Morre no Rio de Janeiro a produtora e empresária Gaby Leib

Uma das mais conhecidas produtoras e empresárias da música clássica, Gaby Leib faleceu nessa quarta-feira, dia 21, no Rio de Janeiro, aos 90 anos. A despedida ocorrerá no Cemitério e Crematório da Penitência - Caju, na quinta, das 12h20 às 15h20.

Gabriele Ilse Leib nasceu na Alemanha, veio para o Brasil fugindo da Segunda Guerra e se considerava brasileira. Viveu a música desde cedo: “Meu pai tinha uma bela voz de tenor e tocava piano muito bem. Sempre havia música lá em casa, e eu fazia aula de piano desde pequena. Poderia ter ido estudar em Viena, tinha muito talento. Mas as coisas acabaram tomando outro rumo”, contou em uma entrevista para o Instituto Goethe.

O rumo do agenciamento de artistas e da produção de eventos não surgiu imediatamente. “Ela primeiro teve que assumir a fábrica de tecidos do pai em Petrópolis”, conta o sobrinho e também produtor Pablo Castellar. “Foi executive hostess da Varig. E foi parar na produção cultural por acaso, numa situação até divertida.”

A história envolve a pianista americana Olegna Fuschi, que estava no Brasil em 1957 para participar do Concurso Internacional de Piano. A moça havia visto de passagem, em Botafogo, um cartaz da mineral Salutaris. De volta ao hotel queria, tomar a tal água mineral. Mas não foi entendida – e serviram água sanitária para a moça, que virou o copo.

“A moça foi parar no hospital e a Gaby entrou no meio para salvar a situação. Organizou um concerto em Petrópolis para arrecadar recursos e ajudar Olegna, que havia perdido a passagem de volta. Com isso, acabou sendo convidada para assumir a presidência da Cultura Artística de Petrópolis em 1959. Aí começa a história de sucesso na produção cultural.”

Em 1965, fundou sua própria empresa, a GL Promoções, muito bem-sucedida. Trouxe ao Brasil artistas como Ella Fitzgerald, Duke Ellington, Astor Piazzola, Daniel Barenboim, Jean Pierre Rampal, Rudolf Nureyev entre numerosos outros do primeiro escalão. Seu sucesso abriu caminhos no Brasil, onde não havia praticamente nenhum agente ou promotor nos moldes mais profissionais, ou seja, foi pioneira também na montagem de um setor de trabalho na cultura de grande importância.

A GL realizou milhares de apresentações, trazendo ao público brasileiro Margot Fonteyn, Pierre Amoyal, grupos como os Swingle Singers e o Beaux Arts Trio, entre tantos outros nomes. Uma das empresas pioneiras no setor cultural, a G.L. foi uma das primeiras agências de representação artística brasileira no setor de música de concerto, mantendo uma lista de artistas com alguns dos maiores nomes de nossa música. A partir dos anos 1980, a produtora passou também a abraçar realizações com imensas figuras da  MPB e jazz; atuou nos Festivais da Canção, criando projetos culturais, muitos deles para compor a programação de institutos, fundações e centros de cultura.

“O que eu adoro mesmo é música barroca. Mas também trouxe muitos(as) musicistas de jazz, como Ella Fitzgerald ou Duke Ellington, para o Brasil. Não faço restrição de gêneros. Para mim, só existe música boa ou ruim. Música mediana é a pior de todas”, disse Gaby na entrevista ao Goethe.

Mesmo tendo enfrentado e vencido dois cânceres, Gaby – de físico frágil e presença forte – estava bem de saúde até poucos dias. Com dores abdominais, foi atendida no hospital Pró-Cardíaco, mas teve complicações de uma peritonite.

“Ela viveu intensamente e muito bem”, conta Pablo. “E numa época em que o espaço das mulheres era bem reduzido. Ela tinha nos artistas que agenciava a sua grande família. Tinha um carinho imenso por todo mundo. E contribuiu imensamente para a carreira de grandes artistas brasileiros.”

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