Rio de Janeiro ganha uma nova orquestra, a Rio Villarmônica

por Luciana Medeiros 06/06/2022

O nome é um trocadilho e a ideia surgiu na orla de Copacabana, numa conversa regada a chope entre dois cariocas da gema e um “gauchoca”. Na mesa do bar, os regentes Tobias Volkmann e Mario Barcelos e a produtora Isabel Zagury trataram, num dia de verão, de dar início ao projeto de uma nova orquestra, que estreia no dia 11 de junho na Cidade das Artes – a Rio Villarmônica. No programa, obras mais que conhecidas do patrono Villa-Lobos e de Mozart. 

“Aquele chope foi no dia 27 de janeiro, auge do verão e, lembramos depois, aniversário de Mozart”, lembra Tobias, diretor artístico do grupo. “Nós ali conjuramos um sonho que nem sabíamos ter, mas que se corporificava na hora certinha.” 

A hora era ainda da variante Ômicron da Covid-19; mas, acima de tudo, de pensar a nova configuração da cultura. “Mario Barcelos, que além de regente é empresário, viu a oportunidade e nós descobrimos que era hora de ousar”, completa Tobias.

Haja ousadia para tal iniciativa, em tempos de grandes dificuldades para a cultura em geral e para a música sinfônica em particular. “Nossa aposta é na comunicação com o público do Rio de Janeiro, o estímulo a um acolhimento com a malemolência da cidade, para que o público se sinta acolhido e não intimidado pela programação”, afirma Tobias.

Detalhe: a programação vai se construir sobre peças do repertório tradicional de concerto, evitando o caminho do crossover e da mera versão sinfônica da música popular. “O repertório standard tem um imenso apelo inclusive para o público não-iniciado”, considera o regente. “Temos essa comprovação a toda hora. A iniciação à música, que já foi parte da educação básica no Brasil, hoje se dá basicamente nos numerosos projetos sociais e nas igrejas evangélicas.”

A formação de público para a música de concerto, um dos bastiões do trabalho de Heitor Villa-Lobos, está no conceito primordial da Villarmônica. “Quando ajudei a montar o núcleo da Ação Social pela Música no Morro dos Macacos, no Rio, comprovei esse efeito”, continua Tobias. “As crianças e jovens aprendem música, levam as famílias para as apresentações e isso cria um círculo virtuoso.” 

Diferentemente do modelo da maioria esmagadora das orquestras brasileiras, a Rio Villarmônica é “independente”, desligada de qualquer instituição pública ou privada. Nesse momento, a captação de recursos visou pessoas físicas em doação direta. Mário Barcelos, que além de regente – e aluno de Tobias – é engenheiro químico e empresário, ficou responsável pela gestão, o que incluiu levantar os recursos para a realização de quatro concertos em 2022 – esse primeiro em junho, e os seguintes em agosto, novembro e dezembro.

“Convoquei gente conhecida que poderia bancar esse primeiro momento, chamando cada um à responsabilidade pela cultura carioca”, conta Barcelos, que vai dividir o pódio com Tobias em 2022. “E esse grupo respondeu, entendendo que o Rio de Janeiro é uma locomotiva do Brasil e que precisamos ocupar esse nicho.” Barcelos enfatiza que os programas farão um passeio pela música da América Latina, do Brasil e do Rio de Janeiro. “O próximo concerto terá Piazzolla, por exemplo.”

Segundo a produtora Isabel Zagury, a carioquice da orquestra, se não vai se manifestar na escolha das peças, estará na forma da comunicação com o público. “Somos malemolentes, o carioca tem suavidade, leveza, alegria. Se o horário da apresentação é pós-praia, por que não podemos usar bermuda? A Rio Villarmônica não quer ser vista como um transatlântico, alto, pesado e inacessível; é mais um iate, um saveiro, ágil e associado ao prazer.”

Isso se aplica inclusive na formação. Os músicos serão convocados de acordo com os programas, embora a ideia seja manter um elenco relativamente estável, dentre os profissionais das orquestras do Rio de Janeiro – Sinfônica Brasileira, Petrobras Sinfônica, do Municipal, Sinfônica Nacional.

“Temos também jovens músicos de altíssimo nível, como é o caso do solista da estreia, o clarinetista Tiago Teixeira, da OSN”, garante Tobias. “A qualidade, aliás, é marca de todas as escolhas. Nossa ideia é que em breve tenhamos uma orquestra independente, mas com músicos fixos e temporada substancial.” 

A intenção de dar acessibilidade ao público pouco acostumado à música sinfônica vai passar também pela duração dos concertos – “sempre pensamos em algo mais conciso, sem intervalo, que não canse”, assegura Tobias. E não vai faltar a conversa, “essencial para abrir corações e mentes pela compreensão do contexto e da importância da música que o público vai ouvir”, completa o regente.

“Eu, por exemplo, sempre choro ao ouvir o Concerto para clarineta de Mozart, que aliás vou reger pela primeira vez. Dividir essa emoção com a plateia é parte da nossa personalidade como um grupo amoroso e muito, muito carioca.”

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Isabel Zagury, Tobias Volkmann e Mario Barcelos [Divulgação/Marcos Martinez]
Isabel Zagury, Tobias Volkmann e Mario Barcelos [Divulgação/Marcos Martinez]

 

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