Soprano espanhola Jone Martínez foi destaque em elenco vocal superlativo, que contou ainda com a mezzo soprano Luisa Francesconi, o tenor Valentin Ditiuk e o barítono Paulo Szot
Foi muito boa a interpretação da Missa Nelson, de Haydn, que a Osesp, Coro e Coro Acadêmico da Osesp e solistas apresentaram na semana passada na Sala São Paulo, sob direção do maestro japonês Masaaki Suzuki. Na quinta-feira, dia 7 de agosto, o elã interpretativo do maestro e a superlativa qualidade de todos os executantes resultaram em uma apresentação muito especial.
A Missa Nelson foi composta por Joseph Haydn (1732-1809) em 1798. O título original, Missa in Angustiis, significa “em tempos difíceis”, e reflete o clima de turbulência política das guerras napoleônicas. Estruturada nos seis movimentos litúrgicos – Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus, Benedictus e Agnus Dei –, a obra combina o refinamento do classicismo com uma intensidade quase pré-romântica.
Com ótimo desempenho dos coros e da orquestra, Suzuki logrou construir um consistente discurso musical. E foram excelentes as performances dos solistas, com destaque para a soprano basca Jone Martínez, cuja parte é a mais exigente e virtuosística na obra. De lindo timbre, encorpado e claro, Martinez exibiu expressividade e técnica raras, com coloraturas ágeis e bem articuladas. O elenco contou ainda com a mezzo soprano Luisa Francesconi, com o tenor Valentin Ditiuk e com o barítono Paulo Szot – todos grandes artistas em excelente atuação, o que resultou em uma combinação vocal muito equilibrada. Foram 40 minutos de música de grande vigor dramático, em uma interpretação viva e emocionante.
A Missa Nelson foi o ponto alto do concerto, que na primeira parte ainda teve outros dois geniais mestres da música de todos os tempos: Mozart, com a abertura de sua ópera Don Giovanni, e Beethoven, com o Concerto para piano nº 4, tendo como solista o jovem pianista Tom Borrow – Borrow, artista em residência da Osesp, está fazendo a integral dos concertos de Beethoven com a orquestra.
Tom Borrow é um pianista de grandes recursos, com um toque claro e bem articulado. O artista ofereceu uma leitura correta e competente. Destaque foi a ótima interação dos executantes no segundo movimento, Andante, realçando muito bem os caráteres contrastantes no diálogo entre o piano e a orquestra. No geral, a interpretação privilegiou uma leitura mais romântica da obra, em detrimento do espírito clássico.
O mesmo ocorreu com a abertura do Don Giovanni, à qual Masaaki Suzuki imprimiu um andamento mais lento do que o habitual. A orquestra pareceu-me um pouco pesada, faltando-lhe leveza nas passagens mais rápidas e teatrais da partitura.
E aqui gostaria de fazer uma observação. Já tenho comentado antes sobre a questão do teto móvel da Sala São Paulo, que no ano passado sofreu alterações que resultaram em uma acústica de maior reverberação.
Há certamente vários fatores e parâmetros acústicos que levaram à decisão de alterar a configuração do teto móvel da sala. Mas, em uma sala que tem um longo tempo de reverberação – a da Sala São Paulo hoje deve estar próxima de 3 segundos –, ainda que se ganhe uma atmosfera sonora mais exuberante, há perda de clareza, detalhes e contornos.
Sem dúvida a Sala São Paulo é um espaço privilegiado para se ouvir música clássica. E segue sendo. Mas a sua acústica de maior reverberação contribuiu para o resultado mais pesado e “romântico” da orquestra, como no caso do concerto de Beethoven e da abertura do Don Giovanni.
Já na Missa de Haydn, pensada para a apresentação em um espaço de reverberações maiores, funcionou bem melhor.
Tudo considerado, foi um belo espetáculo, entusiasticamente aplaudido pelo bom público que compareceu à Sala São Paulo.
[A apresentação de sexta-feira foi gravada e pode ser assistida aqui.]

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