MANAUS – Diretores de diferentes teatros brasileiros, maestros e produtores reuniram-se na manhã desta sexta-feira para o III Encontro de Economia Criativa e Teatros de Ópera, realizado no Palácio Rio Negro, do governo do Amazonas, em Manaus. As conversas, que integram a programação do XXIV Festival Amazonas de Ópera, giraram em torno da compreensão da ópera como um mercado a ser explorado, símbolo das possibilidades da economia criativa, ou seja, a compreensão de que a cultura não apenas promove discussões artísticas essenciais, mas também faz girar a economia.
A abertura foi feita pelo secretário de Cultura e Economia Criativa do Amazonas Marcos Apolo Muniz. Ele ressaltou a presença no encontro de pessoas ligadas ao desenvolvimento econômico. Pensar na cultura de maneira mais ampla significa mudar a percepção das pessoas sobre o tema. Isso sem deixar de levar em consideração a importância da cultura como cultura, ou seja, sua importância para as pessoas, para a formação de caráter, como foi importante durante a pandemia.
Ele celebrou parcerias com o Theatro da Paz, em Belém, que levou à criação do Corredor Lírico do Norte – o Festival Amazonas foi aberto com uma produção paraense de Il tabarro, de Puccini; e com o Espírito Santo, por meio do qual foi apresentada a ópera O Caixeiro da Taverna, de Guilherme Bernstein Seixas.
Em seguida, falou Flavia Furtado, diretora executiva do Festival Amazonas. Ela lembrou como a reunião inédita do setor no Fórum Brasileiro de Ópera, Dança e Música de concerto permitiu uma conversa mais organizada com a Funarte, tendo como resultado a cooperação entre o Theatro Municipal de São Paulo, o Palácio das Artes de Belo Horizonte e o Festival Amazonas para a encenação da ópera O contratador de diamantes, de Francisco Mignone.
Ela anunciou ainda que em 2023 pela primeira vez será realizada no Brasil (em Manaus) a assembleia geral da Ópera Latinoamérica (OLA), bem como um acordo inédito entre a Zona Franca de Manaus, a secretaria de Desenvolvimento Econômico e a Secretaria de Cultura e Economia Criativa. “Isso vai possibilitar a criação de várias políticas estruturantes para o setor. O caminho que percorremos é amplo. O festival se liga ao Turismo e à Educação, uma ligação natural, e agora estamos em diálogo com o setor econômico e outras áreas da cultura no Amazonas. Tudo isso mostra a potência da cultura”, diz.
Fernanda Rennó, da Concertação Amazônia, rede que une instituições e empresas para a defesa da Amazônia, colocou que a cultura tem papel central nos modelos de desenvolvimento possíveis para a Amazônia, fortalecendo instituições, o engajamento da iniciativa privada. Vania Thaumaturgo, presidente da Associação Polo Digital de Manaus, por sua vez, ressaltou como a cultura tem papel no ecossistema de tecnologia de informação, que une diferentes facetas da sociedade e aponta caminhos para o futuro e o espaço que ocuparemos nele.
Carmen Gloria, da Ópera Latinoamérica, que reúne 32 teatros e produtores de ópera da América Latina e da Espanha, chamou atenção para o fato de que o continente é profundamente diversos, tanto do ponto de vista da geografia, da economia e da política. “Isso fez com que se atrasasse processos de colaboração que poderiam ser naturais”, disse. Para ela, com a OLA, esse processo vem ganhando força, com a ópera favorecendo a criação de colaborações bilaterais entre os países. “Projetos artísticos também devem ser compreendidos como embaixadores dos países, reflexos de sua cultura e de seus povos.”
André Cardoso, presidente da Academia Brasileira de Música, lembrou que também o Brasil possui realidades internas muito diversas. Apenas seis teatros de cinco cidades do país possuem programação regular, além dos festivais em Belém e em Manaus. Ao mesmo tempo, há 92 teatros no país com estrutura para receber espetáculos operísticos.
A partir do Fórum Brasileiro de Ópera, Dança e Música de concerto foi apresentado à Funarte um plano para a ópera no Brasil, com três pilares: 1) mapeamento para dimensionar o mercado da ópera no Brasil, incluindo o impacto na economia (ele será feito por meio de parceria entre UFRJ, Unicamp e Unesp); 2) memória, com preservação do arquivo histórico da ópera brasileira; 3) capacitação e qualificação de profissionais.
“Pensar a ópera no Brasil, hoje, significa apoiar as iniciativas já existentes e ampliar o número de produções, investindo em formação e ampliando a penetração do gênero em meio ao público; fazer a ópera buscar novos espaços, ampliando sua cadeia produtiva e impactando a economia das cidades. A ópera pode ser entendida como poderoso agente de desenvolvimento econômico e social”, afirmou.
Cardoso anunciou também a parceria para encenação da ópera vencedora do concurso de composição promovido pelo Fórum, que vai unir a Cia. Ópera São Paulo, o Teatro Amazonas, o Theatro da Paz, a Sinfônica de Santo André, a Sinfônica de Sergipe, as Orquestras de Guarulhos, a Fundação Clóvis Salgado, a Cia. Minaz, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o Theatro Municipal de São Paulo, o Theatro São Pedro de São Paulo e o Theatro São Pedro de Porto Alegre.
O presidente da Amazonastur, Gustavo de Araújo Sampaio, e a secretária adjunta de Educação do Amazonas, Arlete Mendonça, ressaltaram a importância da transversalidade na gestão pública, o que possibilita cada vez mais diálogos com a área de cultura, inclusive no papel que pode ter na formação de jovens que estão nas escolas públicas do estado. Luiz Herval, secretário executivo da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas, colocou-se aberto a participar de todos os fóruns de cooperação.
Bernardo Guerra, diretor do centro de música da Funarte, afirmou que ainda este ano a ópera deixará o centro de artes cênicas da Funarte e passará para o centro de música, antiga reivindicação do setor. Ele também falou da parceria com a UFRJ que levou à realização do Projeto Sinos (Sistema Nacional de Orquestras Jovens) – Cardoso já havia lembrado que faz parte da iniciativa a academia de ópera e a encomenda de novas obras.
O general Algacir Antonio Polsin, superintendente da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), afirmou que o Teatro Amazonas é símbolo do ciclo econômico da borracha, que muitas décadas depois foi substituído pelo ciclo da Zona Franca. “Hoje em dia o Amazonas é bastante dependente do polo industrial de Manaus, que queremos reforçar cada vez mais. O modelo é de sucesso, mas falta espalhar mais a riqueza da região para outros municípios. E o que isso tem a ver com a economia criativa? Ela ajuda a melhorar a qualidade de vida da população. Um festival aqui não é só um festival, é um festival para uma população isolada geograficamente do resto do país. E a cultura gera empregos e renda, não apenas para artistas, mas para o comércio, serviços, hotelaria, restaurantes, turismo.”
Alessandra Costa, da Sustenidos, organização que gere o Theatro Municipal de São Paulo, lembrou que a cultura ganha com estabilidade de gestão, financeira e de vontade. “E que nos juntemos não apenas na desgraça. Quando há problemas, nos unimos como classe e nos ajudamos. Mas quando a situação acalma, vai cada um para o seu canto. Esse é um momento de união para criar, que é o que fazemos de melhor, estabelecer esforços criativos conjuntos”, disse.
A fala foi realizada logo após a assinatura do termo de acordo para a produção de O contratador de diamantes, por ela, Flavia Furtado e Eliane Parreiras (presidente da Fundação Clovis Salgado). E Costa ressaltou a importância de se ter três mulheres assinando este acordo. Em seguida, Parreiras lembrou a importância de projetos conjuntos. “Estabelecer parcerias é realizar um pensamento estratégico de forma conjunta que fortalece instituições, mas também o setor como um todo.”
É preciso estar logado para comentar. Clique aqui para fazer seu login gratuito.
Comentários
Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da Revista CONCERTO.