Não é exagero dizer que uma peça de Lorenzo Fernandez está entre as mais conhecidas do público brasileiro: seu Batuque, da suíte Reisado do Pastoreio, é favorito entre orquestras e já foi gravado diversas vezes ao longo das décadas. Mas também não deve soar despropositado afirmar que, ainda assim, conhecemos muito pouco da obra do autor, que deixou um legado sinfônico e camerístico que precisa urgentemente ser resgatado, pela importância que tem no contexto da música brasileira.
Um passo importante nesse sentido acaba de ser dado pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e seu diretor Fabio Mechetti: pela coleção Música do Brasil, do selo Naxos, eles estão lançando uma gravação das Sinfonias nº 1 e nº 2 do compositor.
“A Sinfonia nº 1 foi escrita em 1945 e é representativa da terceira fase do compositor, quando ele abandona uma linguagem explicitamente nacionalista. Entretanto, um ouvinte mais atento pode perceber reminiscências inconscientes de sua brasilidade. No ano de sua estreia, o Brasil saía de um longo período político centralizado, o Estado Novo. Além disso, era o começo do pós-guerra. O compositor procura, assim, novos ares”, escreve o compositor Ricardo Tacuchian em texto no encarte do álbum.
“Podemos apontar, também, uma tênue influência de Béla Bartók, compositor que morreria no mesmo ano da Sinfonia nº 1. Assim, sem perder seu perfil telúrico, Lorenzo Fernandez passa a ter uma linguagem mais universalista, embora com um eventual e sublimado caráter nacional.”
Já a Sinfonia nº 2 foi inspirada na epopeia do sertanista brasileiro do século XVII Fernão Dias Paes Leme (1608-1681). “Lorenzo Fernandez usou o argumento de O caçador de esmeraldas, de Olavo Bilac, aproximando-o à estrutura de uma sinfonia em quatro movimentos. Não se trata, portanto, de um poema sinfônico, mas de uma sinfonia programática. Nos quatro movimentos da obra o compositor cria as atmosferas de esperança, heroísmo, luta, descoberta, delírio e morte”, anota Tacuchian.
O álbum traz ainda a suíte Reisado do Pastoreio, em que o compositor explora elementos afro-brasileiros. Trata-se de uma suíte sinfônica, em três movimentos, estreada no Rio de Janeiro, sob a regência de Francisco Braga.
[O disco está disponível na Loja Clássicos; clique aqui]
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