É possível identificar uma mudança na presença digital da música ao longo da pandemia. O festival de lives em transmissões domésticas já divide espaço, felizmente, com a presença de músicos nos palcos – mesmo que ainda sem plateia. É assim que a Sala Cecilia Meireles, espaço da Funarj no Rio de Janeiro, retoma suas atividades em 2020. A Sala Digital estreia no sábado, dia 1º de agosto, ao meio-dia, e trará até dezembro parte da programação anunciada para o ano. O primeiro evento é o Blim-Blem-Blom de Tim Rescala, voltado para as famílias, com a participação dos Santoro – exatamente em família, com os gêmeos violoncelistas, os filhos, cunhados e o patriarca Sandrino.
Nessa nova etapa, o desafio talvez seja o de se aproximar o formato via telinha da experiência ao vivo – em termos de qualidade, ao menos. “A qualidade é o que pretendemos oferecer como diferencial”, garante o compositor João Guilherme Ripper, diretor da Sala. “Teremos uma equipe de profissionais do vídeo que são também músicos, o Lipe Portinho e o Eduardo Monteiro, da Orquestra de Bolso; assim, as câmeras seguem a partitura sob o comando deles. Além disso, instalamos um link dedicado de 100 MB para assegurar a estabilidade da transmissão.”
A equipe faz o corte em tempo real e o concerto pode ser visto pelo canal do Youtube da Sala. No caso do Blim-Blem-Blom, que terá mais seis edições em 2020, a transmissão é da EBC e também pode ser vista no site da Rádio MEC FM.
“Nosso espetáculo é deliciosamente familiar, combinando com o lema do programa”, diz Ricardo Santoro. O sarau conta com Sandrino, de 82 anos, “um italiano muito elegante e carinhoso”, diz o filho; e os muito jovens Pedro e Marcela, filhos de Paulo e Ricardo. Só vai faltar mesmo o irmão mais moço, Sávio, que está em Recife e não pôde vir.
Som e vídeo de qualidade se somam ao espaço de acústica privilegiada, lembra Ripper. “Queremos que o espectador tenha o melhor dentro da atual circunstância.” Com uma programação ambiciosa para 2020, a Cecilia Meireles cerrou as portas no dia 13 de março, na quarentena carioca.
O último momento ao vivo foi o recital da pianista Sylvia Thereza, na véspera. Ripper desfia a programação do ano, que mantém o patrocínio da Petrobras Cultural: as sonatas para violino e piano de Beethoven, em setembro; outubro dedicado ao barroco; a maratona de sonatas de Beethoven em novembro e, em dezembro, a Canção da Terra de Mahler e os seis últimos quartetos de Beethoven, com Jean-Louis Steuerman, Leonardo Hilsdorf, Emanuelle Baldini, Rosana Lanzelotte e a orquestra de câmara Johann Sebastian Rio, entre outros.
“Ficar calados é o pior que pode nos acontecer”, lembra João Guilherme Ripper. “Estamos vendo a cadeia produtiva da música de concerto ameaçada; não podemos nos render às dificuldades.” Detalhe: todos os espetáculos têm entrada gratuita e serão arrecadadas doações, ao longo de todos os eventos da Sala Digital, para que o Sindicato de Artistas e Técnicos em Espetáculos do Rio de Janeiro possa reforçar a ajuda aos profissionais duramente afetados pela paralisação.
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