Conferência da Ópera Latinoamérica discute parcerias e coproduções em primeiro dia

por Redação CONCERTO 18/05/2023

Representantes de quarenta e quatro teatros e instituições ligadas à ópera da América Latina, Espanha e Estados Unidos participaram nesta quinta-feira, dia 18, do primeiro dia de conversas e debates da 16ª Conferência Anual da Ópera Latinoamérica.

A abertura foi realizada no Teatro Amazonas, onde de hoje até domingo, serão apresentadas as óperas O contractador de diamantes, de Francisco Mignone; Anna Bolena, de Donizetti; Peter Grimes, de Britten; e Piedade, de João Guilherme Ripper, pela programação do 25º Festival Amazonas de ópera. 

Durante a abertura, Marco Apolo Muniz, secretário de Estado de Cultura e Economia Criativa, falou da importância de pensar a ópera também como um vetor econômico. Flávia Furtado, diretora executiva do festival, defendeu a união entre teatros como forma de dar voz própria à ópera na América Latina, assim como Alejandra Martí, que celebrou também a vinda ao Brasil da conferência pela primeira vez após 16 edições.

Ramiro Osorio, do Teatro Mayor Julio Mario Santo Domingo, vice-presidente da OLA e ex-ministro da Cultura da Colômbia, ressaltou o papel da cultura em políticas públicas de desenvolvimento. E o governador do Amazonas, Wilson Lima, falou na importância do festival em um processo de descentralização e popularização da cultura.

Parcerias

A primeira mesa da conferência, realizada no Palácio da Justiça, tocou no tema das parcerias, coproduções e da circulação de óperas entre teatros ibero-americanos. É uma questão marcada por dificuldades de infraestrutura ou mesmo geográficas. Mas que, de acordo com os participantes da mesa, também tem um caráter humano que não pode ser ignorado, para além da possibilidade de possíveis economias financeiras.

Coproduzir é compartilhar uma maneira de fazer ópera. É preciso ter infraestrutura, mas também uma equipe disposta a dialogar, a se abrir para novas ideias. Não é um simples processo financeiro, diz José Luiz Rivera

Para José Luiz Rivera, do Auditório de Tenerife, na verdade, a questão financeira está longe de ser prioritária, pois coproduções não significam necessariamente menos custos. “Coproduzir é compartilhar uma maneira de fazer ópera, e isso tem a ver com o que você é como teatro. É preciso ter infraestrutura, mas também uma equipe disposta a dialogar, a se abrir para novas ideias. Não é um simples processo financeiro. É lícito diminuir custos e isso pode eventualmente acontecer, mas não é, para nós, o foco.”

Ainda segundo o diretor, são três os eixos que devem pautar uma relação entre teatros da ópera na hora de trabalhar em conjunto: confiança, aprendizado coletivo, “com um aprendendo com o outro”, e colaboração, ou seja, a capacidade de compartilhar ideias, mas ouvir, mudar de ideia, pensando de forma sempre coletiva. “Um outro aspecto é ter em mente que definir um espaço comum passa também pela mobilidade do talento ou pela defesa de nossos idiomas, um valor que precisa ser defendido e valorizado.”

Primeira mesa da conferência foi realizada no Palácio da Justiça, no centro de Manaus [Divulgação]
Primeira mesa da conferência foi realizada no Palácio da Justiça, no centro de Manaus [Revista CONCERTO]

Mas, claro, há questões estruturais a serem consideradas. Carmen Gloria Lorenas, diretora do Teatro Municipal de Santiago, colocou o próprio caso de Manaus, “rodeado de água e floresta”. Flávia Furtado, diretora executiva do Festival Amazonas, lembrou, por exemplo, que para mandar cenários para Santiago, é necessário primeiro transportá-los ao Rio Grande do Sul e, de lá, ao Chile, por questões geográficas. Ramiro Osorio deu outro exemplo: trazer para Cartagena cenários de Madri custa 10 mil euros; e são necessários mais 10 mil euros para ir de Cartagena a Bogotá.

A coprodução é muito importante quando vamos conversar com os políticos e os empresários. A conexão com o mundo é um diferencial, diz Flavia Furtado

“E há questões ligadas a impostos e à circulação de bens artísticos e culturais. Esse é um ponto sobre o qual precisamos começar a conversar com nossos governos, para que os países possam compartilhar melhor as produções que realizam”, disse Flavia. “A coprodução é muito importante quando vamos conversar com os políticos e os empresários. A conexão com o mundo é um diferencial”, completa.

Para ela, teatros pequenos não devem ter receio de, em suas palavras, “colocar todas as cartas na mesa”, compartilhando suas possibilidades reais no contato com outros teatros maiores. Osorio, nesse sentido, também propôs que casas de ópera de maiores proporções, em vez de alugar produções, as emprestem. 

Sobre isso, Augusto Techera, do Teatro Colón, lembrou que é sempre bom olhar para o caso de cada teatro e país. “Com a desvalorização da moeda argentina, ainda que tenhamos a capacidade e estrutura de produzir com custos menores, não temos condição de abrir mão de um só dólar.” Para ele, o ponto central é que a colaboração precisa ser uma decisão política e institucional, que dê sustento a trocas entre teatros.

Presidente da Funarte, Maria Marighella ressaltou o retorno do Ministério da Cultura e, com ele, construir uma política nacional para as artes. A Funarte teria, segundo ela, três papeis centrais nesse processo. O primeiro tem a ver com ações continuadas, como festivais, com a abertura da Lei Rouanet a projetos plurianuais. O segundo, investimento em equipamentos governamentais. O terceiro, investimento em pequenos grupos que atuam de forma mais independente com relação ao poder público.

No início da tarde, uma outra mesa apresentou experiências de coprodução entre teatros, tendo em vista como produzir mais e melhor. 
Jorge Cullo, diretor do Palau de las Arts Reina Sofia, de Valência; Isamay Benovente, do Teatro Villamarta de Jerez, na Espanha; David Lomeli, da Ópera de Santa Fé, nos Estados Unidos; e Augusto Techera apresentaram casos de parcerias bem-sucedidas do ponto de vista artístico mas que enfrentaram também problemas burocráticos, muitos deles abordados na primeira mesa do dia.

[Clique aqui para ler sobre o segundo dia da Conferência da OLA em Manaus.]

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