‘Oitava’ de Mahler festeja 20 anos da Sala São Paulo

por Nelson Rubens Kunze 08/07/2019

Não faltou entusiasmo na apresentação da Sinfonia nº 8 de Mahler, a Sinfonia dos mil, que marcou o início das comemorações dos 20 anos da Sala São Paulo, na última quinta-feira, dia 4 de julho: o órgão, a Osesp, a Osusp e os coros, que juntos somavam mais de 200 vozes, produziram uma potência sonora que deve ter feito estremecer até as fundações mais profundas da octogenária estrutura da Estação Julio Prestes. E se foi impressionante em sua força, também foi esse excesso de som o ponto problemático do espetáculo. 

Creio que, em parte, o que contribuiu para a reverberação exagerada tenha sido a elevação das placas acústicas do teto da sala. Fato é que nos tutti a imensa avalanche sonora chegava a encobrir a orquestra e nas passagens de caráter mais camerístico – tão características do estilo mahleriano – o som se confundia um pouco diluindo os contrapontos da escrita. Assim, se houve momentos muito bons, o som da orquestra e do coro, especialmente as texturas e os timbres, acabou prejudicado. 

No geral, contudo, foi bom o resultado artístico da apresentação conduzida por Marin Alsop, em uma interpretação que cresceu durante a performance. Marin ofereceu uma leitura orgânica que soube realçar momentos de grande intensidade, ao mesmo tempo em que deu espaço para o enlevamento de toda a transcendência que os textos sugerem, em uma execução bastante convincente. 

Gostei especialmente do elenco vocal, formado por oito de nossos mais destacados cantores: Gabriella Pace, Lina Mendes, Ludmilla Bauerfeldt (que fez a breve passagem da Mater Gloriosa na segunda parte), Luisa Francesconi, Denise de Freitas, Paulo Mandarino, Paulo Szot e Sávio Sperandio. 

Depois da primeira parte apresentada de forma convencional, com os solistas diante da orquestra, a partir da parte 2 o concerto ganhou alguns detalhes e movimentações cênicas. Solistas entravam e saiam do palco, os homens vestindo capas negras e as mulheres com figurinos de diversas cores e coroas de flores. Luzes coloridas iluminavam as colunas da Sala São Paulo e o teto móvel subiu à altura máxima, descobrindo o vitral da antiga estação. Foi uma bonita festa, uma comemoração em alto nível dos 20 anos da Sala São Paulo.

Infelizmente, contudo, no momento solene das falas, anterior à apresentação, a Fundação Osesp cometeu um erro ao não dar créditos ao maestro John Neschling, idealizador e principal líder da construção da Sala São Paulo (e da reestruturação da Osesp). Neschling não foi lembrado pelo diretor artístico Arthur Nestrovski, nem pelo presidente da Fundação Osesp Fábio Barbosa, nem pelo secretário da Cultura e Economia Criativa, Sérgio Sá Leitão; este ao menos mencionou o papel decisivo do governador Mário Covas e do secretário Marcos Mendonça.

Nunca é demais lembrar do que a Sala São Paulo significou para a história da atividade clássica e, por extensão, para toda a realidade da cultura em nosso país. Como escrevi em meu editorial deste mês da Revista CONCERTO “em vinte anos de programação ininterrupta – tendo como eixo as temporadas anuais da renovada Osesp –, a Sala São Paulo estabeleceu um novo paradigma de excelência para órgãos públicos de cultura no país. Esse verdadeiro milagre de política cultural pública – raro no mundo – não teria sido possível sem o incentivo e o patrocínio direto do governo do estado de São Paulo, capitaneado então por Mário Covas e tendo como secretário de Cultura Marcos Mendonça, ou sem o espírito empreendedor, corajoso e visionário do maestro John Neschling”.

Vida longa à Sala São Paulo!

 

Clique aqui e assista no YouTube ao concerto da Osesp com a Sinfonia nº 8 de Mahler.

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Apresentação da Sinfonia nº 8 de Mahler na Sala São Paulo [Divulgação]
Apresentação da Sinfonia nº 8 de Mahler na Sala São Paulo [Foto Revista CONCERTO]

 

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