O Conservatório de Tatuí apresenta nos dias 6 e 7, em seu Teatro Procópio Ferreira, a ópera A noite de São João, de Elias Álvares Lobo. A obra, estreada em 1860, foi a primeira em português criada no âmbito da Imperial Academia de Música & Ópera Nacional.
A produção tem direção musical do maestro Emmanuele Baldini, titular da Orquestra Sinfônica do Conservatório, e a direção cênica é de Rosana Orsini Brescia. No elenco, o tenor Luciano Botelho, Flavia Albano, Cecília Massa e Isaque Oliveira.
A ideia do projeto nasceu de Baldini, como ele conta em texto que escreveu sobre o projeto.
“O resgate da ópera cômica A noite de São João nasceu no triste momento da última despedida ao saudoso Zuza Homem de Mello, ser humano fascinante, grande difusor e defensor da música brasileira. Conversando com a viúva Ercilia Lobo, fiquei sabendo de seu antepassado, o compositor Elias Alvares Lobo, de Itu. Poucos dias depois, recebi em minha residência um pequeno livro sobre o compositor, com uma afetuosa dedicatória da Ercilia, escrito pelo atual diretor do Museu da Música de Itu, Luis Roberto de Francisco”, ele lembra.
“Desde sempre apaixonado por história, a possibilidade de ler algo sobre importante figura do panorama musical brasileiro no século 19 me entusiasmou, e em poucas horas terminei o livro, escrito em maneira fluente e muito cativante. Entre todos os momentos fascinantes que a leitura me ofereceu, a história da ópera capturou minha fantasia. Libreto do grande José de Alencar, escrita em português por um brasileiro, estreada no Rio de Janeiro com Carlos Gomes na regência e em presença de D. Pedro II. Muitos elementos preciosos que transformaram essa opera em um imã para minha fantasia. Mas o que me intrigou mais ainda foi perceber que após sua estreia a ópera desapareceu do cenário musical!”, completa.
A partitura se perdeu, mas Luis Roberto de Francisco mostrou ao maestro um manuscrito de acompanhamento para piano. O manuscrito, então, foi entregue ao maestro e compositor Mateus Araújo, que fez a reconstituição e orquestração da obra, numa parceria do Conservatório de Tatuí com UFRJ e Funarte.
Em entrevista à Revista CONCERTO publicada na edição de dezembro, Araújo falou sobre o projeto. “O trabalho foi de orquestração, mas também de reconstrução”, contou, explicando alguns dos critérios que o guiaram. “Em óperas de Bellini ou de Rossini daquele momento já havia uma orquestra maior, com quatro trompas, por exemplo. Mas, por ser uma comédia, me pareceu mais adequado trabalhar com a orquestra prevista em O elixir do amor, de Donizetti”, disse Araújo, que destacou aspectos que mais chamaram sua atenção no original: o principal deles, a indicação de acompanhamento com violas caipiras nas cenas de coro interno. “Além da exposição equilibrada das vozes, dos conjuntos e das nuances para mostrar o texto, identifiquei certo elemento de engenhosa simplicidade que poderia bem estar abraçado com a música popular.”
Sobre a produção, a diretora Rosana Orsini diz que decidiu relembrar outra figura importante da arte brasileira. “Os cenários e figurinos foram inspirados pela indescritivelmente bela e valiosa obra do estilista mineiro Alceu Penna, o pai da nossa alta-costura. Alceu, que incluía todos os anos no caderno ‘As Garotas’, da Revista Cruzeiro, entre 1938 e 1964, diversos modelos para a celebração das festas de São João, é, de forma indiscutivelmente brasileira, mais um exemplo do antropofagismo cultural que nos define, misturando a alta-costura da sua época com temas e materiais genuinamente brasileiros”, diz.
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