LISBOA - A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais faz hoje à noite em Lisboa uma apresentação para celebrar o bicentenário da Independência. O concerto será realizado no Jardim da Torre de Belém e terá obras de Carlos Gomes, Lorenzo Fernandez, Guerra-Peixe e Alberto Nepomuceno, além do Hino à Independência, de D. Pedro I. O público brasileiro poderá acompanhar a orquestra a partir das 21h30, horário de Brasília, pelo YouTube da filarmônica ou pela Rede Minas, que começa a exibição às 22 horas.
A apresentação em Lisboa é a segunda da filarmônica em Portugal. A turnê começou ontem, dia 6, na Casa da Música do Porto, com um repertório quase inteiramente composto de música brasileira. De Carlos Gomes, o Prelúdio e a Alvorada de O escravo; de Villa-Lobos, as Bachianas brasileiras nº 3 e os Choros nº 6. O concerto deu amostras da solidez do trabalho da filarmônica sob o comando de seu diretor artístico e regente titular Fabio Mechetti. Foi uma estreia sóbria, precisa, equilibrada, que sugeriu uma identidade muito própria da orquestra.
Entre tantos momentos especiais – um Carlos Gomes virtuosístico, de sonoridade quase wagneriana, um Choros construído com um senso claro de arquitetura – fico com a Fantasia, Devaneio, segundo movimento das Bachianas brasileiras nº 3.
Não são mais do que sete minutos de música, mas eles carregam mundos. O crescendo inicial, a chegada do piano (que autoridade, que sobriedade, Jean-Louis Steuerman). Os metais, as madeiras, explosões na orquestra. E é só o começo.
Pois entra o clarinete (Marcus Julius Lander), puxando a música para outra direção. É uma das melodias mais bonitas de Villa-Lobos. O piano retorna, Steuerman comanda a mudança de clima, o lirismo, mas também o contraste. Nova explosão, mas agora a melodia se impõe, a princípio forte, mas depois intensa, se decantando até se transformar quase em música de câmara. Corne inglês (Israel Muniz), clarone (Ney Franco), fagote (Adolfo Cabrerizo), trompa (Alma Maria Leibrecht), cordas, impecáveis.
Villa-Lobos, como me disse Steuerman, é sempre um problema, mas porque é sempre original. A dificuldade, ele explica, está na orquestra, no piano, mas principalmente em fazer tudo soar junto. Ontem, soou. A qualidade dos solistas da orquestra se junta a uma musicalidade que nasce da precisão. Alguém já dissse que é preciso disciplina para ser livre. A filarmônica mostrou que é preciso disciplina também para recriar o caos de um devaneio que não se quer apenas lírico, exaltado, sutil ou violento. A seu modo, Villa-Lobos tenta abarcar todo um mundo. É uma ilusão que ontem pareceu quase possível.
[O jornalista João Luiz Sampaio viajou a Portugal a convite do Instituto Cultural Filarmônica]
Leia também
Notícias Concerto em Salvador dá a largada de nova turnê da Orquestra do Neojiba
Notícias Coletivo Ubuntu promove ópera com elenco inteiramente negro
Notícias Ópera ‘Domitila’, de João Guilherme Ripper, ganha diferentes montagens no bicentenário da Independência
Crítica Montagem é fiel ao espírito da ‘Ópera dos três vinténs’
É preciso estar logado para comentar. Clique aqui para fazer seu login gratuito.
Comentários
Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da Revista CONCERTO.