Entre 27 de agosto e 1º de setembro, a Avenida Paulista vai se transformar em uma verdadeira vitrine da dança
Por Katia Calsavara [Katia Calsavara é jornalista, atriz e produtora cultural. Estudou 27 anos de dança com a equipe do Ballet Marly Zavar, em São Paulo. Como atriz, integrou o elenco da companhia Os Satyros durante oito anos. Atualmente, trabalha em projetos independentes, como a dança-teatro “Até Quando Você Cabe em Mim?”. Escreveu reportagens sobre dança para a Folha de S.Paulo por mais de 15 anos. É editora na Revista Qualé.]
É inegável a importância que os festivais e mostras de artes cênicas desempenham na fruição e no compartilhamento dos saberes da dança, do teatro, do circo e da performance. Seja pela programação variada que reúne artistas de diferentes localidades, seja pela oportunidade de mostrar um panorama do que é produzido nacional e, em alguns casos, internacionalmente, eles contribuem para fomentar e divulgar trabalhos que nem sempre são apresentados a um grande público.
Assim, a cidade de São Paulo pode comemorar a junção da primeira edição da Mostra Internacional de Dança, a MID-SP, com a 6ª Semana Paulista de Dança em um grande evento que acontecerá entre os dias 27 de agosto e 1º de setembro. A programação inclui diferentes estilos, técnicas e origens dessa arte, e será realizada no Masp (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand) e no Itaú Cultural, ambas instituições localizadas na Paulista.
Curadores e produtores fizeram um trabalho cuidadoso para unificar as duas mostras e possibilitar que todas as 22 atrações, incluindo espetáculos, videodanças e fóruns, aconteçam em horários diferentes. Será uma semana movimentada, gratuita e diversa, contemplada por linguagens como jazz dance, dança flamenca, teatro-dança, clássico livre, dança experimental, dança regional, balé neoclássico, dança contemporânea e dança afro-diaspórica.
Realizada em parceria com a Associação Pró-Dança, a MID-SP selecionou grupos de oito cidades brasileiras além de duas atrações internacionais, da Argentina e dos Estados Unidos, e exibições de videodanças. Já a 6ª Semana Paulista de Dança conta com a presença de companhias das cidades do Rio de Janeiro, Jundiaí, Goiânia, Caxias do Sul, São Paulo, Natal e Belo Horizonte.
Para Inês Bogéa, diretora da São Paulo Companhia de Dança e diretora artística da MID-SP, “festivais e mostras são vitais para a difusão da arte da dança, pois desempenham um papel crucial na criação, disseminação e valorização dessa forma de arte em suas diversas expressões. Ampliando circuitos já existentes, como a 6ª Semana Paulista de Dança, a MID-SP oferece espaço para a fruição estética, permitindo que o público vivencie emoções e experiências profundas. Além disso, o fomento é um elemento chave, incentivando a produção e a difusão artística, essencial para manter a vitalidade e a inovação no campo da dança”.
À frente da MID, a curadora Marcela Benvegnu conta que o processo de seleção das companhias e artistas envolveu três pilares fundamentais: fruição, formação e fomento. “A intenção foi refletir a pluralidade de expressões artísticas e culturais presentes no cenário da dança, tanto do Brasil, quanto do exterior. A MID-SP reúne espetáculos de várias localidades brasileiras, além de apresentações internacionais, vindas da Argentina e dos Estados Unidos. Cada espetáculo foi escolhido para refletir a dança que se faz nessas localidades, destacando a riqueza e a diversidade das práticas coreográficas e dos diferentes estilos”, conta.
Já Anselmo Zolla, curador da Semana Paulista de Dança desde a sua criação, em 2018, e diretor artístico da Studio3 Cia. de Dança, a junção dos eventos foi uma feliz coincidência, afirma. “Essa ideia fantástica vai transformar a nossa mais emblemática avenida, que já é palco dos maiores eventos artísticos, políticos, sociais e culturais do país, em uma vitrine da dança, aproximando ainda mais a nossa arte de todos”.
Para se ter dimensão da importância de festivais e mostras de artes cênicas como fomentadoras da arte, basta lembrar da trajetória do veterano Festival do Teatro Brasileiro (FTB), que existe há 25 anos, e do Movimento Internacional de Dança, com nove edições desde 2009, ambos na região Centro-Oeste do país. Organizados por Sergio Bacelar, os dois eventos movimentam a região e já contam com um público cativo. “Os festivais se transformaram no maior veículo de circulação de artes cênicas no país. Graças a eles, espetáculos de todas as regiões ganham espaço para apresentações em locais às vezes inacessíveis sem este mecanismo. O que já foi uma realidade, a circulação de grupos e espetáculos em décadas passadas, passou a ser ocasional, e os festivais permitem trocas de conhecimento, inspiram e estimulam os profissionais”, comenta Bacelar.
Outro exemplo de sucesso é o Festival de Dança de Joinville, de Santa Catarina, há 41 anos movimentando alunos, escolas, professores, grupos, companhias, sempre acompanhado de sua organização profissional e fomentadora da arte da dança. O mesmo se pode dizer do Festival de Teatro de Curitiba, que existe há 32 anos.
“A MID-SP pretende se firmar como um evento anual no calendário cultural de São Paulo, reunindo grupos de dança do Brasil e de outros países. Nosso objetivo é o de fortalecer continuamente o cenário artístico e cultural, tornando-se uma referência para amantes e praticantes da dança”, comenta a diretora artística Inês Bogéa.
É importante também destacar as produções audiovisuais e os debates que acontecem durante a semana. A Mostra de Videodanças Dança Viva, que conta com curadoria de Charles Lima e Daniel Reca, apresenta 16 trabalhos de diferentes estados do Brasil e de países como Argentina, Chile e França. Os curadores explicam que a ideia por trás do caleidoscópio da mostra foi apresentar uma variada gama de produtos audiovisuais que contemplem internacionalismo e inclusão: “O principal critério foi a procura de trabalhos concebidos como ‘coreografias de imagens’, capazes de estabelecer uma linguagem a partir do cruzamento entre dança, cinema e artes visuais. São pesquisas que fazem interagir os movimentos do corpo e da câmera, além dos recursos de pós-produção”.
Já no fórum Encontros e Diálogos, os debates promovem e incentivam o intercâmbio de artistas, promovendo uma compreensão mais profunda sobre a arte da dança, mas não se dedica apenas a esses profissionais e busca alcançar todo tipo de público. A curadoria é de Sayonara Pereira, que investiu em temas como processos criativos, produção em dança e circulação de grupos e companhias. Também haverá espaço para um pitch online, onde diversos grupos podem apresentar seus trabalhos brevemente. “Os debates são relevantes para pessoas de diferentes áreas. Essas discussões abordam temas como editais, metodologias, processos criativos, circulação, que são aplicáveis em diversos segmentos. A troca de experiências e ideias podem inspirar e beneficiar qualquer pessoa interessada em compreender melhor esses universos”, finaliza a curadora.
Clique aqui para acessar a programação completa da 6ª Semana Paulista da Dança
Clique aqui para acessar a programação completa da Mostra Internacional de Dança de São Paulo
É preciso estar logado para comentar. Clique aqui para fazer seu login gratuito.
Comentários
Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da Revista CONCERTO.