CDs e DVDs: a seleção de agosto

por Redação CONCERTO 01/08/2019

Música barroca com Barthold Kuijken; uma reconstrução da Paixão segundo São Marcos feita por Jordi Savall; canções de Hugo Wolf com Diana Damrau e Jonas Kaufmann; a Sinfonia fantástica, de Berlioz, em versão para piano; harpa solo; o jovem Francisco Mignone; o violão de João Camarero; Mozart e Tchaikovsky por Andris Nelsons: confira a seleção dos principais lançamentos de CDs do mês preparada pela Revista CONCERTO. 

 

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THE GRAND MOGUL
Virtuosic Baroque Flute Concertos
Barthold Kuijken – flauta barroca / Indianapolis Baroque Orchestra
Lançamento Naxos. Importado. R$ 66,50
Desde o início de sua trajetória, o flautista suíço Barthold Kuijken demonstrou especial interesse pela música barroca. Irmão do violinista Sigiswald Kuijken e do violoncelista Wieland Kuijken, ele integra uma família responsável por revelar aos ouvintes de nosso tempo essa música em toda a sua riqueza e a sua complexidade, tanto como intérprete como à frente de conjuntos como a Indianapolis Baroque Orchestra, da qual é diretor artístico. E é com esse grupo que Kuijken gravou uma coletânea de cinco concertos para flauta que ajudaram a definir a sonoridade do instrumento ainda no século XVIII, quando o gênero do concerto para solista e orquestra ganhava celebridade na Itália, pelas mãos de autores como Vivaldi e Pergolesi. Ambos estão presentes no álbum, com o Concerto Il Gran Mogol e o Concerto em sol maior, respectivamente. Mas o que torna o álbum particularmente interessante – além, é claro, do nível da interpretação – é a decisão de unir a esses autores peças de compositores alemães (Telemann) e franceses (Leclair e Blavet), mostrando sonoridades distintas, em um retrato interessante da música de outro tempo e do modo como ela soava diversa e rica.


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WOLF: ITALIENISCHES LIEDERBUCH
Diana Damrau – soprano / Jonas Kaufmann – tenor / Helmut Deutsch – piano
Lançamento Erato. Importado. R$116,60
No universo do lied, a canção de arte alemã, Schubert e Schumann são naturalmente referências obrigatórias. Mas, para o amante desse repertório, outro ponto de parada é o compositor austríaco Hugo Wolf. Ele escreveu, ao longo da vida, diversos ciclos – entre os quais, tornou-se mais célebre o Italienisches Liederbuch, baseado em uma coletânea de poemas italianos traduzidos para o alemão por Paul Heyse. São, ao todo, 46 canções, todas com texto curto, destinado a uma voz masculina e uma voz feminina, que assumem papéis diferentes a respeito do amor, alternando entre idealizações, arroubos sentimentais e preocupações práticas. Isso faz com que a interação entre os cantores se torne fundamental – e é o que acontece com a presença do tenor Jonas Kaufmann (que assume uma partitura normalmente interpretada por um barítono) e a soprano Diana Damrau. São dois dos maiores cantores da atualidade, que revelam uma química envolvente, acompanhados de perto por um mestre da arte do acompanhamento, o alemão Helmut Deutsch, com quem Kaufmann esteve no Brasil há dois anos para recital na Sala São Paulo. Uma nova leitura de referência.


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BACH
Concerto para dois, três e quatro pianos
David Fray
– piano e regência
Cordas da Orchestre Nationale du Capitole de Toulouse
Lançamento Warner Classics. Importado. R$ 93,30
Cinco concertos para piano de Bach estão presentes no novo álbum do pianista David Fray – e a primeira pergunta a fazer é: Bach escreveu cinco concertos para piano? A resposta é “não”. Mas Fray, um dos nomes mais célebres do piano contemporâneo, e seus colegas pianistas Jacques Rouvier, Emmanuel Christien e Audrey Vigoreux mergulharam na obra do compositor e dela retiraram o repertório para o álbum. O concerto BWV 1062, por exemplo, é uma transcrição do concerto para dois violinos; o BWV 1065, por sua vez, é uma recriação do décimo concerto do L’Estro armonico, de Vivaldi; o BWV 1061 é a reprodução do dueto para dois cravos que, após a morte do compositor, ganhou acompanhamento orquestral por autor desconhecido; e assim por diante. Nesse universo de originais e transcrições, torna-se particularmente interessante perceber como uma obra de arte pode ser relida ao longo do tempo – em especial por intérpretes que, em instrumentos modernos, brindam outra leitura de peças-chave do repertório, oferecendo a elas insights plurais.


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HECTOR BERLIOZ: SYMPHONIE FANTASTIQUE
Jean-François Heisser
e Marie-Josèphe Jude – pianos
Lançamento Harmonia Mundi. Importado. R$ 111,20
Em seu famoso tratado de orquestração, o compositor Hector Berlioz diz o seguinte a respeito do piano: “No nível de perfeição a que chegou pelas mãos de seus hábeis fabricantes hoje, o piano pode ser considerado a partir de uma perspectiva dupla: como um instrumento orquestral ou como pequena orquestra”. Não por acaso, ao longo do século XIX, tornou-se comum a prática de se criarem versões para piano de grandes obras orquestrais – prática utilizada pelo próprio Berlioz e, principalmente, por Franz Liszt e suas famosas transcrições. E isso oferece uma justificativa histórica para a decisão do pianista francês Jean-François Heisser, professor do Conservatório de Paris (onde deu aulas a nomes como Betrand Chamayou e Jean-Frédéric Neuburger), de escrever uma transcrição para a Sinfonia fantástica, de Berlioz, uma das mais importantes obras sinfônicas do século XIX. E há ainda outro detalhe no álbum: Heisser e Marie-Josèphe Jude, também professora do conservatório, registram a peça em um “piano duplo” Pleyel de 1928, ou seja, um instrumento único com dois teclados, cuja sonoridade torna-se um atrativo à parte.


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J. S. BACH: MARKUS PASSION
La Capella Reial de Catalunya
Le Concert des Nations
Jordi Savall
– direção musical
Lançamento Alia Vox. Importado. 2 CDs e livro. R$ 126,30
A Paixão segundo São Mateus e a Paixão segundo São João estão entre as maiores obras de Bach e de todo repertório. Contudo, relatos biográficos dão conta de que o compositor escreveu, na verdade, cinco obras do gênero. Das outras três, a música se perdeu – o texto de Paixão segundo São Marcos, porém, sobreviveu. Extensas pesquisas foram feitas ao longo das décadas para recuperar a música. E, se o original nunca foi achado, especialistas são unânimes em afirmar que Bach utilizou na obra a prática do pasticccio, ou seja, separou outras peças de sua autoria e as reorganizou para construir a partitura. Com essa informação, Jordi Savall – referência na interpretação da música antiga e na pesquisa histórica, com a qual busca sempre uma ponte com o presente – resolveu reunir todas as informações disponíveis e oferece neste disco sua reconstrução do que imagina ter sido a Paixão segundo São Marcos (BWV 247); é uma revelação fascinante, com toda a sensibilidade dos músicos de seus conjuntos, La Capella Reial de Catalunya e Le Concert des Nations. Um marco histórico.


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SOLO
Anaïs Gaudemard – harpa
Lançamento Harmonia Mundi. Importado. R$ 107,30
Formada em 2013 em Lyon, a harpista francesa Anaïs Gaudemard rapidamente conquistou espaço no cenário internacional e chamou a atenção de maestros como Claudio Abbado, com que se apresentou ao lado da Orquestra do Festival de Lucerna. No ano passado, recebeu o prêmio Echo Klassik de “Estrela em ascenção”. E agora lança seu primeiro disco solo, em que percorre séculos de história da música, mostrando como o próprio instrumento se desenvolveu. A viagem começa com Scarlatti e Carl Philipp Emanuel Bach. Em seguida, ela toca Impromptu, de Fauré, e entra na música do século XX, sempre aproximando obras de autores de linguagens distantes. Ela chama atenção, por exemplo, ao fato de que tanto a Sonata de Hindemith quanto Légende, de Henriette Renié, buscam na poesia inspiração para a criação musical. E lembra que Bamyan, de Philippe Hersant, evoca a música do Afeganistão no início dos anos 2000, justamente quando o país foi palco de guerra. O objetivo, ela explica, era mostrar diferentes timbres e texturas da harpa. Objetivo mais que atingido.


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MOSAICOS
Camerata de Violões de Campinas

Lançamento independente. Nacional. R$ 33,20
Formada por jovens violonistas brasileiros, a Camerata de Violões de Campinas mostra, já no nome do CD, sua compreensão da nova música brasileira. É um cenário composto de diferentes correntes que só formam um retrato completo quando pensadas em conjunto, com em um mosaico. Foi assim que os músicos, vencedores do XI Concurso de Violão do Uruguai, montaram o repertório. De um lado, estão autores como Ernesto Nazareth e Ricardo Tacuchian, cujas trajetórias já foram absorvidas pelo meio musical e compreendidas como decisivas para se entender a música brasileira do século XX e do início do século XXI. De outro, foram selecionadas obras de autores jovens, que iniciam seu trabalho com questões como o limite entre o popular e o erudito de maneira bastante original, caso de André Batiston (autor de Interior), Mateus Fávero e Gabriel Falcão (Zaira), Isadora Penna (Matalotagem e Rachaduras) e Thiago Reimberg (Feira das terças). Quem ganha, a partir dessa mistura, é o ouvinte – e também o violão, que segue como parte essencial da identidade da música brasileira na obra de jovens e promissores compositores.


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CHICO BORORÓ 
Um jovem Mignone
Maria Josephina Mignone
– piano / Neti Szpilman – soprano
Lançamento independente. Nacional. 2 CDs. R$ 69,90
Nos anos 1930, o compositor Francisco Mignone criou o pseudônimo Chico Bororó para escrever peças de caráter popular – que seriam eventualmente interpretadas por grandes nomes como o cantor Francisco Alves. Anos depois, Mignone definiria Chico como “um estado de espírito” – que o público agora tem a chance de conhecer em sua completude com a gravação de sua obra completa em um álbum duplo com a pianista Maria Josephina Mignone, sua viúva, que, no primeiro disco, interpreta peças para piano solo e, no segundo, se une à soprano Neti Szpilman no registro de canções que estão entre as mais interessantes de Mignone, flertando com a música sertaneja. Um detalhe interessante: o próprio compositor aparece no álbum, com uma faixa rara, na qual interpreta a canção Mandinga doce. Gravado no ano passado e agora lançado, Chico Bororó – um jovem Mignone se une ao trabalho que Maria Josesphina e sua filha Anete têm feito para recuperar a obra de Mignone, com gravações históricas que serão referência para o estudo e a compreensão da trajetória do compositor.


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VENTO BRANDO
João Camarero
– violão
Lançamento Guitarcoop. Nacional. R$ 36, 50
No encarte do álbum, o jornalista e crítico Lucas Nobile escreve que ,“desde Raphael Rabello (no violão de sete cordas) e Marcus Tardelli (no de seis), não havia aparecido ninguém que tocasse combinando tanta pressão e tanta limpidez em absolutamente todas as notas, em todas as frases, em todas as levadas”. Diz mais: “Desde seu primeiro disco, [João Camarero] já não era uma promessa, mas uma bem-vinda e confirmada realidade”. As palavras são grandiosas, mas fazem justiça à audição de Vento brando, em que Camarero, jovem representante do violão brasileiro, se afirma não apenas como intérprete, mas também como autor. No primeiro grupo, estão obras de Radamés Gnattali, Garoto, Canhoto, Raphael Rabello e Paulo César Pinheiro; no segundo, criações próprias, como O maestro na farra, Paulistano (em parceria com Rafael Mallmith) e Vento brando (criada com Cristóvão Bastos). Uma chance de conhecer um nome fundamental do novo violão brasileiro, que dá continuidade a uma linhagem de grandes intérpretes/compositores que ajudaram a moldar a música brasileira.


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DVD
MOZART E TCHAIKOVSKY
Andris Nelsons
– regente
Orquestra do Gewandhaus de Leipzig
Lançamento Accentus Music. Importado. R$144,40
A Sinfonia nº 40 de Mozart e a Sinfonia nº 6, Patética, de Tchaikovsky estão, sem dúvida, entre as mais gravadas obras da história da indústria fonográfica. No entanto, parte da grandeza de obras-primas assim reside na capacidade de despertar sempre novas e fascinantes leituras. E, neste caso, estamos diante de um dos mais interessantes maestros da nova geração, o letão Andris Nelsons, que, à frente da Sinfônica de Boston e da Orquestra do Gewandhaus de Leipzig, tem registrado uma discografia consistente, da qual este DVD é apenas o exemplo mais recente. O registro é lançado para marcar a estreia de Nelsons à frente do grupo alemão e traz aquela que tem sido sua marca registrada: leituras repletas de intensidade aliadas a um cuidado com a precisão da interpretação e a preocupação em revelar novos recantos das partituras. O resultado são leituras a ser colocadas lado a lado com as dos grandes da história.

Todos os CDs estão disponíveis na Loja CLÁSSICOS