O pernambucano Marlos Nobre, um dos mais prolíficos e brilhantes compositores brasileiros, morreu na última segunda-feira, dia 2 de dezembro, aos 85 anos
Marlos Nobre de Almeida nasceu no Recife em 18 de fevereiro de 1939. Desde jovem demonstrou talento para a música, iniciando seus estudos no Conservatório Pernambucano de Música. Em 1955, ele se formou em piano e teoria musical, e continuou seus estudos em harmonia e contraponto no Instituto Ernani Braga até 1959.
Em abril de 2014, Marlos Nobre conversou com a Revista CONCERTO, quando relembrou momentos importantes da sua trajetória [leia o texto no Acervo CONCERTO]. “A composição surgiu como parte de meus estudos ao piano. Chegava uma hora que cansava de tocar os mesmos exercícios, as mesmas músicas. Então, passava a improvisar sobre elas, e não demorou muito para que eu começasse a colocar essas invenções no papel”, afirmou. “Eu improviso muito quando tenho que escrever uma obra. Nunca faço uma obra abstrata. Sempre parto do concreto, preciso deste trabalho sobre o som. É a partir daí que eu começo escrever.”
Nobre estudou composição com H.-J. Koellreutter e Camargo Guarnieri entre 1960 e 1962. “Estudei ao mesmo tempo com eles dois, para resolver uma problemática interna minha. Naquela época, eu já achava que a música brasileira estava demasiadamente presa a clichês, e isso me revoltava. Em compensação, o cerebralismo do pensamento serial também não me animava.”
Nos dois anos seguintes, com uma bolsa da Fundação Rockefeller, realizou estudos avançados de composição no Centro Latino-americano de Altos Estúdios Musicales do Instituto Torcuato Di Tella, em Buenos Aires, com Alberto Ginastera, Olivier Messiaen, Riccardo Malipiero, Aaron Copland e Luigi Dallapiccola. Estudou ainda com Alexandre Goehr e Günther Schüller, no Berkshire Music Center, em Tanglewood, nos Estados Unidos, onde também trabalhou com Leonard Bernstein. No mesmo ano estudou no Centro de Música Eletrônica de Columbia-Princeton, em New York, com Wladimir Ussachevsky.
Ao longo de sua carreira, Nobre ocupou diversos cargos importantes, incluindo a direção musical da Rádio MEC e do Instituto Nacional de Música da Fundação Nacional de Arte do Brasil. Entre 1985 e 1987, foi presidente do International Music Council of Unesco em Paris e, mais tarde, diretor da Fundação Cultural de Brasília.
A obra de Marlos Nobre tem uma linguagem musical eclética, de grande exuberância e invenção, que combina técnicas clássicas como politonalidade e atonalidade e influências estilísticas da música popular brasileira. Seu catálogo reúne quase 250 composições, de obras orquestrais, música de câmara, música para piano e música coral.
Ao longo de sua carreira, Nobre recebeu inúmeros prêmios e distinções, incluindo a Bolsa Guggenheim, o Prêmio Tomás Luís de Victoria da SGAE e a Ordem do Mérito Cultural do Brasil. Ele também foi professor visitante em várias universidades, incluindo Yale, Juilliard School, University of Texas e Indiana University. Marlos Nobre também ocupava a cadeira nº 1 da Academia Brasileira de Música.
Na entrevista de 2014 à CONCERTO, ele falou sobre seu trabalho como compositor. “Existem compositores com o desejo e a vontade deliberada de parecer brasileiro e que para isso se apropriam de um padrão rítmico, de uma escala ou qualquer outro elemento, achando que assim garantem essa caracterização. Isso é uma estética falsa, uma atitude em si falsa, de criar algo que não faz parte de uma linguagem própria. É uma estética do querer ser. Eu não quero ser, eu sou!”, disse.
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Acervo CONCERTO Uma conversa com Marlos Nobre, por Leonardo Martinelli
Textos Marlos Nobre: uma das mais destacadas figuras musicais de nosso país, por Irineu Franco Perpetuo
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Inegavelmente, um dos grande…
Inegavelmente, um dos grande ícones do cenário artístico-musical brasileiro, transitando por uma abrangente diversidade estética. Tive a honra de ter a sua monumental CHACONA AMAZÔNICA (1999), para banda sinfônica, a mim dedicada, cuja estreia ocorreu no Festival de Inverno de Campos do Jordão, à frente da Banda Sinfônica do Estado de São Paulo e que também obteve grande receptividade na Argentina, quando programada pela Banda Sinfônica da Cidade de Buenos e Banda Sinfônica da Província de Córdoba. Marlos Nobre é um capítulo a ser eternamente lembrado na História da Música Brasileira. Maestro Roberto Farias (compositor, comendador, chanceler e imortal da Academia de Música do Brasil) - Coordenador dos Grupos Artísticos de Cubatão e Diretor do MUSICAD - Seminário Permanente de Regência.
Inegavelmente, um dos…
Inegavelmente, um dos grandes ícones do cenário artístico-musical brasileiro, transitando por uma abrangente diversidade estética. Tive a honra de ter a sua monumental CHACONA AMAZÔNICA (1999), para banda sinfônica, a mim dedicada, cuja estreia ocorreu no Festival de Inverno de Campos do Jordão, à frente da Banda Sinfônica do Estado de São Paulo e que também obteve grande receptividade na Argentina, quando programada pela Banda Sinfônica da Cidade de Buenos e Banda Sinfônica da Província de Córdoba. Marlos Nobre é um capítulo a ser eternamente lembrado na História da Música Brasileira. Maestro Roberto Farias (compositor, comendador, chanceler e imortal da Academia de Música do Brasil) - Coordenador dos Grupos Artísticos de Cubatão e Diretor do MUSICAD - Seminário Permanente de Regência.