Concertos apresentam a música clássica para as crianças

por Luciana Medeiros 09/10/2019

Chico Buarque, Harold Arlen e Yip Harburg, Clóvis Pereira, Ariano Suassuna, Jaceguay, Mozart, Donizetti...  A programação das orquestras e eventos da música clássica dirigidos ao público infantil do Rio de Janeiro nesse mês de outubro não deixa de surpreender pela variedade: a Petrobras Sinfônica faz dois eventos; Lício Bruno traz do Espírito Santo um musical animal; a Ação Social pela Música no Brasil apresenta a versão armorial de uma fábula infantil – a mesma que a OSB mostrou no início do mês. A diversidade de programas converge para a ideia de reforçar o acesso de jovens ao universo sinfônico.

Um dos entusiastas da educação musical é o compositor Marcos Souza, que acaba de assumir a gerência de projetos da Orquestra Petrobras Sinfônica (Opes) depois de passar pela direção de música da Funarte por quase três anos – e, antes disso, militando nas orquestras de Ouro Preto e na Filarmônica de Minas de Gerais. Ainda no órgão federal, ele promoveu em 2017 a Bienal de Música e Cidadania, reunindo mais de cem projetos sócio musicais para troca de informações. 

“O Brasil é um país de destaque nessa área social da música”, garante ele. “Vejo um panorama de incrível sucesso, com grandes projetos como o Neojiba e Heliópolis ao lado de iniciativas mais localizadas. Cheguei à Opes nesse momento em que se faz programação mais intensa para as crianças. Música proporciona aprendizado lúdico para muitas linguagens, a matemática, história, idiomas. E na primeira infância a criança absorve tudo com velocidade e sem preconceitos. É essencial essa formação.”

Um dos eventos da Opes esse mês é um bis: os Saltimbancos sinfônicos, dia 12 de outubro na Cidade das Artes, na Barra. O segundo, uma estreia, O Mágico de Oz , que acontece de 27 a 30 de outubro no Teatro Riachuelo, com a trilha original de Arlen & Harburg para o filme de 1939, com Judy Garland e, claro, sucessos como Over the Rainbow. Felipe Prazeres, que rege a orquestra nos dois concertos, celebra a continuidade da proposta. 

“Estamos cada vez mais soltos, mais interativos com a plateia”, conta o regente. “E O Mágico de Oz é uma estreia já com alguma encenação, diálogos, tudo muito divertido e tranquilo para apresentar a orquestra e essa trilha fabulosa a uma nova geração, com o mesmo elenco dos Saltimbancos: Juliana Franco e Marcelo Coutinho.”

Também na tarde do sábado, dia 12, a Orquestra Sinfônica Jovem do Rio de Janeiro, grupo ligado à ONG Ação Social pela Música, enche a Sala Cecília Meireles do som armorial da fábula de Ariano Suassuna  A onça, os guinés e os cachorros, musicada pelo pernambucano Clóvis Pereira. Tobias Volkmann, o regente convidado, vê a peça como “uma espécie de Pedro e o Lobo do Nordeste”.  José Mauricio Bustani se junta ao grupo para completar a tarde tocando o Concerto para piano nº 21 de Mozart.

“A peça do Clóvis é uma típica contação de histórias, com a força do movimento armorial”, aponta Volkmann. “Para quem não sabe, guinés são galinhas d’angola. É sedutor, uma delícia, e feito pela orquestra da ONG ganha ainda mais cores jovens.”

Já no domingo, dia 13 de outubro, o Coletivo das Artes, companhia lírica capitaneada pelo barítono Lício Bruno e pela mezzo soprano Adalgisa Rosa, sediada em Vila Velha (ES), leva à Sala Cecília Meireles o programa duplo formado pela ópera-recreio O reino de duas cabeças, de Jaceguay Lins (1947-2004) e a criação de Adalgisa, A galinha lírica, com trilha de peças de Mozart, Donizetti e Rossini, entre outros compositores, uma espécie de vaudeville no galinheiro. 

“São duas peças curtas e divertidas”, explica Bruno, de Rosário, na Argentina, onde está cantando o papel-título de Mefistófele, de Arrigo Boito. “Jaceguay foi um importante compositor da música capixaba e exibe ali muito da cultura popular; e a Galinha mostra à criançada os papeis e vozes das óperas.”

Ponto comum a todos os entrevistados desta reportagem é a certeza de que só o acesso aos concertos faz um novo caminho da música – parece óbvio, mas nunca é demais reforçar que a música de qualidade abre portas da sensibilidade e da inteligência. 

Cena do espetáculo ‘O reino de duas cabeças’, de Jaceguay Lins, atração na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro [Divulgação]
Cena do espetáculo O reino de duas cabeças, de Jaceguay Lins, atração na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro [Divulgação]

Outras cidades

A programação para as crianças também está presente em outras cidades do país. Em Salvador, a Orquestra Sinfônica da Bahia apresenta no dia 10, na Caixa Cultural, o espetáculo O sítio da amizade, de J. Salgueiro (antes, as crianças podem participar de oficinas com os instrumentos da orquestra). E, no dia 13, no Teatro Guaíra, Cinthia Aliretti rege a Orquestra Sinfônica do Paraná no programa A varinha mágica da maestrina. Em São Paulo, três destaques. Até o dia 13, o Theatro Municipal de São Paulo realiza diariamente apresentações com seus corpos estáveis destinadas ao público infantil – no dia 12, por exemplo, Jamil Maluf comanda o Ópera Studio no espetáculo O que é o que é o que é. Também no dia 12, o Theatro São Pedro recebe o público para programação especial para as crianças no hall de entrada. E, no dia 13, a Orquestra Sinfônica da USP faz na Sala São Paulo o Dominó sinfônico, de Carlos Moreno e Lucia Sartorelli.

Clique no espetáculo para ver mais informações no Roteiro do Site CONCERTO

Rio de Janeiro:
Os saltimbancos sinfônicos
A onça, os guinés e os cachorros
O reino de duas cabeças
e A galinha lírica
O Mágico de Oz

São Paulo:
Crianças no Theatro Municipal de São Paulo
Música para crianças no Theatro São Pedro
Dominó sinfônico

Curitiba:
A varinha mágica da maestrina

Salvador:
O sítio da amizade

 

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