Acervo CONCERTO: A vida de Carl Nielsen

por Redação CONCERTO 02/09/2019

Texto de Camila Fresca na Revista CONCERTO de junho de 2015

Ainda que fosse pintor de profissão, o pai de Carl Nielsen dedicou boa parte de seu tempo a atividades secundárias, como tocar violino, atendendo a demandas de sua comunidade. Foi dessa forma que o jovem Carl recebeu sua primeira instrução musical, iniciando-se no instrumento aos 6 anos de idade. Nascido no dia 9 de junho de 1865 na ilha de Fyn, ele era o sétimo de doze filhos de uma família pobre e, aos 14 anos, foi contratado para tocar em uma banda militar em Odense. Em 1883, durante uma visita a Copenhage, foi apresentado ao compositor Niels Gade, então diretor do Conservatório Real, que sugeriu ao jovem músico estudar na escola. Aos 19 anos, Nielsen iniciou um período (1884-1886) de estudos na instituição, onde cursou violino e teoria musical, mas nunca composição. Em 1888, no entanto, estreou com sucesso sua Suíte para cordas, que recebeu a numeração de opus 1

Os progressos instrumentais de Carl Nielsen permitiram que, em 1889, ele fosse contratado para a estante dos segundos violinos da Orquestra Real Dinamarquesa, grupo oficial do Teatro Real, em Copenhage. Foi como violinista que ele conheceu as óperas Falstaff e Otelo, de Verdi, em suas estreias dinamarquesas. Nielsen permaneceu como músico do teatro por 15 anos e, nesse meio-tempo, recebeu uma bolsa de estudos permitiu que ele viajasse pela Europa. Em Paris, em 1891, conheceu a escultora dinamarquesa Anne Marie Brodersen, com quem se casou em Florença, em maio do mesmo ano, antes de retornarem à Dinamarca. 

Durante a década de 1890, Nielsen compôs prolificamente, e boa parte de sua produção passou a ser editada. Mas ele não ganhava o suficiente para viver como compositor, tanto que, em 1894, tocou nos segundos violinos na estreia de sua Sinfonia nº 1 pela Orquestra Real. Apresentada em Berlim em 1896, a obra foi um grande sucesso, contribuindo significativamente para a reputação do artista. Mas Nielsen só abandonaria o posto de violinista em 1905, quando se tornou segundo maestro do grupo, cargo em que se manteve até 1914.

A partir de 1916, passou a dar aulas na Academia Real de Música da Dinamarca. Essa atuação, somada às aulas particulares que deu no início da carreira, fez com que ele exercesse considerável influência no cenário clássico de seu país, orientando importantes nomes de gerações posteriores de músicos. Em 1931, ele se tornou diretor da instituição, mas morreu pouco depois, em decorrência de um ataque cardíaco. 

As primeiras obras de Nielsen são marcadas pela influência do Romantismo, especialmente de autores como Brahms e Grieg. Mais tarde, seu estilo evoluiria para uma música que, sem deixar de ser conservadora num sentido mais amplo, fundiu elementos diversos, como o cromatismo, a harmonia dissonante, o contraponto solidamente construído, o tratamento motívico concentrado e as extensões ousadas de tonalidade com passagens politonais.

Carl Nielsen vivenciou o período dos nacionalismos europeus do final do século XIX e não esteve imune à corrente. Parte expressiva de sua produção são as canções baseadas em tradições populares dinamarquesas, que com o passar do tempo ganharam importância na educação e na cultura do país, o que colaborou para que ele se tornasse uma espécie de “compositor oficial” – muitas de suas peças corais viraram patrimônio nacional. 

Embora essa vertente nacionalista seja bastante valorizada em seu país, seu grande legado para a música clássica são as seis sinfonias, escritas entre 1890 e 1925 – tal como o colega Sibelius, Nielsen demonstrou o melhor de sua arte na forma sinfônica. As mais conhecidas são as de número 2 (escrita em 1902 e também conhecida como “Os quatro temperamentos”), 3 (de 1911, “Sinfonia expansiva”) e 4 (escrita em 1916 e subintitulada “A inextinguível”). A música de Nielsen é altamente individual, tanto no conteúdo quanto na construção. Entre suas obras mais importantes ainda estão três concertos, para violino (1911), flauta (1926) e clarinete (1928); as óperas Saul e David (1902) e Maskarade (1906); quatro quartetos de cordas; sonatas para violino e piano; peças corais; e o Quinteto de sopros, considerado uma obra-prima e repertório obrigatório para essa formação. 

A obra de Nielsen fora da Dinamarca era quase desconhecida até o final da Segunda Guerra Mundial. Um grande passo para o reconhecimento internacional do compositor foi dado em 1962, quando Leonard Bernstein gravou a Sinfonia nº 5 com a Filarmônica de Nova York. O centenário de Nielsen, em 1965, foi outro momento de importante divulgação de suas peças. Por algum tempo, o interesse internacional foi amplamente direcionado para suas sinfonias, enquanto outros trabalhos, muitos deles bem populares na Dinamarca, só recentemente começaram a se tornar parte do repertório mundial. 

Nesse sentido, o sesquicentenário do compositor com certeza colaborará para ampliar o conhecimento sobre sua produção. Sobretudo porque a Dinamarca aproveita a efeméride e coloca à disposição de interessados de todo o mundo um material completo e bem-feito, que pode nutrir curiosos, admiradores, orquestras e programadores em geral com todo o tipo de informação e também com as partituras. Entre as iniciativas mais relevantes estão um site dedicado aos 150 anos e The Carl Nielsen Edition, uma revisão crítica de toda a obra do compositor em 32 volumes de partituras precedidas de textos explicativos, que podem ser baixados gratuitamente

Carl Nielsen [Reprodução]
Carl Nielsen [Reprodução]

Linha do tempo

1865
Nasce no dia 9 de junho em Fyn, ilha próxima à cidade de Odense

1879
Inicia sua atuação profissional em uma banda militar em Odense

1884
Entra para o Conservatório Real de Copenhagen 

1888
Estreia com sucesso a Suíte para cordas, sua primeira obra

1889
Passa a atuar como violinista da Orquestra Real Dinamarquesa

1891
Casa-se com a escultora dinamarquesa Anne Marie Brodersen

1894
Sua Sinfonia nº 1 é estreada pela Orquestra Real da Dinamarca

1906
Compõe a ópera Masquerade

1916
Passa a dar aulas na Academia Real de Música da Dinamarca 

1925
Finaliza sua Sinfonia nº 6

1931
Morre no dia 3 de outubro, em decorrência de um ataque cardíaco

Curtir