Acervo CONCERTO: ‘Sinfonia Turangalîla’, de Olivier Messiaen

por Redação CONCERTO 25/11/2023

Texto de Lauro Machado Coelho publicado na edição de junho de 2005 da Revista CONCERTO

"Canto de amor, hino à alegria, tempo, movimento, vida e morte" – estes são, segundo Olivier Messiaen, os múltiplos significados de Turangalîla, o título que ele deu à vasta sinfonia em dez movimentos, resultado de uma encomenda que lhe foi feita em 1945, por Serguêi Kussevitzki, para a Sinfônica de Boston. Terminada em novembro de 1948, a peça foi estreada por Leonard Bernstein em 3 de dezembro do ano seguinte; e só em 25 de julho de 1950 a França a ouviu, no Festival de Aix-en-Provence, sob a direção de Roger Desormieres.

Um dos pontos culminantes da carreira de Messiaen, a Sinfonia Turangalîla, que o musicólogo belga Harry Halbreich comparou a "uma enorme cadeia de montanhas", tem forma cíclica, a partir de quatro temas que reaparecem em diversos pontos da partitura. 

O primeiro deles, em terças pesadas, quase sempre tocadas pelos trombones em fortíssimo, "tem a brutalidade aterrorizante dos velhos monumentos mexicanos", diz Messiaen; e por isso é chamado de "tema-estátua". O segundo, nas clarinetas pianíssimo, "é a duas vozes, como dois olhos que se contemplam". O terceiro, o mais importante deles, desenvolve-se no Chant d'Amour (movimentos 2 e 4) e explode estaticamente no Jardin du Sommeil d'Amour (movimento 6). Quanto ao quarto terna, ele é, na verdade, uma sucessão muito móvel de acordes com a qual o compositor trabalha para formar diversos fundos sonoros diferentes. 

A instrumentação da sinfonia, escrita para urna orquestra enorme – só as percussões exigem cinco executantes – à qual ajuntam-se o piano e o instrumento eletrônico chamado de "ondas Martenot" [criado em 1928, pelo engenheiro Maurice Martenot (1898-1980)], é de grande brilhantismo. Os sopros são extremamente solicitados. O piano e as percussões metálicas formam uma orquestra dentro da orquestra, cujas sonoridades lembram a do gamelang, a orquestra folclórica da ilha de Bali. 

Às percussões cabem intrincados contrapontos rítmicos. É muito árdua a escrita do piano que, em cada movimento, constrói cadências elaboradas para unir os elementos do desenvolvimento. E nos momentos de paroxismo orquestral, corno o curto e tempestuoso Turangalîla-2, a voz aguda das "ondas Martenot" se impõe sobre os demais instrumentos. 

De um extraordinário refinamento harmônico e rítmico, com uma complexidade estrutural que nada tem de puramente cerebral, mas respira intensa poesia, enraizada no misticismo característico de seu autor que, aqui, busca inspiração também na simbologia das religiões orientais, Turangalîla é inegavelmente um dos monumentos da arte musical do século XX, não só pelas suas proporções colossais – cerca de uma hora e vinte de execução – mas sobretudo pela profundidade de seu pensamento musical. 

O compositor Olivier Messiaen [Divulgação]
O compositor Olivier Messiaen [Divulgação]

 

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