Programação celebra cinco séculos de intercâmbios musicais; Rosana Lanzelotte fará palestra hoje (24/04) em São Paulo
Em 2025, Brasil e França celebram 200 anos de relações diplomáticas. A efeméride dá origem à temporada Brasil-França 2025, que promove mais de 300 eventos culturais em cerca de 50 cidades francesas.
O Musica Brasilis, portal para difusão do patrimônio musical brasileiro idealizado pela cravista e pesquisadora Rosana Lanzelotte, terá participação ativa na celebração da nova temporada. A entidade foi criada há 20 anos, por ocasião do primeiro ano Brasil-França em 2005, justamente para suprir a escassez de partituras brasileiras acessíveis aos músicos franceses. Hoje com mais de 6.500 obras disponíveis gratuitamente, o portal marca presença na temporada com concertos, conferência, exposição e publicações inéditas.
Na música, os laços entre o Brasil e a França são antigos e profundos. As primeiras conexões datam do século XVI, com a expedição da França Antártica, liderada por Nicolas Durand de Villegagnon. Jean de Léry (1536 – 1613), membro da missão, registrou cinco canções tupinambás — o documento mais antigo das práticas musicais brasileiras. Algumas décadas depois, o missionário Claude d’Abbeville levaria indígenas tupinambás à corte francesa, inspirando a composição de sarabandas e revelando o fascínio francês pela sonoridade do Novo Mundo.
Ao longo dos séculos, essa relação se fortaleceu. No século XIX, a Missão Artística Francesa deixou marcas no Brasil, inclusive na música: Sigismund Neukomm, integrante da missão, compôs no Rio de Janeiro obras influenciadas pela modinha e o lundu. Décadas depois, o carioca Henrique Alves de Mesquita tornou-se o primeiro brasileiro a estudar no Conservatório de Paris.
No século XX, a troca cultural se intensificou. Compositores como Henrique Oswald, Villa-Lobos e Pixinguinha estabeleceram pontes sonoras entre os dois países. Hoje, ritmos como samba, bossa nova e até o funk brasileiro ocupam lugar de destaque na cena musical francesa.
O Musica Brasilis terá protagonismo na nova temporada Brasil-França 2025, em dois concertos especiais que terão como tema o lundu, gênero surgido da fusão entre culturas africanas, portuguesas e espanholas: no dia 17 de maio, Rosana Lanzelotte (cravo) e Clea Galhano (flauta doce) se apresentam no Château D’Arcangues; já no dia 12 de junho, o público parisiense ouvirá interpretações de Julien Chauvin (violino), Olivier Baumont (cravo), Paulo Aragão (guitarras) e Rosana Lanzelotte (pianoforte) na Bibliothèque de l’Arsenal.
A exposição Brasil Ilustrado, com curadoria de Jacques Leenhardt, entra em cartaz em 29 de abril na Maison de l’Amérique Latine. A mostra reúne aquarelas e gravuras de Jean-Baptiste Debret, que retratou músicos escravizados no Rio de Janeiro oitocentista. A trilha sonora, criada por Caito Marcondes, será composta a partir de registros históricos, como as canções tupinambás anotadas por Jean de Léry.
Rosana Lanzelotte também participa do colóquio “France-Brésil: parcours musicaux, sociaux, historiques et culturels”, com a conferência “Debret e a música dos escravizados”, na Sorbonne, em 16 de maio.
Por fim, o Musica Brasilis lança edições de obras emblemáticas do intercâmbio musical, como as peças de Neukomm compostas no Brasil, os Tragipoèmes de Jacques d’Avray musicados por Oswald, Nepomuceno e Braga, além de outras partituras raras em domínio público — todas disponibilizadas gratuitamente no portal.
Palestra na Academia Paulista de Letras
A cravista e pesquisadora Rosana Lanzelotte fará uma palestra hoje, dia 24 de abril, às 17h, na Academia Paulista de Letras, em São Paulo, com o tema “Musica Brasilis e o resgate da música nacional”. A entrada é franca e interessados devem confirmar presença pelo e-mail: secretaria@academiapaulistadeletras.org.br.
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