Retrospectiva 2022: Edna D’Oliveira, soprano, professora de canto da Fundação Theatro Municipal e Emesp, fonoaudióloga e integrante do Coletivo Ubuntu
“Não podemos desprezar os pequenos começos.” O ano de 2022 foi um ano de inúmeras expectativas depois de um longo período de escassez musical, motivado pela pandemia e a falta de políticas públicas para o mundo das artes, especificamente o da música erudita.
Muito se falou sobre a diversidade, o racismo e diversos outros temas sensíveis durante a pandemia. Mas na prática, pouco se viu ou se fez. Ainda carecemos que diretores artísticos, maestros e instituições tenham a coragem de elaborar programações voltadas para a diversidade racial sem pensar no cumprimento de “cotas” para terem o passaporte de Black Card aprovado pela sociedade, principalmente quando somente pensam nisso no mês de novembro, mês da Consciência Negra.
Mas tivemos avanços, como a montagem da ópera Aida de Verdi, com as protagonistas do papel título negras; tivemos o primeiro cast totalmente formado por cantores líricos negros pelo coletivo Ubuntu e o Concurso de Canto Joaquina Lapinha, que contemplou artistas negros, indígenas e pardos de enorme talento musical e muitos deles desconhecidos do público.
É um avanço!! Queremos mais diversidade, queremos mais, muito mais! Afinal, foram os pretos os primeiros a executarem a música de concerto nas fazendas escravocratas e depois nos teatros e palácios reais. Mas até isso nos foi tirado pelo racismo estrutural. Dizer que periferia não gosta de música clássica é acentuar raízes do racismo estrutural, no qual o negro não podia nada, nem estudar. O negro pode tudo, como disse nossa brilhante atleta olímpica Rebeca Andrade, mas sobretudo o negro poder fazer suas próprias escolhas, independente da sua classe social.
Viva os pequenos começos!! Ubuntu!
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