Anúncio causou indignação no meio cultural; edificação inclui jardins de Roberto Burle Marx, azulejos e painéis de Cândido Portinari e pinturas de Alberto Guignard e José Pancetti
O Ministério da Economia incluiu o Palácio Gustavo Capanema em um grande feirão de mais de dois mil imóveis públicos federais que serão oferecidos para a iniciativa privada. O prédio, situado no centro do Rio de Janeiro, é considerado um dos marcos da arquitetura modernista no Brasil. Idealizado por Gustavo Capanema, então ministro da Educação do governo Getúlio Vargas, e construído entre os anos de 1936 e 1945, o prédio foi projetado por um time de arquitetos que incluiu nomes como Lucio Costa, Carlos Leão, Affonso Eduardo Reidy e o então estagiário Oscar Niemeyer, com consultoria do arquiteto Le Corbusier. O Palácio Capanema tem jardins de Roberto Burle Marx, azulejos e painéis de Cândido Portinari, pinturas de Alberto Guignard e José Pancetti e esculturas de Bruno Giorgi, Adriana Janacópulos, Jacques Lipchitz e Celso Antônio Silveira de Menezes.
O anúncio da venda do Palácio Capanema gerou grande repercussão e indignação no meio cultural. O deputado federal e ex-ministro da Cultura Marcelo Calero publicou em suas redes sociais: “Não vamos aceitar a tentativa de venda do Palácio Capanema. O Capanema é um marco civilizatório do nosso País, como arquitetura e política pública. Um patrimônio em uso por diversos órgãos. Um dos símbolos do modernismo brasileiro e da nossa produção cultural”. Um abaixo-assinado contra a venda afirma que “a iniciativa promovida pelo governo golpista genocida de Bolsonaro é mais uma das ações do desmonte da Cultura”.
Entre outros órgãos culturais, o Palácio Capanema abriga a Divisão de Música e Arquivo Sonoro da Biblioteca Nacional (Dimas). Conforme consta do site da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), a Dimas “é um dos mais importantes acervos musicais existentes no Brasil, oferecendo aos visitantes e pesquisadores mais de 250 mil títulos relevantes para investigação histórica e musicológica”. A FBN afirma que a base principal do acervo “foi formada por peças trazidas de Portugal para o Rio de Janeiro por D. João VI, pertencentes à chamada Real Biblioteca de Lisboa e da Biblioteca do Infantado, abrangendo, dentre outros documentos, livros, partituras, libretos de óperas, livros litúrgicos, missais e tratados”. A Dimas guarda também os manuscritos das óperas Il Guarany, Fosca, Maria Tudor e Salvator Rosa, de Carlos Gomes (1836-1896).
Segundo Alexandre Dias, diretor do Instituto Piano Brasileiro e um engajado batalhador pela guarda e digitalização da memória musical brasileira, “a Divisão de Música da Biblioteca Nacional constitui o maior acervo de partituras do Brasil – são centenas de milhares de itens que remontam aos primórdios da impressão musical, e que oferecem fontes primárias absolutamente essenciais para pesquisadores e músicos. Sua importância é equiparável à dos maiores acervos musicais do mundo, como a Biblioteca do Congresso Americano, em Washington, e o Musikverein, em Viena. Embora uma parte importante dos documentos tenha sido digitalizada, incluindo os manuscritos autógrafos de Ernesto Nazareth (Memória do Mundo, pela Unesco), a imensa maioria ainda não possui cópia digital”.
Preocupado com o destino da Dimas, Alexandre Dias adverte: “Precisamos que a sociedade demonstre seu apreço por este acervo, para que possamos continuar usufruindo dele”.
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