Orquestra do Theatro São Pedro de Porto Alegre completa 40 anos com temporada que inclui três óperas
Neste dia 10, exatamente a data de seu aniversário, a Orquestra do Theatro São Pedro de Porto Alegre comemora 40 anos. O concerto, contudo, não será no histórico Theatro São Pedro, mas sim no recém-inaugurado Teatro João Simões Lopes Neto – vizinho do antigo teatro aberto em 1858, que ficará fechado por um ano para reformas.
Com cerca de 700 lugares, o novo espaço marca a conclusão definitiva do Multipalco Eva Sopher, do qual o Theatro São Pedro também faz parte, um dos maiores complexos culturais da América Latina, que ocupa um espaço de mais de 25 mil m² no centro da capital gaúcha.
Regente da orquestra desde 2018, Evandro Matté conta que o grupo foi o embrião desse conjunto arquitetônico. “Como o São Pedro sempre foi muito ocupado, a orquestra não podia usar seu palco para ensaiar. Dona Eva Sopher, que presidia a Fundação do Theatro São Pedro, preocupava-se com isso, e daí veio a ideia do Multipalco”, diz o regente. O Simões Lopes Neto é dotado de fosso orquestral, o que o habilita para a execução de óperas. Neste ano, em parceria com a Cors (Companhia de Ópera do Rio Grande do Sul), a orquestra atua em três produções: Contos de Júlia, de Marcus Siqueira; La traviata, de Verdi; e Hänsel und Gretel (João e Maria), de Humperdinck.
O maestro lembra que a orquestra foi criada como grupo de formação. “Era para dar oportunidade aos alunos da universidade. Por muito tempo, só alunos tocavam”, diz. Sopher assumiu a direção do teatro em 1975, para cuidar de seu restauro. Em 1984, a casa foi finalmente reaberta. O grupo surgiu como parceria informal entre a direção do teatro e o Departamento de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), envolvendo o violinista e professor Marcello Gershfeld, o professor de regência, Arlindo Teixeira, o maestro José Pedro Boéssio e o coordenador da área de música da Subsecretaria de Cultura do Estado à época, Ayres Potthoff.
Em uma iniciativa bastante rara, Matté convidou para o concerto festivo deste mês os três regentes que o antecederam na direção da orquestra: Fredi Gerling (que dirigiu o grupo entre 1989 e 1995), Lutero Rodrigues (1996 a 2003) e Antônio Carlos Borges-Cunha (2004 a 2017). “É muito importante chamá-los. Além disso, foram meus professores na universidade: Gerling, de música de câmara, Cunha, de composição”, conta. “Quando vim para Porto Alegre, aos 17 anos, estudar trompete, minha primeira oportunidade como músico profissional foi tocar na Orquestra do Theatro São Pedro”. Incluindo obras de autores gaúchos, como Fernando Mattos (1963-2018) e Armando Albuquerque (1901-86), a apresentação traz, ainda, o astro Cristian Budu solando no Concerto para piano de Grieg.
Matté lembra que a orquestra não conta com recursos diretos, montando a programação com base em patrocínios. Assim, realiza uma apresentação por mês. Aberta em março, ainda no São Pedro, a temporada continua em 11 de maio, quando a violinista Elisa Fukuda celebra os 50 anos de carreira solando em um concerto de Haydn. No mês seguinte, a apresentação de Dia dos Namorados contempla a música popular com a cantora carioca Mãeana.
Gaúcho radicado nos EUA e que desde muito cedo tocou com a Orquestra do Theatro São Pedro, Cármelo de los Santos é o solista do concerto de 17 de julho, em diálogo entre as Quatro estações de Vivaldi e as Quatro estações portenhas de Astor Piazzolla. Já agosto marca o retorno ao popular, com um mergulho na história da canção gaúcha, trazendo a participação das vozes de Victor Hugo, Pirisca Grecco, Shana Müller e Luiza Barbosa.
Em 11 de setembro, o grupo lança um álbum com obras de Mozart, Ernani Aguiar e Ronaldo Miranda, que gravou em 2022 com Rafael Costa de Souza, pianista gaúcho radicado na Alemanha desde 2006. Na oportunidade, ele sola em duas partituras do século XVIII: o Concerto nº 1 de Bach e o Concerto nº 14 de Mozart. Em outubro, mês das crianças, mais um programa crossover: repertório infantil brasileiro mesclado a musicais da Disney e da Broadway, com os cantores Sienna, Gabrielle Fleck e Pedro Coppeti.
Especialmente engenhoso é o repertório de 13 de novembro, celebrando os 120 anos do escritor gaúcho Érico Veríssimo (1905-75). No livro de memórias A volta do gato preto, de 1956, ele conta saborosas anedotas da ocasião em que foi intérprete de Villa-Lobos na visita deste aos EUA, em 1944, e era especial apreciador de música.
“Toda vez que ia para o exterior, ele dizia que era de Porto Alegre. Como ninguém conhecia a cidade, acrescentava: moro numa cidade que tem uma orquestra sinfônica”, conta Matté. “Quando eu estava na Ospa, pedi autorização ao filho dele, Luis Fernando Verissimo, e essa frase virou o slogan da orquestra.”
Matté debruçou-se sobre O resto é silêncio, romance de Verissimo de 1943 que retrata um concerto ambientado no Theatro São Pedro, e recriou o programa descrito ali, incluindo uma versão orquestral da Tocata e fuga para órgão, de Bach, e peças de Villa-Lobos e Mignone. A apresentação é complementada pela trilha sonora que Tom Jobim compôs para O tempo e o vento, minissérie da TV Globo de 1985 baseada no épico homônimo do escritor, e traz como solista o cantor Pedro Verissimo, neto de Érico. O encerramento, em dezembro, é uma apresentação natalina com a participação da soprano Elisa Machado.
Além da série principal, a orquestra faz apresentações com entrada franca: os Concertos Comunitários Zaffari, que ocorrem também em outras cidades gaúchas, além de Porto Alegre, e os Concertos Didáticos Banrisul. “Tocamos com a Orquestra de Brinquedos, que é um grupo de músicos profissionais que se apresentam vestidos de soldadinhos de chumbo, e com instrumentos de brinquedo. São concertos em escolas públicas que atingem um público de 6 mil crianças”, calcula o maestro. Há, ainda, duas apresentações da Orquestra Jovem Theatro São Pedro, projeto de inclusão criado em 2021 de que participam 120 crianças e adolescentes de turmas de musicalização de instrumentos de cordas e percussão.

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Orquestra do Theatro São Pedro
Dia 10, Theatro São Pedro, Porto Alegre