

Maquete digital do cenário de La traviata que será encenada em Belo Horizonte e em São Paulo [Divulgação]
Maquete digital do cenário de La traviata que será encenada em Belo Horizonte e em São Paulo [Divulgação]
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POTENCIAL
Verdi segue bem representado nas temporadas brasileiras. Em abril, também abre a programação do Palácio das Artes de Belo Horizonte, com Silvio Viegas à frente da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e direção cênica de Jorge Takla para uma nova produção de La traviata. O diretor encenou a ópera pela primeira vez no Theatro Municipal de São Paulo, há 22 anos. “Eu me lembro da opção que fiz de ambientar a história à luz da década de 1920, com referências ao art decó”, ele conta. “Desta vez, preferi ir em outra direção. Quis recolocar a história no contexto original, o que é um desafio por si só, porque não se trata de pensar a ópera como peça de museu, mofada, mas de encontrar novos significados, indo além do amor trágico. Minha proposta é colocar a questão do empoderamento feminino, do desejo de Violeta e do preconceito com relação ao núcleo familiar, mas quis mostrar também a vontade dessa mulher de se encaixar em um padrão imposto pela sociedade. Tudo isso, espero, pode trazer a energia da época da estreia, o choque que ela provocou.”

Contou na escolha feita por Takla o fato de que a mesma produção abre, em maio, a temporada do Theatro Municipal de São Paulo. “A última La traviata encenada ali [em 2012] tinha um caráter sóbrio, seco, abria mão da magia, do sonho. Então, achei interessante tomar um caminho diferente, sempre tendo em mente que é preciso repensar o original de forma contundente.” Nesse processo, ele será auxiliado por um grande elenco: a soprano Jaquelina Livieri, o tenor Fernando Portari e o barítono Paulo Szot vivem Violeta, Alfredo e Germont em Belo Horizonte e em São Paulo, onde há também outros cantores, como o barítono Leonardo Neiva, se revezando nos papéis principais.

Em São Paulo, a regência será de Roberto Minczuk, titular da Orquestra Sinfônica Municipal. Ele também comanda as produções de O cavaleiro da rosa, de Richard Strauss (com direção de Pablo Maritano), e Turandot (com André Heller-Lopes) – a outra montagem do ano, Pelleás et Mélisande, de Debussy, será dirigida por Alessandro Sangiorgi e Iacov Hillel). “Quisemos reunir quatro óperas sob o tema do amor e do preconceito. São títulos diversos, ecléticos, duas óperas italianas, uma alemã e uma francesa”, diz Minczuk. Ele é membro do conselho artístico que montou a programação da casa, que desde setembro é gerida pelo Instituto Odeon, que faz, em 2018, sua primeira temporada completa para o teatro. “A ambição da temporada deste ano confirma que temos potencial de fazermos mais, e minha demanda junto a nossos administradores é essa. Nosso potencial é fazer o dobro, dez, doze óperas por ano, se houver condições financeiras para tanto”, diz Minczuk.

CONTEMPORANEIDADE
Será no mês que vem, em maio, a abertura da temporada do Theatro São Pedro, em São Paulo. Aqui, também a Santa Marcelina Cultura, que passou a gerir o espaço desde agosto, mostra sua primeira programação completa. “Contemplamos ideias mais contemporâneas na escolha do repertório e no modo de interpretá-lo. Fizemos uma ampla reflexão sobre aquilo que as obras podem sugerir para nossa experiência sensível hoje, tanto sob o aspecto da invenção musical quanto pelas possibilidades interpretativas. Há certo risco calculado de realizar títulos alternativos aos regularmente apresentados, mas fundamentais para a compreensão da importância da ópera como uma linguagem ainda moderna”, diz Paulo Zuben, diretor artístico-pedagógico.

A primeira produção será O matrimônio secreto, de Domenico Cimarosa, compositor que, no fim do século XVIII, ajudou a fazer a ponte entre a ópera do classicismo e o repertório romântico. A direção cênica será de Caetano Vilela, e a regência e a direção musical, de Valentina Peleggi, regente titular do Coro da Osesp e regente em residência da Osesp. Em seguida, estão programadas produções de Alcina, de Händel (Luis Otávio Santos/William Pereira), Kátia Kabanová, de Leos Janácek (Ira Levin/André Heller-Lopes), e Sonho de uma noite de verão, de Benjamin Britten (Cláudio Cruz/Jorge Takla).

Além da temporada profissional, o Theatro São Pedro terá ainda dois espetáculos em formato pocket e um concerto de gala, todos com cantores da Academia de Ópera do Theatro São Pedro e Orquestra Jovem do Theatro São Pedro. A atividade pedagógica, marca da Santa Marcelina Cultura, com seu trabalho à frente da Escola de Música do Estado de São Paulo, ainda não foi completamente estruturada, e uma parceria com a Juilliard School of Music, de Nova York, está sendo fechada. Internamente, no entanto, ela é tida como estratégica em um processo de busca de sentido para a ópera hoje. O Theatro São Pedro, nas palavras de Zuben, deve ser “um espaço fértil para o exercício da imaginação, com uma liberdade artística tão necessária em tempos que mais nos oprimem do que nos libertam.” 

AGENDA
XXI Festival Amazonas de Ópera, Teatro Amazonas, Manaus

Fausto, de Gounod (Luiz Fernando Malheiro/André Heller-Lopes). Dias 28 de abril e 4 e 6 de maio
Dessana, Dessana, de Adelson Santos (Otávio Simões/Matheus Sabbá). Dias 29 de abril e 3 e 5 de maio
Florencia en el Amazonas, de Daniel Catán (Luiz Fernando Malheiro/Pedro Salazar). Dias 12, 18 e 20 de maio
Kawahijen – O vulcão azul, de João Guilherme Ripper (Marcelo 
de Jesus/William Pereira). Dias 27, 31 de maio e 2 de junho
Acis e Galatea, de Händel. Laboratório de ópera barroca
 (Marcelo de Jesus/Julianna Santos). Dias 13, 17 e 19 de maio
Theatro Municipal do Rio de Janeiro
Um baile de máscaras, de Verdi (Tobias Volkmann/Pier Francesco Maestrini). Dias 27 e 29 de abril e 3, 4, 5 e 6 de maio
Palácio das Artes (Belo Horizonte)
La traviata, de Verdi (Silvio Viegas/Jorge Takla)
Dias 20, 22, 24, 26 e 28 de abril

 


 

Parcerias como saída possível

Três perguntas para Fernando Bicudo presidente da Fundação Theatro Municipal do Rio de Janeiro

Fernando Bicudo [Divulgação]
Fernando Bicudo [Divulgação]

Como foi a confecção da temporada para este ano?
De um lado, a comissão artística levou em consideração as demandas de cada um dos corpos estáveis do teatro. E buscamos parcerias. Um baile de máscaras vem da Ópera de Kiel; O juízo universal é um espetáculo do Festival de Cannes; Porgy and Bess vem de Belo Horizonte; West Side Story é uma coprodução com Claudio Botelho e Charles Möeller; A viúva alegre, com a produtora de Miguel Falabella e a OSB, com quem faremos também Griselda, de Vivaldi. Além disso, já tínhamos o material da ópera Sansão e Dalila, que ganhará versão em concerto, assim como Adriana Lecouvreur, trazendo de volta ao Brasil a soprano Aprile Millo.

O Theatro Municipal do Rio de Janeiro vem de um ano particularmente difícil. Como caminhar adiante?
O problema do Municipal não era apenas os salários atrasados, mas sim de resgate da dignidade. As pessoas precisam ser cuidadas. Se o teatro não tem esse capital humano, ele é só um prédio. Precisamos desse resgate no sentido da irmandade, da harmonia, do amor pelo teatro. E da busca por um público cada vez maior. A arte é para quem quer, não para quem pode. 

Como você definiria a importância da ópera?
É a mais completa das artes cênicas, unindo música, dança, canto, texto, artes plásticas. Quando dirigi o Orfeu aqui no teatro, usei laser, o que foi uma novidade. E é disso que se trata, de ampliar as possibilidades, como acontece com o Ballo, que é praticamente um filme em 3-D, no palco, presencial. A ópera nunca foi tão popular como hoje em todo mundo, amplificada pela televisão, pelo cinema. E é paradoxalmente a forma de arte mais indicada para brigar por espaço com o cinema e a TV. Além disso, o prazer do som acústico de uma voz bem colocada é indescritível, é quase um mantra que pode acalmar ou excitar.

 


 

Estímulo intelectual e força na economia

Três perguntas para Luiz Fernando Malheiro diretor artístico do Festival Amazonas de Ópera

Luiz Fernando Malheiro [Divulgação]
Luiz Fernando Malheiro [Divulgação]

Como você define a linha artística que pautou esta edição do festival?
Optamos por um título tradicional, Fausto, de Gounod, comemorando os 200 anos do compositor. Os outros títulos dão ênfase à produção latino-americana, inclusive com a encomenda de uma ópera para João Guilherme Ripper. O crescimento da atuação da OLA (Ópera Latino América) e a valorização dos artistas amazonenses, como o compositor Adelson Santos, autor da ópera Dessana, Dessana, também influenciaram a linha artística do evento.

A diversidade de repertório é uma das marcas do festival. Nesse sentido, quais são os próximos passos que você imagina para futuras edições?
Não me parece lógico nem estimulante repetir os mesmos títulos considerados “populares”, ignorando um incontável número de obras desconhecidas no Brasil. Temos que entender que 80% de nosso público é jovem, sensível e com um senso crítico cada vez mais desenvolvido. E a experiência aqui em Manaus já mostrou que, se oferecido com qualidade, todo tipo de repertório é bem aceito. Há ainda muito a explorar: obras de Meyerbeer, Glass, Verdi, Puccini, Strauss, Saariaho, Britten, Mignone, Rameau, Wagner, Mozart, Santoro, Zandonai…

A ópera no Brasil vive sob constantes ameaças. Tantas edições depois, que tipo de mensagem a respeito da importância do gênero o Festival Amazonas oferece?
O Amazonas, diferentemente dos outros estados, entendeu que a ópera não é um gênero caro destinado a uma elite endinheirada. Ao contrário. Além de ser um estímulo intelectual, cultural, espiritual para todo tipo de artistas e de público, a ópera é uma imensa geradora de empregos. Neste ano, o festival vai gerar 546 empregos diretos, isso sem contar turismo, hotelaria, restaurantes, e assim por diante.

 


 

Exercício da imaginação

Três perguntas para Paulo Zuben, diretor da Santa Marcelina Cultura, gestora do Theatro São Pedro, em São Paulo

Paulo Zuben [Divulgação / Heloisa Bortz]
Paulo Zuben [Divulgação / Heloisa Bortz]

Como você define a proposta da temporada do Theatro São Pedro?
Contemplamos ideias mais contemporâneas na escolha do repertório e no modo de interpretá-lo. Fizemos uma ampla reflexão sobre aquilo que as obras podem sugerir para nossa experiência sensível hoje, tanto sob o aspecto da invenção musical quanto pelas possibilidades interpretativas. Há certo risco calculado de realizar títulos alternativos aos regularmente apresentados, mas fundamentais para a compreensão da importância da ópera como uma linguagem ainda moderna. E o amplo espectro das obras vai permitir aos artistas um espaço fértil para o exercício da imaginação, uma liberdade artística tão necessária em tempos que mais nos oprimem do que nos libertam.

E como avalia a importância da ópera como gênero hoje?
A ópera só será relevante do ponto de vista artístico se os teatros se empenharem nas encomendas de obras para autores comprometidos com a invenção, pois uma linguagem só é necessária se estiver viva – e se o público for ampliado, com uma verdadeira democratização do acesso aos espetáculos, principalmente para jovens e pessoas de todas as classes sociais. Além disso, é preciso refletir sobre os aspectos de sustentabilidade dos processos de concepção e produção, fomentando a discussão entre os profissionais do setor sobre como melhorar a tecnologia de produção, armazenagem, reciclagem e reutilização de cenários e figurinos.

Que tipo de espetáculo você imagina para o teatro nos próximos anos?
Eu gostaria que os espetáculos do Theatro São Pedro proporcionassem experiências sensíveis que estimulassem a reflexão das pessoas sobre sua existência como indivíduos e como agentes de transformação do mundo e, sobretudo, sobre o valor da arte e da cultura em nossa vida.
 


 

Ópera como pilar de uma cultura

Três perguntas para Roberto Minczuk regente titular do Theatro Municipal de São Paulo

Roberto Minczuk [Divulgação]
Roberto Minczuk [Divulgação]

Como você define a proposta da temporada de óperas do Theatro Municipal?
Quisemos reunir quatro óperas sob o tema do amor e do preconceito. São títulos diversos, ecléticos, duas óperas italianas, uma alemã e uma francesa. Nós temos aqui como meta estabelecermos parcerias, como é o caso de La traviata, feita com o Palácio das Artes, com direção de Jorge Takla. Vamos encenar também O cavaleiro da rosa, uma ópera tão importante, pela primeira vez no Municipal, assim como Turandot, que foi feita pela última vez nos anos 1990. E estamos nos esforçando para remontar peças de nosso acervo, como é o caso de Pelleás et Mélisande. A ambição da temporada deste ano confirma que temos potencial de fazermos mais, e minha demanda junto a nossos administradores é essa. Nosso potencial é fazer o dobro, dez, doze óperas por. 

Como avalia a importância da ópera hoje?
A importância da ópera é das maiores. Ela sempre estará presente na sociedade, na cultura de todo país civilizado e de todas as pessoas. A ópera é uma das coisas que a vida tem de melhor, é sofisticada e acessível. Quanto mais você conhece, mais aprecia, basta saborear. Esse efeito se mantém, sempre. É um dos pilares da cultura. As óperas brasileiras têm tanto a ver com nossa cultura, retratam nossa história, nossa música. No palco de ópera, estão assuntos relevantes para nossa geração, tratados por meio do abstrato, do belo.

Que tipo de repertório você imagina para o teatro nos próximos anos?
Eu gostaria de continuar trazendo títulos que não são vistos há muito tempo em São Paulo. Além, claro, de trabalhar com compositores vivos, encomendando para autores brasileiros. E já estamos trabalhando também para ter aqui encenações de autores como Thomas Adès, Katia Saariaho, John Adams e tantos outros.