O compositor e escritor canadense R. Murray Schafer morreu no último sábado, dia 14, após anos de luta contra o Mal de Alzheimer. Ele estava com 88 anos. Autor de importantes livros sobre música, ele estudou o conceito de “paisagem sonora”, também presente em sua obra como criador.
Nascido no Canadá, ele demonstrou ainda na infância interesse pela pintura, seguindo mais tarde para a música. Mudou-se para os Estados Unidos, onde frequentou a universidade. Mas, incomodado com as regras do estudo formal, abandonou o curso e seguiu para a Europa, vivendo primeiro na Áustria e, mais tarde, na Inglaterra.
De volta ao Canadá, criou, em 1969, o The World Soudscape Project, grupo de estudos na Simon Fraser University dedicado ao que chamou de ecologia acústica, com o objetivo de chamar a atenção das pessoas para o som ambiente e seu caráter de constante mudança. Para ele, a ideia de design de uma paisagem sonora era uma alternativa à poluição sonora.
“Nossa busca era por encontrar soluções para uma paisagem sonora equilibrada no que diz respeito à ecologia, na qual a relação entre a comunidade humana e seu ambiente sonoro está em harmonia”, contou em suas memórias.
Como compositor, Schafer dedicou-se a diferentes gêneros, com especial atenção à música coral, símbolo de seu fascínio pela voz como instrumento. E colocou em prática a ideia da música em diálogo com o ambiente.
Em Music for wilderness lake, por exemplo, doze trombonistas tocam em torno da água. Na ópera Princess of the stars, os artistas se reúnem nas margens de um lago uma hora antes do alvorecer, com os primeiros cantos dos pássaros como elemento do drama.
Schafer escreveu diversos livros, alguns deles publicados no Brasil pela Editora da Unesp. Em a Afinação do Mundo, ele discute o conceito de paisagem sonora, defendendo a ideia de que ela pode ser aperfeiçoada e propondo que seja replanejada a partir de um novo jeito de ouvir, criterioso, que pode ser ensinado na escola pública. A questão da formação musical é tema de Ouvido Pensante, no qual ele se recusa a elaborar um método ou um sistema de ensino a ser seguido, propondo múltiplas abordagens de como a música pode ser inserida e praticada na sala de aula e atuar de forma ativa na formação do cidadão. Ouvircantar traz exercícios que podem nos auxiliar na busca por reaprender a ouvir e a escutar.
Seu livro mais recente publicado no Brasil é Vozes da tirania, em que mais uma vez defende a construção de um futuro mais humanista, voltado ao bem-estar, respeitoso para com o meio ambiente e, por consequência, menos caótico.
Sua obra foi tema da tese de doutorado da musicóloga Marisa Trench de Oliveira Fonterrada. O texto foi em seguida publicado em livro, O lobo no labirinto, no qual ela procura desvendar os inúmeros sentidos da obra do compositor.
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