Compositoras em foco: Mel Bonis e ‘Femmes de Légende’

Compositoras em foco: o Site CONCERTO inaugura esta semana, em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, uma nova série, dedicada a apresentar importantes compositoras do passado e do presente e algumas de suas obras mais marcantes

Mélanie Bonis nasceu em 1858 em Bordeaux, na França. Estudou no Conservatório de Paris com César Franck e Paul Taffanel. “Ela frequentou as aulas de acompanhamento, harmonia e composição, dividindo os bancos com Debussy e Pierné. Na época, estava claro que a composição musical não poderia de forma alguma ser uma profissão de mulher, que uma mulher não poderia compor nada de valor. Mélanie adotou o pseudônimo de Mel Bonis para evitar qualquer conotação feminina em seu nome”, escreve Christine Géliot, pesquisadora dedicada à sua obra.

Em 1883, um casamento foi arranjado por sua família: contra sua vontade, ela se casou com Albert Domange, 25 anos mais velho que ela. Ele não gostava de música. Durante quase dez anos, a jovem levou uma vida burguesa, aparentemente inteiramente dedicada aos deveres familiares. “Ela dividiu seu tempo entre uma mansão particular na rue de Monceau, um dos bairros mais elegantes de Paris, uma propriedade em Sarcelles e uma casa em Étretat, um elegante resort de férias na Normandia. Ela administrava uma grande família e uma equipe de doze pessoas. Ela viajou, saiu e se divertiu. Ela deu ao marido três filhos. Ela desempenhou o papel de ‘Madame Domange’ com perfeição”, diz Géliot.

O cantor e compositor Amédée Landély Hettich teria um papel importante em sua carreira. “Ele a incentivou a compor, aproximou-a do meio musical e apresentou-a a Alphonse Leduc, seu futuro editor. Seu trabalho começou a ficar conhecido: partituras eram vendidas e tocadas nos salões. Hettich e Mel Bonis trabalharam juntos. Ela foi a mola mestra da sua "Antologia de canções clássicas", mostrou-lhe as suas composições para piano, acompanhou os seus alunos de canto e musicou os seus novos poemas, em particular Elève-toi, mon âme, que expressa o sentimento apaixonado que os uniu.”

Géliot, em texto publicado em site dedicado à compositora, relembra que ela foi uma compositora prolífica e inspirada. "Compôs cerca de trezentas obras: peças para piano, desde peças para crianças até peças de concerto, para duas mãos, quatro mãos e dois pianos; belas composições para voz, sejam elas profanas, com canções para uma ou duas vozes, ou religiosas, com pelo menos vinte e cinco obras, a maioria delas para coro a cappella ou acompanhadas por órgão ou harpa; cerca de trinta peças para órgão ou harmônio; cerca de vinte obras de música de câmara, incluindo três sonatas, dois quartetos para piano, um septeto, etc...; e, por fim, onze peças orquestrais. O mais marcante é a discrepância entre a rigidez moral de Madame Domange, obcecada pelos seus deveres sociais e impregnada de piedade, e a sensualidade extraordinariamente ousada que emerge das obras musicais que produz sob o seu pseudónimo", afirma.

Uma de suas obras mais marcantes é Femmes de Légende, grupo de sete peças para piano. Suas “mulheres lendárias” são personagens femininas da literatura e mitologia, cujas histórias ela recria por meio do piano. As obras foram escritas ao longo das duas primeiras décadas do século XX e são testemunho do vigor criativo de uma autora cuja obra apenas recentemente tem sido resgatada.

Mélisande é inspirada na jovem personagem do poeta Maurice Maeterlinck. Desdêmona é a mulher vítima do ciúme e da violência de Otelo na peça de William Shakespeare, autor também de Hamlet, na qual Ofélia é retratada em toda a sua melancolia. Viviane, a fada do lago, era filha de Diana, deusa dos bosques, responsável por proteger e entregar ao Rei Arthur a espada Excalibur. Phoebé, é a deusa da lua na mitologia grega. Salomé, a personagem bíblica que mexeria com a imaginação de diversos artistas ao longo dos séculos, e Ônfale, a rainha da Lídia, terra do Oriente, e esposa de Hércules.

Roteiro
A pianista Simone Leitão vai interpretar uma seleção das peças de Femmes de Légende em concerto que fará no dia 8, com a Sinfônica de Minas Gerais, batizado justamente de Mulheres Lendárias (veja mais detalhes no Roteiro do Site CONCERTO).

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