Retrospectiva 2023: Ana Flavia Souza Leite, vice-presidente da Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira
Falo como vice-presidente da OSB, como alguém da área de gestão e de diretrizes programáticas. Do ponto de vista da administração dessa instituição, a gente tem uma visão muito contemporânea, de promover uma leitura de mundo, de entendimento dos contextos, para estabelecer as diretrizes programáticas. E de outro lado há o fomento ao nosso modelo de gestão compartilhada, que basicamente diz respeito à participação dos músicos de uma maneira efetiva dentro da governança. Artisticamente, há o desafio de traduzir todos esses valores em música, pensando sob o ponto de vista de uma instituição brasileira, falando para brasileiros.
Em 2022, o tema de nossa temporada foi a Água. Em 2023, Terra. Tratamos de fronteiras, divisas e do povo que está ligado a estas terras. Trabalhamos com cinco biomas brasileiros e fizemos uma turnê muito especial pela região amazônica. Procuramos promover um diálogo entre o repertório canônico da música sinfônica internacional com a música erudita e tradicional brasileira.
Além disso, todo o trabalho musical da OSB necessariamente passa pelo nosso projeto de formação, o Conexões Musicais, que existe há 6 anos. Mais de 3.500 alunos passaram pelos projetos de formação em oito estados do Brasil em 2023. Criamos a Orquestra Jovem da OSB, voltada para grupos minorizados: negros, mulheres, gays, pessoas em situação de desigualdade econômica. Hoje a gente tem uma orquestra da diversidade, portanto, para introduzir essas populações dentro do universo profissional sinfônico.
A OSB Jovem ganhou popularidade em pouco tempo de vida e isso nos deixa muito felizes. Outra novidade, do ponto de vista de formação, é que a gente trouxe a expressão corporal como disciplina para o processo de formação musical, agora também estudamos o corpo na música. O maestro titular da orquestra jovem, Anderson Alves, é um homem negro e periférico, oriundo da baixada do Rio de Janeiro.
A OSB ocupou todos os espaços de música de concerto no Rio de Janeiro, além de realizar concertos ao ar livre, no Sambódromo com as escolas de samba e o Projeto Aquarius, que acontece há mais de 50 anos. Tudo isso sedimenta esse solo fértil da Terra para gente trabalhar com Território em 2024. A ideia da temporada é a gente conjugar os saberes desses povos com a Terra.
Seguimos com as nossas diretrizes permanentes, de fomento à música brasileira, de cuidado com as nossas tradições e nosso povo, e seguimos nos projetos de formação. A agenda das mulheres também é central para a orquestra, e a temporada sempre abre em março com um concerto em homenagem ao dia das mulheres. Para mim, como mulher, é uma grande felicidade e honra poder ocupar um espaço de liderança dentro dessa instituição.
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