A Orquestra Jovem do Estado de São Paulo (OJE) apresentou um ótimo concerto no último domingo, dia 11 de agosto, na Sala São Paulo. Além do Concerto para violino de Dvorák, que teve como solista a sul-coreana Jiyoon Lee, a suíte Pelléas et Mélisande de Gabriel Fauré e os Jeux de Debussy, a apresentação teve a estreia de uma obra do compositor Rodrigo Lima. A regência foi do maestro Cláudio Cruz.
Rodrigo Lima é um músico paulista de 43 anos. Ele estudou composição em Brasília, foi premiado em diversos concursos nacionais e internacionais e é hoje professor na Emesp – Escola de Música de São Paulo e na Academia da Osesp. A obra estreada no domingo, intitulada Sol a pino, é uma encomenda e faz parte das comemorações dos 40 anos da Orquestra Jovem do Estado. Em entrevista concedida a João Luiz Sampaio e publicada no Site CONCERTO, Rodrigo Lima afirma: “Do ponto de vista da escuta, eu creio que Sol a pino é uma espécie de espiral dos afetos, há nela certa inquietude que se reflete na sua natureza de permanente mudança. Não exatamente uma mudança dos materiais em si, mas uma necessidade latente desses mesmos materiais se reconfigurarem dentro da música, trazendo à tona uma nova perspectiva sonora a cada momento”.
Em Sol a pino, Rodrigo Lima explora ambientes sonoros fazendo uso da ampla gama tímbrica da orquestra. Em um todo atonal de grande força expressiva, o efetivo de percussão, que incluiu pau d’água e sinos tubulares, tem importância preponderante. Momentos motívicos sonoros se sucedem conduzidos e marcados por ricos efeitos tímbricos. Apesar de toda a exuberância desses efeitos, a música não tem afetações – ela é expressionista e tem algo de visceral e catártico. E conduz a um fim incerto, que se esvanece em um pianíssimo suspenso. Sol a pino é música de nossos dias e para nossos dias, é uma obra madura, formalmente coesa e de forte carga emocional. (Sol a pino, como todo o concerto da Orquestra Jovem do Estado, pode ser assistida no canal de vídeos da página da Catraca Livre do Facebook.)
Seguiu-se o Concerto para violino de Antonin Dvorák. Se também aqui a orquestra foi bem – atenta e altamente integrada –, a obra ficou marcada pela competente interpretação da jovem solista sul-coreana Jiyoon Lee. Com domínio absoluto do instrumento – técnica limpa e bonita sonoridade – Lee mostrou porque, com apenas 26 anos, tornou-se spalla da Staatskapelle de Berlim.
Após o intervalo, a Orquestra Jovem do Estado apresentou uma sensível leitura da suíte Pelléas et Mélisande, de Fauré. A obra original foi escrita em 1898, como música incidental para a peça de teatro do poeta simbolista Maurice Maeterlinck; depois, Fauré a adaptou para esta suíte orquestral em 4 movimentos. O maestro Cláudio Cruz logrou extrair todo o clima onírico e nostálgico da partitura, com bonitas sonoridades e delicados fraseados. Destaque para o lindo terceiro movimento, Siciliana, que todos os flautistas adoram.
O concerto se encerrou com o balé Jeux (Jogos), de Debussy. Estreado em Paris em 1913 – duas semanas antes da Sagração da Primavera de Stravinsky e, como a Sagração, também comissionado pelos Balés Russos de Diaghilev –, Jeux é um dos marcos do modernismo na música. A OJE e Cláudio Cruz apresentaram uma interpretação muito orgânica e convincente desta exigente partitura.
Com esta apresentação, a Orquestra Jovem do Estado de São Paulo mostrou um grau de qualidade raro mesmo para conjuntos profissionais em nosso país: naipes coesos e equilibrados, articulações e dinâmicas bem definidas e bonitas intervenções de instrumentos solistas. E, sem dúvida, um dos principais fatores para o nível artístico alcançado é o trabalho de direção musical e regência do maestro Cláudio Cruz, que desde 2013 é o titular do grupo.
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