Percussionista celebra com disco brilhante seus 35 anos de carreira
Acaba de sair um disco, intitulado Percurso 35. Esse 35 se refere aos anos de carreira de Fernando Hashimoto, notável percussionista. É fascinante e sedutor.
Fernando Hashimoto nasceu no Rio de Janeiro em 1972. Com 18 anos mudou-se para Campinas, SP, para estudar percussão. Hoje é Professor Titular de Percussão e Rítmica da Universidade Estadual de Campinas/UNICAMP, onde tem desenvolvido pesquisa sobre o repertório brasileiro para percussão. É fundador e diretor do GRUPU - Grupo de Percussão da UNICAMPm e foi, por muito tempo, percussionista da Sinfônica de Campinas. Tem uma importante carreira internacional e estreou mais de 50 obras de compositores brasileiros.
O disco abre-se com uma obra intitulada K, de Bruno Ruviaro, para três percussionistas e sons eletrônicos. Data de 2003. Foi gravada em Portugal, e a Hashimoto se associa o grupo de percussão Drumming GP. A obra tem três movimentos, por assim dizer. Primeiro um prelúdio de extraordinário frescor e leveza, com sons de pássaros ou insetos em paisagens interestelares. Depois, no centro, uma sequência rítmica de percussão, como tam-tams de índios em cinemascope. Enfim, sonoridades inquietantes, uma grande onda sonora, e um final de dragão agonizante. Pura maravilha. Já ouvi não sei quantas vezes.
A segunda obra é Kettle Song, do compositor sueco Anders Åstrand. Ela foi encomendada pelo próprio Hashimoto e gravada na Suécia. De novo, um prelúdio com longas notas sustentadas em contraposto com ruídos que lembram objetos quicando. Depois, os tímpanos criam um ritmo corpóreo, envolvente, que dá lugar a um interlúdio rapsódico que abre para um balanço de dança nas marimbas. Tudo concebido com inspiração, delicioso de ouvir.
Percurso 35 tem todas as qualidades possíveis: compositivas, interpretativas, e também do belo nível técnico que apresentam as gravações
Arnica, composta pelo próprio Hashimoto em 2011, a terceira composição, talvez seja a mais misteriosa. É dedicada a Morris “Arnie” Lang, que foi durante muito tempo o percussionista da New York Philharmonic. Começa com ruídos de brinquedos de corda, pois, explica Hashimoto, Lang os colecionava com amor. Aos sons que pontuam o silêncio, integram-se longas frases do violino, para dar lugar a uma secção em que predominam vozes e falas dos músicos. Há então passagens maravilhosas desses sons vocais integrando-se às sonoridades do violino. A gravação foi feita em Nova Iorque, na presença de Lang, que faleceu em 2021.
Enfim, de Ernest Mahle, Música concertante para tímpanos e sopros, composta em 1958. É uma obra magnífica, talvez a mais inspirada de seu compositor. O libreto assinala seu caráter precursor na escolha da percussão como solista. O ajuste entre os sopros e os tímpanos reinventa-se e surpreende continuamente.
Percurso 35 tem todas as qualidades possíveis: compositivas, interpretativas, e também do belo nível técnico que apresentam as gravações. Nenhuma aridez, nenhum nombrilismo pernóstico por parte dos compositores. Ao contrário, sem quaisquer apelos fáceis que terminam sempre em kitsch, as composições seduzem imediatamente por aquilo que são: bela música admirável.
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