Liberdade para criar

Maestra Mariana Menezes desponta como destaque da nova geração de artistas brasileiros

Dias antes de conversar com a Revista CONCERTO, em meados de fevereiro, a maestra Mariana Menezes abrira uma nova série de apresentações da Orquestra Filarmônica de Goiás. Batizada de Raízes, a programação tem como objetivo estreitar o laço do grupo com a comunidade e estabelecer o contato com diferentes públicos.

Esse concerto específico, por exemplo, teve no público crianças no espectro autista. “O projeto surgiu de uma parceria com a Universidade Federal de Goiás e o Núcleo Apoio Inclusão Autista, de Goiânia. Adaptamos o espaço, para que as crianças pudessem circular pela sala de concertos, e pensamos em um repertório específico. E o mais importante: não foi um meio concerto, foi um concerto completo”, ela conta.

Menezes é desde o final do ano passado a nova regente associada da filarmônica, dirigida pelo maestro Neil Thomson. “Uma das coisas que me atraiu foi a autonomia para construir esse projeto, que inclui outras ações, concertos para pessoas com deficiência auditiva, por exemplo, ou então viagens para levar a orquestra a todo o estado.”

Esse é apenas um dos projetos que Mariana Menezes, nome que tem despontado no cenário brasileiro, tem à sua frente neste ano. Neste mês, ela rege como convidada a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, primeiro compromisso de um ano que inclui também apresentações como convidada à frente da Orquestra Sinfônica da USP, da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo e da Orquestra Sinfônica Brasileira.

Mariana Menezes nasceu em Uberaba, em Minas Gerais, onde começou na música aos seis anos de idade. Formou-se em flauta transversal, mas logo soube que seu caminho era a regência. “Eu sempre gostei muito de compartilhar, de trocar energias. E acho que é esse o trabalho do regente. Ali, no pódio, você tem um lugar privilegiado para a escuta. E esse é o primeiro passo para poder se comunicar com as pessoas”, ela explica.

A maestra passou um tempo fora do Brasil, viveu no Canadá e, ao voltar ao país, participou da primeira academia de regência da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. “Tive muita sorte de contar com a mentoria de alguém como Marin Alsop”, lembra. Mundo afora, também participou de aulas com Riccardo Muti, Arvo Volmer e Giancarlo Guerrero.

CAMINHOS

A conversa volta para o sentido do projeto Raízes. “Uma orquestra está em uma sociedade e existe em favor dessa sociedade. Pensar em projetos como esse tem a ver com a revisão, por parte das instituições, de seus objetivos. Acredito que é uma movimentação que já vem acontecendo na mente dos diretores artísticos e também dos músicos. Antes do concerto, os músicos da orquestra assistiram a uma palestra de uma neuropediatra, para que entendessem do que exatamente estavam
fazendo parte.”

E isso também tem a ver com a percepção do que é o próprio trabalho do regente. Não se discute a necessidade de apresentar o grande repertório e fazer isso com excelência, mas de estar também atento a outras possibilidades. “A união entre o social, o educacional e a excelência é a base da atividade musical hoje”, acredita ela, que aplica a fórmula na Sociedade de Concertos de Brasília, criada pela maestra para realizar concertos orquestrais, de câmara e investir em projetos educacionais.

No entanto, reger para ela é também um exercício de liberdade. Ela confessa ter interesse especial pelo repertório nórdico. É uma música, acredita, intuitiva, que se aproxima de sua própria visão como intérprete. “Como regente, você descobre a música e, depois, descobre a música dentro de você. Esse processo de internalização também tem algo de muito pessoal, seu. Mas é fundamental em qualquer repertório. Eu me interesso muito pelo desconhecido. E me empolga a liberdade de pensar em tudo o que posso construir como artista.” 

AGENDA
Orquestra Sinfônica de Porto Alegre
Mariana Menezes – regente
Valentin Garvie – trompete
Dia 26 de março, Casa da Ospa, Porto Alegre