Apesar do fracasso da Sinfonia nº 1, Rachmaninov seria celebrado pela Sinfonia nº 2, que será apresentada neste final de semana pela Osesp e pela Orquestra Sinfônica do Paraná
É a história de um grande fracasso. Em março de 1897, a Sinfonia nº 1 de Rachmaninov subiu ao palco para receber duras críticas. Relatos dão conta de que o maestro, Glazunov, estava bêbado durante o concerto, o que de certo não ajudou. Seja como for, Cesar Cui parece ter sintetizado a visão comum ao escrever que a sinfonia “era a tentativa de um estudante de retratar em música as sete pragas do Egito”.
As palavras mexeram com Rachmaninov, que cogitou abandonar a composição e passou por um tratamento conduzido pelo doutor Nikolai Dahl, psiquiatra que trabalhava com a hipnose. Recuperado, o músico não apenas voltou a compor como escreveu aquela que seria sua obra mais célebre, o Concerto para piano nº 2. E embarcou no projeto de uma nova sinfonia. Estreada em 1908, a obra foi enorme sucesso.
É justamente a Sinfonia nº 2 que a Osesp e a Orquestra Sinfônica do Paraná apresentam neste final de semana, celebrando os 150 anos do compositor. Na Sala São Paulo, as apresentações acontecem nos dias 16, 17 e 18, com regência do maestro Louis Langrée; no Teatro Guaíra, Roberto Tibiriçá comanda a apresentação do dia 19, que tem também o Concerto nº 2 com a participação do solista Cristian Budu.
Ainda que Rachmaninov não tenha se furtado de voltar ao formato da sinfonia após o fracasso da nº 1, isso não quer dizer que o processo de composição tenha sido tranquilo. A certa altura, ele escreveria em uma carta: “Aos diabos com todos! Eu não sei escrever sinfonias e, aliás, não tenho nenhuma vontade real de fazê-lo!”.
Sina Mohammadi propõe uma explicação para tanto. “As obras de Rachmaninov continham um pedaço de seu ser. Se elas eram criticadas, ele sentia que o âmago de seu ser era abalado. As peças de Rachmaninov não eram peças autônomas de composição. Elas sempre dependeram de algum elemento da vida de Rachmaninov. Por exemplo, a estreita associação da primeira sinfonia com os sinos da igreja de Novgorod foi um elo significativo. O fracasso da estreia da primeira sinfonia conseguiu manchar uma parte de seu passado. E ele levou algum tempo para limpar essa mácula.”
“Quaisquer que fossem os sentimentos conflitantes de Rachmaninov sobre escrever sinfonias, não há nada ambíguo sobre o conteúdo de sua segunda sinfonia”, diz o crítico Jonathan Blumhofer. “Do começo ao fim, é uma maravilha de frescor melódico e instrumentação brilhante. Quer a peça cumpra ou não uma das definições de música do compositor como representação do Amor, certamente confirma sua visão de que a arte é a irmã da poesia e sua mãe é a tristeza.”
Blumhofer afirma que “seu primeiro movimento grande e taciturno começa nas profundezas, exatamente onde a Sinfonia Patética de Tchaikovsky parou quinze anos antes”. “O segundo é um Scherzo diabólico cujos ecos do cantochão medieval Dies irae se tornariam uma das marcas registradas de Rachmaninov, enquanto o Adagio figura entre os ensaios mais radiantes do cânone sinfônico ocidental. No final, figuras barulhentas e dançantes se alternam com linhas melódicas crescentes e qualquer indício de escuridão é banido de forma decisiva.”
Veja mais detalhes sobre as apresentações da Osesp no Roteiro do Site CONCERTO
Veja mais detalhes sobre a apresentação da Orquestra Sinfônica do Paraná no Roteiro do Site CONCERTO
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