Os músicos da Orquestra Filarmônica de Goiás publicaram uma carta na qual afirmam que a situação salarial do grupo o está levando a uma morte “ainda não perceptível para as pessoas que assistem aos nossos concertos, mas já percebida por nós”.
A orquestra acaba de lançar o primeiro disco de uma série dedicada às sinfonias de Claudio Santoro, recebendo elogios da crítica em publicações como Le Monde, Classical Today e Gramophone; na Revista CONCERTO, Irineu Franco Perpetuo também escreveu sobre o valor histórico do disco.
Ainda assim, os músicos têm sofrido com uma queda salarial responsável por diminuir o número de artistas, que têm buscado outros grupos Brasil afora. Em 2020, após um período em que deixou de funcionar por dificuldades na contratação dos artistas, a orquestra retomou atividades, mas os músicos tiveram redução de 30% nos salários.
“Houve época que conseguimos atrair músicos muito bons. Entretanto, é preciso pontuar que o nível de execução dos músicos está completamente desproporcional ao salário que recebem. E este aspecto tem sido um fator de tensão e de ansiedade constante para nós. Estamos chegando a um ponto em que a situação que vivenciamos está se tornando insustentável. Diríamos até que a orquestra, enquanto instituição, está morrendo de uma forma ainda não perceptível para as pessoas que assistem aos nossos concertos, mas já percebida por nós”, diz a carta.
“Lutamos contra um fluxo lento, mas constante, de músicos deixando a orquestra. Cada vez que outra orquestra abre concurso, nossos melhores músicos sempre se candidatam, pois elas oferecem salários melhores e estrutura mais sólida. Já perdemos vários colegas de alto valor musical e técnico por esta razão. Nos últimos anos, mais de vinte músicos deixaram a OFG, motivados, principalmente, pela defasagem salarial. Eles não queriam necessariamente deixar a OFG, mas não conseguem ter uma vida digna com os salários que estamos recebendo. Isto sem falar que, com esta remuneração fica impossível manter nossos instrumentos com a aquisição de encordoamento para os instrumentos de cordas e palhetas para os instrumentos de sopro. Os colegas que permanecem estão tendo sérias dificuldades de conciliar o trabalho exigido pela orquestra, tal como ensaios e a preparação individual, com sua sobrevivência, resultando em casos que mereceram atendimento médico. Este dano psicológico para a orquestra tem o potencial de sinalizar o começo do fim para a OFG, conforme a conhecemos.”
A gestão da orquestra atualmente é feita pelo Instituto Tecnológico de Goiás em Artes Basileu França, que firmou parceria com a Universidade Federal de Goiás. A carta foi endereçada à Profa. Dra. Flavia Maria Cruvinel, Pró-Reitora Adjunta de Extensão Cultural da universidade, a quem os músicos agradecem pelo apoio dado até agora.
“Os salários oferecidos pela OFG não atraem reposições, haja vista que na última audição várias vagas não foram preenchidas por falta de candidatos e/ou porque os candidatos não apresentaram os atributos técnicos e musicais requeridos. Por isso, a orquestra atualmente está desfalcada e as seguintes estantes permanecem sem ocupantes: Concertino, Chefe de naipe para trompas e Chefe de naipe para violas O altíssimo nível de execução é um dos poucos fatores que mantém os bons músicos na orquestra. Sem esse incentivo não haverá nenhuma outra consideração para que permaneçam em Goiânia. E este fator único gera este estado de ansiedade entre nós, os músicos. Como podemos nos preparar para concertos e gravações com a constante preocupação sobre como continuar provendo por nossa sobrevivência? Há, também que se considerar o fato de que nós nos comprometemos a gravar os CDs para o projeto Itamaraty/Naxos, segundo o Termo de Cooperação Técnica já citado. Temos de garantir que a orquestra se mantenha em um nível bom o suficiente para estas gravações.
A carta se encerra pedindo melhores condições de trabalho,
“A mensagem que queremos transmitir é que estamos em crise. Nossa reputação já sofreu muito no passado: somos a orquestra que não pagava convidados, a orquestra que não pagava locação de partituras e de instrumentos. Agora somos a orquestra que não provê a sobrevivência de seus membros. Estamos fazendo de tudo para projetar uma imagem de confiança, uma imagem positiva da OFG, quando nos apresentamos, sempre com uma atitude de tirar o foco dos problemas, e sempre falando do sucesso de nossa instituição. Temos uma imensa fé no futuro da orquestra e esperamos que as circunstâncias melhorem para nós, seus componentes. E é com esta esperança que nos dirigimos à FUNAPE, na sua pessoa, para que se sensibilize com a situação de penúria em que se encontram os músicos e que envide esforços para que nossa remuneração seja suficiente para assegurar a dignidade de exercer nossa profissão, de forma engrandecer sua gestão, nossa orquestra, e nosso estado de Goiás."
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