A ópera Devoção, de João Guilherme Ripper, com libreto de André Cardoso, tem sua pré-estreia no sábado, em Congonhas do Campo, no interior de Minas Gerais. A obra será apresentada, em seguida, no Palácio das Artes de Belo Horizonte, responsável pela encomenda da composição.
A ópera narra a história do português Feliciano Mendes, que chegou ao Brasil nas primeiras décadas do século XVIII, em plena ebulição do ciclo do ouro; de humilde imigrante, amealhou fortuna no garimpo.
A certa altura, começou a sofrer de uma grave doença. Católico fervoroso, prometeu: se ficasse curado, doaria toda a fortuna e largaria tudo para construir um santuário no morro do Maranhão, Arraial do Redondo, em seguida chamado de Congonhas do Campo.
“É um grande oratório encenado”, explicou o compositor João Guilherme Ripper em entrevista a Luciana Medeiros, publicada na edição de julho da Revista CONCERTO (leia aqui; acesso exclusivo para assinantes). Ripper e Cardoso foram além da devoção católica para recriar o espírito de sincretismo que preside a vida religiosa nacional. “Somos essa mistura da tradição católica com as linguagens e os rituais trazidos pelos negros e mantidos pelos indígenas”, prossegue Ripper. “Desde os jesuítas, que incorporaram instrumentos e idioma à evangelização, até imigrantes europeus, o sincretismo é incontornável.”
Assim, a celebração litúrgica em latim ganha o contraponto da congada; o padre Antônio Rodrigues (outra figura real da história) encerra o primeiro ato convocando os fiéis para participar da coroação dos reis do Congo no cortejo das ruas. “A riqueza imensa dessa mistura está em todos nós, com instrumentos da cultura africana convivendo com a polifonia católica”, reafirma Ripper.
O espetáculo com a orquestra, o coro e o balé do Palácio das Artes será realizado no átrio do santuário de Congonhas do Campo, com regência da titular da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, Ligia Amadio, e direção cênica de Ronaldo Zero. O cenário é de Jonas Soares; os figurinos, de William Rausch; e a iluminação, de Caetano Vilela. No elenco, estão o tenor Matheus Pompeu, o baixo Sávio Sperandio, a soprano Carla Caramujo e o barítono Johnny França, entre outros.
“Não nos fixamos na história do ponto de vista documental, mas fazemos uma grande celebração barroca e farsesca da cultura mineira, do legado histórico e cultural desse período tão rico. Não falamos de devoção religiosa, ou não apenas, mas do fato de sermos devotos da cultura mineira e devedores dessa linha que passa por Chico Xavier, Milton Nascimento, Guimarães Rosa, Drummond”, explica Zero.
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![Carla Caramujo, Matheus Pompeu e Sávio Sperandio [Divulgação/Marcia Charnizoni]](/sites/default/files/inline-images/w-FCS_0741OperaDevocao_foto-Marcia-Charnizonjpg.jpg)
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