Por Marcos Arakaki, maestro, professor e palestrante, regente da Orquestra Parassinfônica de São Paulo e doutorando em Estudos Artísticos na Universidade de Coimbra, Portugal
No Brasil, onde mais da metade das capitais não possui uma orquestra sinfônica, Minas Gerais se destaca, possuindo uma das melhores orquestras do país
O nióbio é um metal branco, brilhante, de baixa dureza, extraído principalmente do mineral columbita. Muito resistente ao calor, desempenha papel fundamental na produção de aviões e foguetes, turbinas terrestres de geração de energia, além de ser utilizado na produção de telescópios, baterias de carros elétricos, lentes de câmeras de segurança e outros. Com uma pequena porção de nióbio, é possível transformar um grande volume de aço, para que se torne mais resistente, mais condutor ou maleável. Seu valor é 400 vezes mais caro do que o minério de ferro.
O Brasil concentra cerca de 82% da produção mundial do nióbio e detém cerca de 90% das reservas conhecidas. Minas Gerais produz 75% do nióbio brasileiro, seguida pelo estado do Amazonas com 21% e Goiás com 3%.
E quem é a empresa responsável por receber os royalties – pagamentos regulares – feitos ao governo de Minas como compensação pela extração do minério? É a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais – Codemig, fundada em 1957, com o objetivo de gerir e reverter os royalties do nióbio em favor da população mineira.
Um dos mais relevantes investimentos feitos com o lucro do nióbio mineiro foi a construção para a população de Minas Gerais do Centro de Cultura Presidente Itamar Franco. Em agosto de 2001, foi definido o projeto e o local onde seria construído o complexo e em 2013, somente após o projeto executivo definido, deu-se início à construção, que foi terminada em milagrosos dois anos. No complexo, foi instalada a Rádio Inconfidência, a Rede Minas de TV e a Sala Minas Gerais. O investimento foi todo feito com o lucro do minério – e não com os impostos pagos pela população – e o Centro de Cultura se transformou em um bem permanente para os cidadãos de Minas Gerais e do Brasil.
Fundada em 2015, a Sala Minas Gerais do Centro de Cultura Presidente Itamar Franco, que está, portanto, celebrando 10 anos, recebeu ao longo deste período orquestras do Brasil e do exterior. A Sala é a sede da magnífica Orquestra Filarmônica de Minas Gerais (da qual eu tive a honra de colaborar por 9 anos como regente associado), capitaneada brilhantemente por uma dupla vencedora: o maestro Fabio Mechetti, um dos principais nomes da regência no país e o excelente gestor Diomar Silveira, presidente do Instituto Cultural Filarmônica, responsável pela gestão da orquestra.
A Filarmônica de Minas Gerais, fundada em 2008, colocou o estado no mapa cultural nacional e internacional, através de suas regulares temporadas. A sua atividade inclui nomes expressivos do universo sinfônico nacional e mundial, com uma programação rica e interessante, com a divulgação da música clássica pelo interior do estado, gravação de discos, turnês nacionais e internacionais, concertos de formação de plateias, incentivo a formação de novos compositores, regentes e, mais recentemente, de jovens músicos através de sua Academia.
Com capacidade para 1477 espectadores, a Sala Minas Gerais é um marco da arquitetura nacional. Com projeto de Jô Vasconcelos e Rafael Yanni, a Sala com sua plateia distribuída em 360 graus, ao redor do palco, tem uma acústica privilegiada que foi projetada pelo arquiteto José Augusto Nepomuceno. Para se ter uma ideia do capricho, as espumas das cadeiras da Sala simulam a absorção acústica de uma pessoa, para que, quando a orquestra estiver ensaiando com a sala vazia, a acústica seja similar à acústica de quando a sala estiver cheia. Um espetáculo mineiro! Se você não conhece a Sala Minas Gerais e a Filarmônica, você não sabe o que está perdendo! Se gostar, você ainda pode se tornar um assinante e ter seu lugar cativo na Sala durante todo o ano.
Linda história, não? Entretanto, tudo isso foi possível graças à inteligência, sensibilidade e visão de Antônio Anastasia, atual Ministro do Tribunal de Contas da União, que enquanto vice-governador de Minas foi um dos interlocutores para a fundação da Filarmônica em 2008 e, mais tarde, como governador, se empenhou para a construção do Complexo Cultural, inscrevendo definitivamente seu nome na história.
O suprapartidarismo de um patrimônio cultural como a Filarmônica, abraçada pelos mineiros de todo estado – por levar música de qualidade a mais de uma centena de cidades mineiras –, e que, desde sua criação, é apoiada pelos sucessivos governos, demonstra que investir em cultura e manter seus equipamentos culturais é uma prática saudável e importante em qualquer período, dando continuidade a projetos vencedores, além de ser, um dos marcos civilizatórios de uma sociedade.
No auge dos esforços da Segunda Guerra Mundial, o que incluía cortes de orçamentos em diversos setores da sociedade britânica, para que fossem revertidos em gastos bélicos e logísticos, um assessor sugeriu que fossem cortados custos para o financiamento das artes, no que Winston Churchill respondeu: “Então estamos lutando para quê?”.
No Brasil, onde mais da metade das capitais não possui uma orquestra sinfônica, Minas Gerais se destaca, possuindo uma das melhores orquestras do país. Entretanto, a França, que é menor que o estado de Minas Gerais em quilômetros quadrados, possui pelo menos onze orquestras sinfônicas profissionais e mais nove casas de óperas com as suas respectivas orquestras, totalizando vinte orquestras, além de orquestras jovens e regionais. Considerando que a França tem 68 milhões de habitantes, o resultado nos mostra o coeficiente de uma orquestra para cada 3,4 milhões de habitantes. Assim, Minas Gerais, com seus 20,5 milhões de habitantes, deveria ter seis orquestras sinfônicas profissionais espalhadas pelo estado. E o Brasil então? Mas isto é um papo para o futuro.
Que este dado sirva de inspiração para que pessoas inteligentes invistam em sua comunidade e região, contribuindo para a construção de legados culturais tais como escolas de músicas, de dança, de artes, de teatro e de outras manifestações artísticas consolidadas. São elas que formarão as futuras orquestras, corpos de bailes, trupes e artistas plásticos, transformando nosso país em um lugar mais belo, mais justo e mais humano.
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Comentários
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Tudo isso que o maestro…
Tudo isso que o maestro Marcos Arakaki falou é a mais pura verdade! Sou amigo da OFMG e espectador assíduo! É Filarmônica é maravilhosa! O Brasil precisa investir mais em música de concerto, em orquestras como a OFMG, o retorno é imediato! A cultura, a arte tem o poder de transformar as pessoas para em seres humanos melhores! Parabéns para OFMG, que tenha milhões de anos de vida!