Depoimento colhido na primeira quinzena de dezembro de 2019
“Um primeiro olhar sobre a programação musical da cidade de São Paulo mostra que 2019 teve uma agenda rica e diversificada, que pouco se distancia dos anos anteriores. A Osesp seguiu em grande forma, com pontos altos como Dos cânions às estrelas, de Messiaen, e uma bela versão da Nona de Beethoven fechando a temporada; a Cultura Artística foi responsável por concertos memoráveis como os recitais de Maria João Pires e do Quarteto Ébène; a Orquestra Jovem do Estado apresentou uma surpreendente temporada, incluindo todo um concerto dedicado à obra de Claudio Santoro. (Por conta do centenário, Santoro finalmente tem recebido a devida atenção). 2019 foi ainda um ano incrivelmente fértil para a ópera contemporânea, com a estreia de dois títulos brasileiros no Theatro São Pedro e a comovente e potente Prism, de Ellen Reid, no Municipal. Não se pode deixar passar em branco o essencial trabalho do Selo Sesc, que é hoje quem mais prestigia a música de concerto brasileira. Isso sem falar no espaço essencial para música de câmara e o apoio a projetos diversos que as unidades do Sesc promovem. Houve também um número significativo de efemérides, devidamente comemoradas: 50 anos do Festival de Campos do Jordão, 40 anos da Orquestra Jovem e 40 do Coral Jovem do Estado e 20 anos da inauguração da Sala São Paulo. A cidade ganhou também um moderníssimo órgão de tubos, parceria da USP com a Catedral Evangélica. Tudo isso é uma feliz realidade. Contudo, um olhar mais acurado sobre o contexto geral do país e específico das artes mostra que o momento é de alerta total, pois as bases sob as quais se assentam nossa atividade podem não suportar as pressões. É necessário, mais do que nunca, permanecermos unidos e atentos.”
Camila Fresca, jornalista e pesquisadora