Retrospectiva 2022: Camila Fresca, jornalista e pesquisadora
Ainda que sem nos livrar totalmente da pior pandemia das últimas décadas, 2022 foi o ano da retomada de uma vida “quase normal”. Talvez para nenhuma outra área profissional esse fato seja tão crucial quanto para a cultura e, mais especificamente, para as artes da performance.
Em São Paulo, a retomada das temporadas trouxe uma programação intensa e diversificada. O Theatro Municipal entendeu que, além de entregar qualidade artística, uma instituição cultural desse porte precisa estar aberta às questões estéticas e políticas de nosso tempo, e a temporada incluiu, entre outras iniciativas, uma programação notável do Coral Paulistano, a estreia de três óperas e uma preocupação efetiva com a inclusão, que culminou com a realização, junto ao Conservatório de Tatuí, do Concurso Joaquina Lapinha. Assim, ainda que com diferentes resultados artísticos, a casa esteve pulsante, viva, com um público interessado e envolvido com a programação.
Estas mesmas palavras podem ser utilizadas para o outro teatro de ópera da cidade, o São Pedro, que realizou uma impressionante temporada de óperas, com excelentes resultados, ao mesmo tempo em que se abriu para propostas as mais diversas – só nos últimos meses do ano, a estreia do oratório Sá, de Ligiana Costa, dois concertos cobrindo 200 anos da canção brasileira, talks com personalidades relevantes da atualidade, um festival dedicado a lembrar e discutir o legado da Semana de Arte Moderna (do qual tive o prazer de fazer a curadoria) e um memorável recital do sopranista Bruno de Sá.
Não se pode dizer exatamente o mesmo da Osesp, a despeito do altíssimo nível técnico e artístico de seus corpos estáveis. Se a mudança institucional talvez signifique uma renovada de ares, fica difícil acreditar que a orquestra vá se reconectar com seu público sem uma liderança dedicada a pensar a questão artística a partir das demandas locais, que entenda de onde falamos e qual é a nossa história.
Pelo Brasil, muitas iniciativas estimulantes, como as da Sinfônica de Porto Alegre e da Filarmônica de Minas Gerais; dos teatros de Manaus e Belém; das atividades do Fórum de Ópera, Dança e Música de Concerto; e do Coletivo Ubuntu, incluindo uma bela Missa de Santa Cecília no Festival Sesc de Música de Câmara.
Também pelo Sesc-SP participei, ao lado de Claudia Toni, Cláudio Cruz, Cristian Budu e Flávia Toni, do livro-CD Toda Semana: música e literatura na Semana de Arte Moderna, registrando a integralidade da música executada nos três dias do evento que marcou a cultura brasileira.
Para 2023 esperamos o fim da pandemia, a retomada total da programação presencial e um novo governo que dê centralidade à cultura em seu planejamento.
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