Concerto na Sala São Paulo atesta ótima fase da Ospa 

por Nelson Rubens Kunze 15/08/2022

Orquestra Sinfônica de Porto Alegre apresentou o Concerto em sol maior de Ravel, com o pianista Fabio Martino, e o Choros nº 6 de Villa-Lobos

Após o concerto de muito sucesso no Teatro Colón de Buenos Aires, em julho, (clique aqui para ler mais), a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre tocou neste domingo, dia 14 de agosto, na série dos Concertos Matinais da Sala São Paulo. Sob direção de seu diretor artístico e maestro Evandro Matté, o conjunto mantido pelo estado do Rio Grande do Sul interpretou obras de Ravel, o Concerto em sol maior com o pianista Fabio Martino, e Villa-Lobos, o seu Choros nº 6. E foi muito bom!

O Concerto para piano do francês Maurice Ravel (1875-1937) foi escrito entre os anos de 1929 e 1931 e é uma de suas últimas obras. Ele é inspirado em temas populares bascos e no jazz – Ravel teria dito que não desejava criar algo sério e profundo, mas sim algo que fosse prazeroso de ouvir. Em três movimentos, o concerto é uma de suas criações mais conhecidas e exige virtuosismo do solista e da orquestra. 

A Ospa demonstrou bom equilíbrio e nível técnico em perfeita integração com o solista. E o pianista Fabio Martino teve participação espetacular – e não só por sua já conhecida gravata borboleta vermelha (nesse domingo de manhã, Martino ainda calçou cintilantes sapatos vermelhos!). O artista deu um show de técnica e musicalidade, confirmando ser um dos grandes pianistas brasileiros de sua geração (e é uma geração de enormes talentos...). Atento à orquestra, Martino soube fazer o piano soar com lirismo ou vigor nos momentos certos, e apresentou límpidas e homogêneas carreiras de notas no movimento final – qual colares de pérolas. O bom público que compareceu à Sala São Paulo também gostou e ganhou como bis a Dança brasileira de Camargo Guarnieri.

Seguiu-se o Choros nº 6 de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), uma das grandes obras-primas da música brasileira. Sabe-se que Villa iniciou a composição em 1926, mas a peça acabou sendo estreada apenas em 1942, no Rio de Janeiro, com regência do próprio compositor. Em suas palavras, trata-se de uma espécie de romance da atmosfera sertaneja do nordeste brasileiro: “o clima, a cor, a temperatura, a luz, os pios dos pássaros, o perfume do capim melado entre as capoeiras e todos os elementos da natureza do sertão serviram de motivos de inspiração para esta obra que, no entanto, não representa nenhum aspecto objetivo nem tem sabor descritivo”. É realmente impressionante o gênio e a criatividade exuberantes de Villa-Lobos, seja nos ritmos, nos temas ou na exploração dos timbres da orquestra, conjugando todos os elementos em uma obra absolutamente original e orgânica de cerca de meia hora de duração.

E foi muito boa a interpretação da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Dirigida com sobriedade e gestos claros pelo maestro Evandro Matté, o conjunto mostrou que atravessa uma ótima fase. Entre os solistas da orquestra, quero destacar as intervenções do flautista Artur Elias, que já no solo de abertura fez o instrumento soar lindamente na Sala São Paulo (mas teve também solos do clarinete, da viola, do corne inglês, do oboé, do saxofone, de percussão...). Foi mesmo uma bela viagem musical pelo universo sonoro de Villa-Lobos.

Com o apoio determinante do governo do estado do Rio Grande do Sul e a liderança do diretor Evandro Matté, a Ospa transformou-se, nesses últimas anos, em uma das mais bem-estruturadas sinfônicas do Brasil. A Fundação Ospa tem uma sede própria inaugurada em 2018 – com uma sala de concertos, uma sala de música de câmara e espaços para ensaios –, e mantém, além da orquestra de 112 músicos, o Coro sinfônico, a Ospa Jovem, o Coro Jovem, a Escola de música da Ospa e um Ópera estúdio. 

Com um conceito abrangente e de sensibilidade social, que congrega educação musical e difusão da música clássica e da ópera, a Ospa devolve múltiplas vezes o valor do investimento público ao contribuir para a construção de nossa cidadania e para o enfrentamento dos desafios da contemporaneidade. Viva!

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Ospa na Sala São Paulo (divulgação, Vitória Proença)
Ospa na Sala São Paulo (divulgação, Vitória Proença)
O pianista Fábio Martino (divulgação, Vitória Proença)
O pianista Fabio Martino (divulgação, Vitória Proença)
Evandro Matté rege Ospa na Sala São Paulo (divulgação, Vitória Proença)
Maestro Evandro Matté rege Ospa na Sala São Paulo (divulgação, Vitória Proença)

 

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