MinC realiza a 4ª Conferência Nacional de Cultura

por Nelson Rubens Kunze 02/03/2024

Evento acontece em Brasília entre os dias 4 e 8 de março; setor da música clássica promove debate sobre as suas necessidades e o desenvolvimento criativo e sustentável

Com o tema “Democracia e Direito à Cultura", o Ministério da Cultura realiza entre os dias 4 e 8 de março a 4ª Conferência Nacional de Cultura, CNC. O evento, que foi realizado pela última vez em 2014, acontece em Brasília e deve reunir cerca de 3 mil participantes de todo Brasil. Conforme o comunicado do MinC, a conferência “vai debater políticas públicas culturais e definir orientações prioritárias para assegurar transversalidades nas ações do setor”. As propostas aprovadas durante o evento servirão de base para o novo Plano Nacional de Cultura (PNC), que deverá nortear o trabalho do Ministério da Cultural pelos próximos 10 anos.

A realização da Conferência Nacional de Cultura marca também o novo momento de ebulição da atividade cultural depois do desmantelamento promovido pelo governo anterior. Para a ministra da Cultura, Margareth Menezes, a realização da 4ª CNC tem uma importância estratégica para o setor, principalmente após a reconstrução do MinC: “Esperamos que a 4ª Conferência Nacional de Cultura (4ª CNC) seja um ambiente de reflexão crítica, mas também de proposições inventivas que farão fortalecer os direitos culturais e o estado democrático de direito em nosso país”.  

A CNC espera a participação de cerca de 1.300 delegados estaduais, a maior parte deles eleita durante as conferências regionais realizadas nos municípios, nos 26 estados e no Distrito Federal. São eles que terão direito a voz e voto. Além dos delegados, foram convidadas cerca de oitocentas pessoas que poderão também se expressar, representantes da sociedade civil e de movimentos artístico-culturais nacionais, gestores, produtores, lideranças das culturas indígenas e articuladores de referência da cultura brasileira. O evento receberá ainda cerca de trezentos interessados que poderão acompanhar os debates como observadores.

A Conferência Nacional de Cultura estabeleceu seis eixos temáticos que orientarão os debates: Institucionalização, Marcos Legais e Sistema Nacional de Cultura (Eixo 1); Democratização do acesso à cultura e Participação Social (Eixo 2); Identidade, Patrimônio e Memória (Eixo 3); Diversidade Cultural e Transversalidades de Gênero, Raça e Acessibilidade na Política Cultural (Eixo 4); Economia Criativa, Trabalho, Renda e Sustentabilidade (Eixo 5); e  Direito às Artes e Linguagens Digitais (Eixo 6). 

Infelizmente, bem poucos delegados que participarão da CNC vêm da área da música clássica ou da ópera. Em contrapartida, o Fórum Brasileiro de Ópera, Dança e Música de concerto, o Fórum ODM, foi convidado formalmente e comparece com três representantes. 

A cantora lírica e ativista cultural antirracista Mere Oliveira, delegada eleita por São Paulo, afirma: “A música de concerto e a ópera, tidas como elitistas por motivos históricos – mas também, por se fecharem em copas nas raríssimas instituições existentes –, não estão pautadas nas propostas resultantes dos estados para a federação. Por isso, Eric Herrero, Marino Jr, Nicolas Gonzalez, Tatiane Fernandes e eu nos unimos e fomos eleitos para a 4ª CNC. Junto com o Fórum Brasileiro de Ópera, Dança e Música de concerto submetemos ao MinC a proposta de uma atividade autogestionada com o tema ‘Ópera e Música de Concerto como motores do desenvolvimento criativo e sustentável, aliados à agenda 2030’, que será realizada na quarta-feira dia 6. É importante que todos participem conosco desse momento histórico para buscarmos soluções e crescimento para os trabalhadores do nosso setor!”

Flavia Furtado, diretora do Festival Amazonas de Ópera e uma das representantes do Fórum ODM, comemora a realização da atividade autogestionada dentro da CNC: “O fato de nossa mesa de debates ter sido incluída na programação oficial demonstra o peso de nosso setor. É importante marcarmos presença e participarmos das discussões sobre as políticas públicas”.

Já Marino Galvão Jr, gestor cultural e diretor executivo do Icac – Instituto Cultura e Arte de Curitiba (que responde pela gestão entre outros da Camerata Antiqua e da Oficina de Música de Curitiba), delegado eleito pelo Paraná, acredita que “será um momento importante para que o setor da música de concerto e da ópera exponha suas necessidades, defenda e estabeleça seu espaço”. E segue: “Imagino que à partir da CNC emerjam propostas para fortalecer a música de concerto e a ópera no Plano Nacional de Cultura, que inicia seu processo de revisão à partir dessa conferência. Uma delas seria o estabelecimento de uma política de fomento para o setor que possa favorecer uma regulação e colaboração entre centros produtores, à exemplo do que ocorre em outros países”.

Ópera e Música de Concerto como motores do desenvolvimento criativo e sustentável

A atividade autogestionada “Ópera e Música de Concerto como motores do desenvolvimento criativo e sustentável, aliados à agenda 2030” acontecerá no dia 6 de março, das 19 às 21h, e discutirá os seguintes pontos: 

- Ações para estruturar centros de documentação e preservação de acervos musicais.

- Ações que garantam a longevidade e continuidade de corpos artísticos, teatros e festivais do setor.

- Ações que permitam a abrangência e disponibilidade em todo o território nacional da disciplina da música de concerto e ópera, considerando os grandes deslocamentos para usufruir de espetáculos de esta índole para quem não mora nos grandes centros.

- Centros de formação de profissionais da área artística da música de concerto e ópera, ou apoio técnico e financeiro para instituições que já se dediquem neste quesito do interior dos estados. 

- Centros de formação de profissionais da área técnica e, apoio às instituições que já formam profissionais nestas áreas.

- Programas de acesso com incentivo financeiro à diversidade racial, de gênero e PCDs às grandes instituições da música e da ópera do país, tais como Osesp, TMSP, FMG, TSP, FAO, FOTP, TMRJ, OSPA, TSP-RS, OSBA, PALÁCIO DAS ARTES -MG, entre outros. 

- Fomento à composição contemporânea e produção da música de concerto e da ópera, enfatizando especialmente a utilização da literatura de escritores negros e indígenas brasileiros.

- Criação de programas de bolsas de estudo para artistas (cantores, instrumentistas, diretores, maestros) e profissionais da área técnica negros e indígenas. 

- Criação e manutenção de corpos artísticos (Orquestra, Coro e Balé) em todas as capitais dos estados, bem como nas principais regiões administrativas do interior dos estados com temporadas estabelecidas, e em cooperação com corredores de circulação de estados vizinhos. 

- Festivais regionais de ópera e música de concerto, voltados ao aperfeiçoamento e intercâmbio para crianças e jovens

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4ª Conferência Nacional de Cultura (reprodução site MinC)
(reprodução site MinC)

 

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