Isabel Leonard: uma riqueza de coloridos a serviço da palavra

por João Luiz Sampaio 03/04/2023

CURITIBA - Não foram necessários mais do que alguns segundos para que a plateia do Teatro Positivo se desse conta de que estava diante de uma voz única. O timbre escuro, quente; o cuidado e a clareza com o texto; a presença de palco: na ária Non son più cosa son, cosa faccio, das Bodas de Fígaro, de Mozart, a mezzo soprano Isabel Leonard deixou claro que aquela seria uma noite especial.

O concerto era especial também por outros motivos. A apresentação da última quarta-feira, dia 29 de março, celebrava os 330 anos da cidade de Curitiba e os 15 anos do Teatro Positivo. No palco, a Camerata Antiqua, sob regência de Ira Levin. 

Instrumentistas, cantores e maestro abriram o programa com o Te Deum em dó maior Hob. XXIII 2c de Haydn, encomendado pela imperatriz Marie Therese, esposa de Francisco I da Áustria. É uma peça relativamente curta, mas na qual ficou clara a atenção ao estilo e a exuberância e intensidade sonora habilmente trabalhadas por Levin.

Vieram então a abertura de As bodas de Fígaro, a primeira ária de Cherubino e dois trechos da obra nos quais Leonard foi acompanhada pela soprano brasileira radicada na Áustria Ornella de Lucca (que mais tarde apresentou obras de Villa-Lobos, entre elas a Melodia sentimental, de A floresta do Amazonas). Também participou o tenor Vitorio Scarpi, que arrancou aplausos do público com Granada – a peça foi apresentada pelo tenor José Carreras no recital de inauguração do teatro e, por isso, esteve no programa.

Com Una voce poco fa, de O barbeiro de Sevilha, Isabel Leonard levou a um patamar ainda mais alto a exploração dos coloridos de uma voz à vontade tanto na coloratura como nas regiões mais graves. Ela contou em entrevista antes da apresentação que, em maio, fará sua primeira Carmen, na Ópera Nacional de Washington. E, ao público de Curitiba, ofereceu alguns trechos da ópera. A julgar por eles, há uma mistura cativante de força e sensualidade. E, repito: as palavras. O cuidado com o texto, a clareza na pronúncia são parte indissociável da qualidade do canto da artista.

Há um outro aniversário no horizonte. Em 2024, a Camerata Antiqua completa 50 anos de atividades. O concerto de quarta-feira de certa forma abriu as comemorações. Mas, até lá, há ainda um ano de interessantes concertos e repertórios. 

A programação foi anunciada na semana passada e começa oficialmente em abril com a Paixão Segundo São João de Haydn, com regência de César Bustamante. Também neste mês, Márcio Steuernagel rege um programa de música brasileira com a participação do cravista Alessandro Santoro. 

Em maio, Luis Otávio Santos comanda leitura de Vespres á La Vierge, de Charpentier. Em junho, o destaque é o oratório Joshua, de Händel, com Ricardo Kanji na regência – o programa, com Marília Vargas, Aníbal Mancini, Paulo Mestre e Andrey Mira deve ser apresentado também no Festival de Inverno de Campos do Jordão.

Fernando Cordella comanda, em agosto, um programa batizado de O Violino Italiano, além de atuar com o grupo Guilherme de Camargo no recital Corda Dedilhada. Setembro leva a Curitiba Tobias Volkmann, para a Missa Sanctissimae Trinitatis, de Jan Zelenka. Em outubro, Neto Belotto sola em O Virtuose no Contrabaixo e Mara Campos rege o Réquiem de Fauré, com Sofia Alexandre Saggin e Cláudio de Biaggi como solistas.

João Rocha rege obra sua encomendada pela Camerata em novembro, além do Divertimento para cordas de Bartók. E Winston Ramalho e Luís Fernando Venturelli apresentam as Variações Rococó de Tchaikovski. Dois concertos encerram a temporada, em dezembro. Mara Campos e Luisa Francesconi apresentam repertório de autores argentinos e Bart Naessens comanda a Camerata no Magnificat de C.P.E. Bach.

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Isabel Leonard e Ira Levin durante concerto no Teatro Positivo com a Camerata Antiqua de Curitiba [Divulgação/José Fernando Ogura/SMCS]
Isabel Leonard e Ira Levin durante concerto no Teatro Positivo com a Camerata Antiqua de Curitiba [Divulgação/José Fernando Ogura/SMCS]

 

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