Theatro Municipal de São Paulo fará reavaliação técnica de seus corpos artísticos

por Nelson Rubens Kunze 20/01/2023

Por estar há mais tempo sob a mesma liderança, reavaliação terá início com o Coro Lírico

A OS Sustenidos, gestora do Theatro Municipal de São Paulo, fará uma reavaliação inédita de todos os integrantes do Coro Lírico. Os membros do grupo receberam um comunicado no último dia 16 de janeiro e foram convocados para provas que serão realizadas entre os dias 23 e 26 de fevereiro, em que serão julgados por cinco profissionais externos, brasileiros e estrangeiros. Conforme o informe, “serão considerados(as) aptos(as) a permanecer no Coro Lírico, os(as) cantores(as) que atingirem como média final o valor igual ou maior que 7,5 pontos”.

Ainda conforme o informe, a avaliação será feita em cumprimento ao contrato de gestão nº 02/FTMSP/2021 e “tem como objetivo analisar por meio de retestes, suas qualidades técnico-vocais e interpretativas, assim como suas habilidades de leitura musical (solfejo)”. O documento afirma ainda que “a avaliação será individual, em etapa única, realizada às cegas, com utilização de biombo, de forma a garantir maior lisura, transparência e imparcialidade”.

O anúncio da avaliação dos membros do Coro Lírico causou grande repercussão. Questionados, o coro e cantores não quiseram se pronunciar. 

Pelas postagens nas redes sociais transparece o receio de que, por uma questão financeira, o Coro Lírico sofra uma redução do número de integrantes (atualmente 84). Há mensagens que reconhecem o desequilíbrio do nível artístico do grupo, mas sustentam que não seria necessário fazer uma reavaliação geral, sempre traumática, para substituí-los. Outras ainda afirmam que não há menção a avaliações dos corpos estáveis no contrato de gestão.

A Revista CONCERTO pediu esclarecimentos ao setor de comunicação do Theatro Municipal de São Paulo e recebeu as seguintes respostas:

Revista CONCERTO: Por que estão sendo feitas essas avaliações?
Theatro Municipal de São Paulo:
Após um ano e meio na gestão do Complexo Theatro Municipal de São Paulo, a Sustenidos Organização Social de Cultura detectou a necessidade de realizar uma reavaliação técnica dos integrantes dos Corpos Artísticos. Tal procedimento é recomendável e já foi realizado em instituições como a OSESP, resultando em mais excelência artística e melhor uso dos recursos públicos. Considerando que o TMSP é uma casa de ópera, optamos por começar a reavaliação pelos integrantes do Coro Lírico, o corpo artístico que está há mais tempo sob a mesma liderança e com a mesma configuração.
Esta avaliação interna tem como objetivo analisar, por meio de retestes, suas qualidades técnico-vocais e interpretativas, assim como suas habilidades de leitura musical (solfejo). Enviamos no dia 16 de janeiro um comunicado aos integrantes do Coro Lírico informando sobre todos os procedimentos desta reavaliação, que será feita entre os dias 23 e 26 de fevereiro por uma banca de profissionais externos renomados.

RC: Quantos coralistas estão contratados atualmente?
TMSP:
Hoje, o Coro Lírico tem 84 cantores.

RC: Caso haja cantores reprovados, serão contratados novos no lugar?
TMSP: 
Essa decisão dependerá do resultado final da reavaliação, nosso objetivo é que o Coro Lírico tenha a maior excelência possível.

RC: As avaliações serão feitas também nos outros corpos estáveis (orquestra, Coral Paulistano)?
TMSP: 
Nosso planejamento abrange a realização de reavaliações periódicas em todos os Corpos Artísticos, embora ainda não tenhamos um cronograma final estipulado.
Esta ação relaciona-se com as estratégias e metas dos objetivos dos Contrato de Gestão firmado junto à Fundação Theatro Municipal de São Paulo, os quais visam o fortalecimento do Complexo Theatro Municipal e a excelência técnica de seus Corpos Artísticos, e também ressalta a importância da aplicação de processos e fluxos de gestão adequados a todas as atividades realizadas dentro do Complexo, sejam elas de natureza artística ou administrativa. 

Leia também notícia do dia 23/01: Após repercussão, Theatro Municipal de São Paulo suspende avaliações internas.

Coral Lírico do Theatro Municipal de São Paulo (divulgação)
Coro Lírico do Theatro Municipal de São Paulo (divulgação)

 

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Comentários

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A OS Sustenidos (cujo processo de contratação é suspeito de irregularidades) não entende que a gestão de um corpo artístico não se faz apenas com planilhas de custos e fluxos de gestão. Uberizar um grupo como o Coro Lírico, que vem desenvolvendo um ótimo trabalho há décadas, certamente não trará bons resultados. A impressão que o entrevistado me passa (que aliás, responde anonimamente pelo TMSP) é que pretendem manter um efetivo mínimo operacional, e preencher as demais vagas "on demand", fazendo com que cantores com muitos anos de experiência tenham que trabalhar com os "extras" da vez. Sendo assim, a cada opera haverá um coral diferente. É uma experiência certamente fadada ao fracasso, quem perde é a cultura da cidade.

Outro ponto é que o coral esteve sob a regência de Bruno Facio entre 2014 a 2017, portanto não esteve sempre com o maestro Zaccaro.
Durante a pandemia, cada coralista gravou individualmente para montar os famosos "coros virtuais". Certamente todos foram ouvidos e avaliados individualmente por suas chefias.

O quê realmente motiva essas avaliações?

1. Não há melhor avaliador do desempenho de um corista do que o Maestro Titular do Coro.
2. Não há melhor maneira de se avaliar o desempenho de um corista do que a observação atenta do seu trabalho diário dentro do grupo.
3. Um corista canta em coro. Ouvindo-o, em prova, como solista, o avaliador não terá a medida exata da sua capacidade como corista.
4. Uma excelente voz, apta ao protagonismo, não necessariamente terá o melhor desempenho em um corpo coral. Da mesma forma, uma voz de qualidade modesta pode render imensamente em coro.

Marcos Menescal, ex-corista do Theatro Municipal do Rio de janeiro, com 36 anos de experiência

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Isto é um absurdo, quem convoca audições não é e não será jamais a “direção administrativa”, isto é de competência única e exclusiva de seu regente titular, é uma decisão técnica do MAESTRO DO CORO e as audições SÃO FEITAS COM A PRESENÇA DO MAESTRO e de maestros, cantores convidados.
Dito isto devo também ressaltar que a pessoa diz que “o Theatro é um teatro de ópera”, mas o que tenho observado é que a programação na realidade não tem priorizado as óperas… então essa desculpa é no mínimo extremamente esfarrapada é completamente fora dos parâmetros estabelecidos!!!
Que vergonha!!!!

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Em tempo

Eloisa Baldin, ex-coralista do Coral Lírico do Theatro Municipal de São Paulo, cantora por 35 anos -1978-2013 e professora da Escola Municipal de São Paulo - 2014 - 2016

Observando a seguinte declaração do setor de comunicação da Sustenidos:

"a Sustenidos Organização Social de Cultura detectou a necessidade de realizar uma reavaliação técnica dos integrantes dos Corpos Artísticos."

eu pergunto : esta "detecção " foi feita por quem e de que forma?

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Mensagem dos músicos da Orquestra Sinfônica Municipal postado no instagram!

Apelo à Sociedade.

A Organização Social Sustenidos, gestora do Theatro Municipal de São Paulo, tornou-se sinônimo de descaso com os Artistas.

Depois de quase 30 anos de contratos de trabalho precarizados (apenas 10 salários no ano, sem FGTS, sem férias remuneradas e décimo terceiro) os Artistas, com muita luta, conseguiram ser celetizados em 2014 e 2015.

Ocorre que em janeiro de 2023, a Organização Social Sustenidos, hoje administradora do Theatro, mesmo com a contestação do Tribunal de Contas Municipal, resolve reavaliar seus artistas.
Travestidas de busca pela excelência - que já é comprovada pelos seus maestros, público e crítica especializada - essas avaliações têm o intuito puro e simples de precarizar os contratos de trabalho novamente.

Foram convocados, inicialmente, os músicos do Coro Lírico para passarem por novos testes. Uma banca com caráter inquisidor foi contratada, não se sabe com quais critérios, para o que nos parece a demissão em massa de artistas.
Isso fica evidente, pois, no mesmo dia da convocação desse descabido teste, foi aberto um edital de seleção para banco de cantores que, caso aprovados, irão trabalhar sem nenhum direito trabalhista.

Esse novo teste é ineficaz e não aconteceria em nenhum teatro sério do mundo!
São Artistas com anos de dedicação à arte e ao Theatro Municipal que a Sustenidos pretende, em um teste sem sentido, avaliar individualmente em dez minutos.

Está em curso a “uberização” do Theatro Municipal.
Pedimos sua ajuda para mostrar ao mundo o que estamos passando, e para que esse desmonte em curso possa ser revertido!

Musicos da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo

https://www.instagram.com/p/Cnu3blMAA8x/?igshid=MDJmNzVkMjY=

Querem demitir para contratar por demanda. Ao que parece o maior e mais importante Theatro de Ópera do Brasil e da América Latina vai mesmo se tranaformar num grande buffet de festa - como bem temos visto, nesta última gestão. Que lástima! Que vergonha!

Como público, digo aos valiosos artistas do Teatro Municipal de São Paulo: Resistam, resistam...!
Essa gestão passará, o Coro Lírico, a Orquestra Sinfónica Municipal de São Paulo, o Balé da Cidade de São Paulo permanecerão.

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