Morreu na terça-feira (6/2), aos 88 anos, o maestro japonês Seiji Ozawa. A notícia foi divulgada na manhã desta sexta-feira pela imprensa japonesa, após a realização das últimas homenagens ao artista – a família preferiu se despedir de Ozawa em uma pequena cerimônia privada. A causa da morte foi uma parada cardíaca. O maestro sofria há alguns anos do Mal de Alzheimer, que o afastou dos palcos.
Ozawa foi um dos grandes regentes da segunda metade do século XX e início do século XXI. Na Europa, foi aluno de Herbet von Karajan, após vencer o concurso de regência de Besançon, na França. Anos mais tarde, ele contaria em uma entrevista, divertindo-se, que mal falava outra língua e não entendia boa parte das orientações dadas pelo mestre.
Nos Estados Unidos, Ozawa estudou com Charles Munch e Pierre Monteux e foi assistente de Leonard Bernstein durante seu período como diretor da Filarmônica de Nova York.
Entre 1976 e 1995, Ozawa foi diretor artístico da Orquestra Sinfônica de Boston e esteve também à frente do Festival de Tanglewood; entre 2002 e 2010, foi principal regente da Ópera Estatal de Viena. Nos anos 1990, criou, no Japão, a Saito Kinen Orchestra, primeiro grupo do país a alcançar renome internacional.
Com um repertório amplo, Ozawa ficou conhecido pelas interpretações da obra de autores como Gustav Mahler, além de seu interesse especial pela música do século XX, tendo trabalhado com autores como Igor Stravinsky.
Em 2017, o escritor Haruki Murakami lançou um livro de conversas com Ozawa, Absolutely on Music. Na obra, o maestro fala sobre suas visões a respeito do fazer musical. Comenta, por exemplo, o conceito de “ma” presente na música asiática: a importância da pausa na interpretação, dos “espaços vazios” onde você simbolicamente coloca a sua audiência e a torna parte da interpretação musical. Outra noção é a da aproximação com o repertório ocidental por meio de uma “melancolia” particularmente japonesa.
Sua morte foi lamentada por importantes figuras do mundo das artes.
“Seiji Ozawa foi uma das pessoas mais calorosas, gentis e generosas que já tive o privilégio de conhecer. Ele era um grande amigo, um modelo brilhante e um músico e líder exemplar. Ele foi uma inspiração para mim durante toda a minha vida e sentirei muita falta dele”, afirmou Andris Nelson, atual diretor da Sinfônica de Boston.
“Lamentamos a perda do nosso membro honorário Seiji Ozawa, um dos grandes maestros do nosso tempo. Nós olhamos para trás com gratidão e amor em muitas apresentações juntos, especialmente em turnê pelo Japão”, anotou a Filarmônica de Viena em comunicado oficial.
“Ele deixará um enorme vazio para todos os músicos que tiveram a oportunidade de tocar sob sua direção. Tantas lembranças com ele em torno de Uma vida de herói, de Strauss, em 1999! Adeus, mestre! E obrigado por tanta energia e música!”, publicou no X (antigo Twitter) o violinista Renaud Capuçon.
“Que tristeza saber da morte do maestro Seiji Ozawa. Jamais esquecerei minha juventude sob sua liderança”, afirmou o violoncelista Gautier Capuçon.
Em nota oficial, o secretário da Academia de Belas Artes da França, Laurent Petitgirard, disse que “os membros e correspondentes da academia ficaram muito tristes ao saber do desaparecimento do seu colega Seiji Ozawa, que foi eleito membro associado estrangeiro em 2001, sucedendo Yehudi Menuhin”.
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Comentários
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Tenho um DVD de Carmina…
Tenho um DVD de Carmina Burana com Seiji Ozawa regendo a Filarmônica de Berlim. Aprendi a admirá-lo de tanto que assisti essa gravação.
Em 1985, estudante em Berlim…
Em 1985, estudante em Berlim, assisti a Seiji Ozawa regendo a ópera ‘São Francisco de Assis’, de Messiaen. Foi uma versão concertante, de algumas cenas, com o mesmo elenco – José van Dam no papel principal – que tinha feito a estreia da ópera em Paris. Antes do concerto, a Filarmônica de Berlim organizou um encontro com Messiaen, para ele falar um pouco da ópera. Meio emocionado, fui lá cumprimentar o mestre e gaguejei alguma coisa em francês. E à noite, no concerto, além do impacto da espetacular obra, fiquei estupefato com a interpretação de José van Dam e a direção impressionante de Ozawa, que regeu tudo de cor! Vivência musical inesquecível. Messiaen se foi em 1992. Agora é Seiji Ozawa. Que descanse em paz