Compositoras em foco: Chiquinha Gonzaga e a música para piano

por Redação CONCERTO 06/03/2024

Nascida em outubro de 1847 no Rio de Janeiro, Francisca Edviges Neves Gonzaga, mais conhecida como Chiquinha Gonzaga, iniciou-se ao piano na infância. Com 16 anos, casou-se, mas a união acabou quando o marido lhe colocou a escolha entre a família e a música.

Nessa época, Chiquinha viajou pelo sul do País e, ao iniciar a relação com um jovem engenheiro, estabeleceu-se em Minas Gerais, em 1870. Cinco anos depois, mudou-se para o Rio de Janeiro. O casal se separou e, julgada por crime de abandono do lar e adultério, foi condenada à “separação perpétua” de seu primeiro marido.

Então com 29 anos, ela passou a trabalhar na cena musical carioca para sobreviver. Deu aulas de piano, participou de conjuntos musicais (como o Choro Carioca, liderado por Joaquim Antônio Callado) e começou a compor suas obras. Trabalhou no teatro de revista e, em 1885, estreou sua primeira obra teatral, a opereta A corte na roça

Pouco depois, escreveu aquela que seria a mais famosa marcha de carnaval brasileira, Ó abre alas, composta durante período em que morou no bairro do Andaraí, onde ficava a sede do cordão Rosa de Ouro. Foi autora também de polcas, maxixes, tangos e marchinhas, explorando uma variedade de gêneros musicais.

“Utilizando a música como meio de subsistência, Chiquinha Gonzaga abandonou marido, amantes e filhos e saiu em busca da realização das próprias vontades. Além da intensa atividade musical, ela também se envolveu de forma ativa com grandes questões de seu tempo (o abolicionismo e a proclamação da República), bem como liderou uma luta pioneira pelo respeito aos direitos autorais no Brasil”, escreveu Camila Fresca sobre a compositora na edição de abril de 2021 da Revista CONCERTO.

“Chiquinha é uma mulher cujo caráter transgressor na conduta é tão extraordinário que muitas vezes se deixa em segundo plano aquilo que a tornou célebre em seu tempo: sua música. Produzindo numa fase de transição, foi personagem central na construção de uma música popular brasileira a partir dos gêneros de salão europeus”, completou.

“Vejo nela uma criação interminável”, afirmou na mesma ocasião a pianista Maria Teresa Madeira, especialista na obra da compositora. “Ninguém abordou tantos gêneros diferentes quanto Chiquinha. Ela classificou suas partituras como recitativo, fado, valsa, polca, dobrado, zarzuela, barcarola, habanera, tango brasileiro, tango-choro, tango-polca e muito mais. A boa formação como pianista, a influência de músicos de alto calibre e os sons que ouvia nas ruas moldaram a produção de Chiquinha. Ao tocar polca com influência do lundu, mudando a acentuação, nascia o maxixe, que nada mais é que o tango brasileiro, um gênero muito específico para o piano”, explicou.

Às vésperas de completar 70 anos, em setembro de 1917, Chiquinha tornou-se uma das fundadoras da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, ao lado de nomes como Oscar Guanabarino, Viriato Corrêa, Gastão Tojeiro, Bastos Tigre, Raul Pederneiras e Oduvaldo Vianna. 

Chiquinha Gonzaga morreu no dia 28 de fevereiro de 1935, aos 87 anos.

Roteiro
A pianista Maria Teresa Madeira faz, no sábado, concerto com a Orquestra Sinfônica da USP dedicado à compositora. Também no sábado, na série Aprendiz de Maestro, da Tucca, a autora será homenageada no espetáculo O rolê da Chiquinha. Veja mais detalhes sobre as apresentações no Roteiro do Site CONCERTO.

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Chiquinha Gonzaga [Acervo Instituto Moreira Salles]
Chiquinha Gonzaga [Acervo Instituto Moreira Salles]

 

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