Rádio MEC completa 100 anos com programação especial de aniversário

por Luciana Medeiros 04/09/2023

O centenário da Rádio MEC será celebrado neste mês de setembro com exposição, festa, prêmio, visitas de ouvintes, debates e até uma ópera inédita no Theatro Municipal do Rio de Janeiro – O sonho de Edgard, de Adriano Pinheiro, nos dias 13 e 14. Em dezembro, ainda haverá um concerto no Museu Nacional.

Uma festa de bom tamanho que faz jus aos serviços à cultura prestados pela emissora, mesmo atravessando tempos difíceis. E foram vários períodos duros, inclusive os recentes anos do governo Bolsonaro, em que várias vezes a Empresa Brasil de Comunicação, o guarda-chuva que reúne as emissoras públicas de rádio e TV, ficou sob ameaça de privatização/extinção. Várias mobilizações de artistas e personalidades aconteceram em protesto a essa ideia. 

A primeira transmissão radiofônica do país, ainda em fase experimental, foi uma ópera: O guarani, de Carlos Gomes, em 7 de setembro de 1922, no centenário da independência. A emissora nasceu pela iniciativa do antropólogo Edgard Roquette-Pinto. No ano seguinte, surgia a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que foi doada ao governo por Roquette-Pinto em 1936 e que, em 1953, virou Rádio Ministério da Educação, com a criação da pasta. Sua programação de música clássica – sempre uma fatia significativa – nunca deixou o ar; os programas têm uma massa de ouvintes apaixonados e foi responsável pelo despertar da vocação de muitos artistas.  

Cem anos depois, a Rádio MEC – desde 1983 também na banda FM – é referência de programação cultural. A celebração do centenário vem junto com uma reformulação, garante Antônia Pellegrino, diretora de conteúdo da EBC. “Mesmo ainda emergindo de seis anos de desmonte, as rádios mantiveram seu serviço de alta qualidade”, diz. “Nosso objetivo é dar cada vez melhores condições de infraestrutura, investir, especialmente a partir de outubro desse ano”. O centenário parece servir, assim, de ignição. 

 “A celebração nos fortalece”, define o gerente executivo das rádios, Thiago Regotto. “A MEC formou gerações de ouvintes oferecendo não só música clássica, mas ciência, literatura, dramaturgia, jazz, o conceito dos Concertos para a Juventude – que eram transmitidos do Cinema Rex, com a Sinfônica Brasileira –, a manutenção de grupos musicais e da Orquestra criada em 1961 por Edino Krieger. Isso sem falar na colaboração de nomes da arte, desde Pixinguinha, nos anos 1940, Jacob do Bandolim, na década de 1970, Altamiro Carrinho nos 2000, até Fernanda Montenegro.” 

É surpreendente descobrir que o cineasta Humberto Mauro fez programas radiofônicos sobre cinema em 1943; que Otto Maria Carpeaux produzia Vida e Romance – encontro com a Literatura; ou que o programa Quadrante trazia crônicas especialmente escritas por Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Dinah Silveira de Queiróz, Fernando Sabino, Manuel Bandeira e Rubem Braga. Ou ainda que Música Viva apresentava primeiras audições brasileiras de obras de compositores do século XX. 

Certamente, trançar de maneira saborosa educação e cultura nunca foi tarefa fácil, e fica cada vez mais difícil num mundo veloz e superficial. “O país superconectado também precisa de espaço de reflexão”, pondera Regotto. “Hoje as pessoas têm acesso automático à informação, mas não processam o conhecimento. Vejo a Rádio MEC nesse papel de dar contexto e horizontes.”

O presidente da EBC, Hélio Doyle, também acredita na relevância do veículo: “Diziam que a televisão ia acabar com o rádio; depois, com a internet, de novo se falou do fim do rádio. O rádio se revitaliza, se renova, é o meio de comunicação mais acessado, o que chega mais facilmente e que depende menos de tecnologias sofisticadas. No interior da Amazônia, em qualquer outro lugar, o rádio chega lá. Ele não vai acabar, vai se recriar.” 

A agenda de celebrações começa no dia 7, com um Dia de Portas Abertas e uma programação especial de aniversário. Além da ópera no Municipal, haverá a cerimônia do Prêmio Rádio MEC – 100 anos, na Sala Cecília Meireles, no dia 25 e, nos dias 26 e 27, o primeiro Encontro de Ouvintes e Parceiros da Rádio MEC, na Casa da Ciência, que abriga até o dia 9 de outubro exposição sobre a história da rádio.

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Rádio MEC 100 anos

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